O Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP) acaba de lançar o "Entre Nós, Candidatas", projeto de acolhimento psicossocial, informação e pesquisa voltado para o enfrentamento à violência política de gênero e raça nas eleições de 2024 com foco na saúde mental das candidatas. 

Quer participar? Preencha aqui o formulário de inscrições. Inscrições até 18 de agosto.

A violência política de gênero é um fenômeno que explica, em parte, a baixa representatividade política de mulheres, funcionando tanto como causa de desistência para aquelas que já atuam politicamente, quanto como razão para aquelas que, mesmo em outras posições de liderança, não se veem participando da atividade política institucional. Apesar da aprovação da Lei 14.192/2021 e da definição penal do crime de violência política, as eleições de 2022 tiveram um alto número de casos denunciados, com agressões cometidas muitas vezes por meio das mídias sociais. 

Com o objetivo de criar um clima eleitoral mais favorável para as mulheres negras, brancas, ribeirinhas, indígenas, cis e trans, pertencentes a ampla gama de identificadores de gênero e vinculações partidárias candidatas às eleições municipais de 2024, o Observatório lança este projeto piloto em parceria com as psicólogas e pesquisadoras Mariana Serafim Xavier Antunes e Daniela Alves  Calaça,  a entidade Mapa do Acolhimento, o projeto De Olho nas Urnas, da Universidade Federal de Goiás (UFG). A iniciativa conta ainda com o apoio da Regional São Paulo da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), do Coletivo Garoa, além de especialistas convidadas. Todas as parcerias e apoios estão sendo oferecidos de forma voluntária e gratuita pelas pessoas e entidades participantes.

Formato

O projeto funcionará por meio de três eixos: um eixo central, de acolhimento psicossocial, e outros dois eixos complementares, de pesquisa e informação. 

O eixo de acolhimento, coordenado pelas psicólogas Daniela Calaça e Mariana Serafim, será composto de um total de seis encontros encontros virtuais com as candidatas inscritas no projeto: quatro no período pré-eleitoral e dois encontros no período pós-eleitoral, com periodicidade quinzenal (veja cronograma completo na tabela abaixo). A proposta do conjunto de encontros é reunir candidatas ao pleito de 2024 para as quais a intervenção psicossocial possa levantar demandas e aspectos do sofrimento decorrente das violências políticas de gênero e raça vivenciadas e refletir sobre estratégias de defesa e enfrentamento.  

*Calendário sujeito a alterações.

A mediação dos encontros será realizada por psicólogas e especialistas em violência política de gênero e tem por objetivo fazer as participantes refletirem e se apropriarem de estratégias psicossociais que tenham reflexos na sua saúde mental, autoestima, segurança e autonomia, além de conhecerem e compartilharem direitos e serviços legais de enfrentamento das violências. 

Segundo as coordenadoras do eixo de acolhimento, os trabalhos de intervenção psicossocial serão realizados buscando contemplar o cuidado em saúde mental de forma integral e sistêmica "por meio de intervenções que estejam articuladas e que compreendam as dimensões psíquicas, sociais, históricas e culturais das participantes, para que elas se posicionem de modo ativo no processo", afirma a psicóloga Daniela Calaça.  As estratégias e ações irão levar em consideração experiências singulares e ressignificações potencializadas pela construção coletiva entre as mulheres candidatas e as especialistas intermediadoras. "Este é um recurso super importante para o exercício de participação, reconhecimento e construção de referenciais que contribuem para seus processos de emancipação e autodeterminação", complementa a psicóloga Mariana Serafim.

O eixo de informação do projeto estará sob a coordenação da entidade Mapa do Acolhimento, organização da sociedade civil que provê serviços de apoio psicológico e jurídico voluntário para mulheres vítimas de violência. Seu trabalho contemplará a produção e disponibilização pública de material sobre os principais tópicos relacionados a violência política de gênero, para que as candidatas e suas redes de apoio consigam identificar os comportamentos dos agressores, entendam os seus impactos e possam acessar as medidas cabíveis. O material também será transformado em pílulas de conteúdo para as redes sociais, com intuito de disseminar informações sobre o tema para o público em geral. 

Já o eixo de pesquisa funcionará sob a coordenação do De Olho nas Urnas, projeto da Universidade Federal de Goiás que está monitorando dados de igualdade de gênero nas eleições municipais deste ano. No "Entre Nós, Candidatas", o De Olho nas Urnas ficará responsável por realizar a coleta e a análise dos dados produzidos ao longo da execução do projeto, a fim de produzir indicadores e análises que promovam o aperfeiçoamento do projeto para futuras edições e, idealmente, apoiem a elaboração de políticas públicas de suporte psicossocial para mulheres em ambientes políticos.

Concepção do projeto

A ideia do projeto surgiu a partir da experiência vivenciada no evento Mulheres na política e saúde mental - O acolhimento psicológico das vítimas de violência política, organizado pelo ONMP em novembro de 2023. Na ocasião, mulheres políticas trouxeram potentes relatos de violências que as atravessaram durante suas trajetórias e suas falas foram comentadas por psicólogas convidadas e pela parlamentar mediadora do evento. Neste contexto, surgiu o desejo de tornar a experiência ali vivenciada uma atividade de caráter continuado, de modo a verificar os benefícios a médio e longo prazo de ações de atenção à saúde mental de mulheres que enfrentam grandes dificuldades para adentrar e permanecer no ambiente político.

A partir deste projeto piloto, busca-se enfrentar o fenômeno da violência política numa abordagem psicossocial, desenhando metodologias de suporte à saúde mental de mulheres que ingressam na política, visando a gradual diminuição da sub-representação feminina nos espaços de poder. Considerando que a violência política de gênero e raça trata-se de uma problemática que está incorporada ao contexto sociopolítico, faz-se necessário que o seu enfrentamento esteja integrado a mobilizações críticas e a práticas  interdisciplinares, como é o caso da iniciativa. 

É candidata nas eleições deste ano e deseja se inscrever no projeto? Clique aqui e preencha o formulário.

Dúvidas? Escreva-nos em secmulher.onmp@camara.leg.br.