Projeto “De Olho nas Urnas” divulga dados sobre violência política e eleições municipais no 4º Encontro do ONMP
Elio Rizzo/Câmara dos Deputados
Simpósio - Diálogos entre o Observatório Nacional de Mulheres na Política e o projeto De Olho nas Urnas. Reitora da UFGO, Angelita Pereira de Lima; Dep. Yandra Moura (UNIÃO - SE) e Dep. Gisela Simona (UNIÃO - MT)
A violência política de gênero é uma realidade tão preponderante no Brasil que é espontaneamente mencionada por mulheres eleitas ou candidatas ao falarem em entrevistas sobre as suas trajetórias. A observação foi feita pela pesquisadora Najla Franco Frattari durante o 4º Encontro do Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP) - Simpósio “De Olho nas Urnas”, realizado no Auditório Nereu Ramos nesta quarta-feira, 19 de junho.
No primeiro painel do evento, que discutiu as trajetórias e violências sofridas pelas mulheres que resolvem ingressar na política, Frattari, que é professora do Instituto Federal de Goiás e Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), destacou que o machismo, o trabalho reprodutivo e a violência política são os principais obstáculos à participação política das mulheres brasileiras. O lugar social destinado às mulheres, a dificuldade de conciliar vida privada e vida pública e as constantes menções à aparência física das políticas são razões que levam ao adoecimento.
A quarta edição dos Encontros do ONMP - Simpósio “De Olho nas Urnas” discutiu diversos assuntos relativos às candidaturas femininas, tendo como cenário as eleições de 2020 e as projeções para o pleito de 2024. O evento foi organizado para a apresentação dos primeiros resultados do projeto de mesmo nome coordenado por Angelita Pereira de Lima, da Universidade Federal de Goiás (UFG). A pesquisa está sendo realizada por uma equipe multidisciplinar composta por pesquisadores de várias instituições, em parceria com o ONMP. O financiamento do projeto foi obtido por meio de uma emenda da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, a partir do trabalho de articulação do Observatório.
Propósitos e obstáculos
A partir de entrevistas em profundidade com 80 mulheres de todas as regiões brasileiras, 42 delas eleitas aos cargos de vereadora e prefeita em 2020 e 38 que foram candidatas, a pesquisa destrincha o perfil, os propósitos políticos e os obstáculos encontrados por elas em suas trajetórias. Os constantes questionamentos à competência e à aparência física são outros fatores mencionados que dificultam a atuação política das brasileiras.
Para a deputada Yandra Moura (União-SE), coordenadora-geral do ONMP, o didatismo da pesquisa “De Olho nas Urnas” é algo necessário nos estudos para que eles possam ser usados com mais propriedade pela sociedade. “As pesquisas fornecem dados para que possamos saber se estamos trabalhando bem aqui nesta Casa de Leis, se nossas iniciativas para inclusão das mulheres na política estão surtindo efeito”, afirmou.
A deputada Gisela Simona (União-MT), por sua vez, reforçou a importância de pesquisas para que as mulheres que ingressam na política possam estar melhor preparadas e passem a atuar com mais excelência. Assim como ela, a deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) também destacou a importância de estudos que monitorem a situação das mulheres na política, para que haja subsídios para a atuação parlamentar.
Ao comentar a situação do estado do Rio de Janeiro, que ocupa o último lugar no ranking de igualdade entre homens e mulheres com chances de eleição segundo os dados de 2020 compilados pelos pesquisadores Lara Ramos Maciel e Pedro Luiz Soares, Laura Carneiro se disse preocupada. Porém, destacou que os dados são essenciais para o desenho de um arcabouço jurídico que garanta que as mulheres possam entrar e permanecer na política. “Precisamos disseminar a visão de que nós, mulheres, somos as mais capacitadas para compreender as nossas próprias demandas”, ressaltou.
Narrativas midiáticas
Além das entrevistas em profundidade e da sistematização dos dados da Justiça Eleitoral sobre as eleições de 2020, a pesquisadora Roberta Viegas também compartilhou dados sobre a violência política de gênero durante o pleito municipal. O grupo monitorou os 12 sites de notícias com mais acessos no país e localizou 121 incidentes de violência política de gênero que foram noticiados em 2020.
O levantamento indicou que a maioria dos casos (69%) foi de violência psicológica e/ou simbólica, envolvendo desqualificação e questionamentos sobre a competência das mulheres. A violência econômica, como a falta de repasse dos recursos partidários, atingiu 13% dos casos e outros 10% dos incidentes envolveram violência física, que se agravou no último mês antes do pleito.
Mais informações sobre a pesquisa podem ser encontradas no site do projeto.
Encontros do ONMP
O Simpósio De Olho nas Urnas foi o quarto de uma série de eventos que o Observatório está organizando para reunir pesquisadores, especialistas e mulheres que atuam na política e discutir temas que afetarão a participação feminina nas Eleições Municipais de 2024.
Entre os objetivos destes encontros estão: ampliar a conexão da sociedade com os temas de pesquisa abrangidos pelo Observatório; formar redes de mulheres atuantes na política para compartilhamento das dificuldades enfrentadas e apoio mútuo; e apresentar possíveis soluções práticas e legislativas para aperfeiçoar as ações afirmativas existentes.
A gravação do 4º encontro do ONMP está disponível no Youtube da Câmara e todos os vídeos dos demais eventos organizados pelo Observatório, desde a sua criação, estão compilados na página do ONMP.