Década de 50

MUNDO

Nessa época, intensifica-se a ação das redes de espionagem internacional, destacando-se a CIA, a central de inteligência estadunidense, e a KGB, que acumulava as funções de serviço secreto e de polícia política do governo soviético. Nos EUA, o temor de que o comunismo pudesse infiltrar-se nas suas instituições leva as autoridades, em iniciativa que ficou conhecida como Macartismo, a investigar e perseguir milhares de cidadãos, a maioria dos quais funcionários públicos, sindicalistas, educadores e artistas. Em conseqüência, alguns são presos e muitos perdem seus empregos ou têm a carreira arruinada.

O que também se observa é o acirramento da corrida armamentista com a explosão, em 1952, da primeira bomba H. Em 1955, em resposta à Otan, aliança militar formada seis anos antes pelos países ocidentais sob a liderança dos EUA, as potências do bloco soviético assinam o Pacto de Varsóvia. O pacto estabelece um comando militar unificado e a manutenção de tropas soviéticas nos Estados-membros. Outro acontecimento marcante é o lançamento pela União Soviética do Sputnik, o primeiro satélite artificial da Terra. Ocorrido a 4 de outubro de 1957, o lançamento dá início a um novo tipo de disputa entre as superpotências: a corrida espacial.

Inconformados com a divisão do mundo em dois blocos conflitantes, dirigentes de 29 nações asiáticas e africanas, quase todas ex-colônias, se reúnem na Indonésia em 1955 com o objetivo de encontrar um caminho independente no campo das relações internacionais que lhes permitisse não se envolver no confronto Leste-Oeste. O encontro marca o início do Movimento dos Países Não-Alinhados, o qual se estabeleceria oficialmente na I Conferência dos Chefes de Estado e de Governo Não-Alinhados, realizada em Belgrado, na antiga Iugoslávia, em setembro de 1961, com a participação de delegações de 25 países (depois, o movimento cresceria com a adesão de dezenas de outros países, em geral nações em desenvolvimento submetidas ao neocolonialismo).

Na Europa, que deixara de ser o centro hegemônico do mundo, o momento é de reconstrução, com os países do oeste recuperando suas economias espetacularmente e ao mesmo tempo adotando o modelo do Estado de Bem-Estar Social. No leste, tropas soviéticas marcham sobre as primeiras rebeliões populares contra Moscou (Alemanha Oriental, 1953, Hungria, 1956), abortando-as. Em 1957, é assinado o Tratado de Roma, iniciando-se o processo de construção do que é hoje a União Européia.

Na África, o colonialismo europeu começa a entrar em declínio. A Líbia se emancipa em 1951; o Quênia se insurge pela primeira vez em 1952; a Argélia começa sua guerra de independência em 1954; o então Congo Belga inicia seu movimento nacionalista; o Sudão, a Tunísia e o Marrocos tornam-se independentes em 1956, Gana em 1957 e Guiné em 1958. A seu turno, o Egito nacionaliza o Canal de Suez em 1956, o que desencadeia um conflito militar – Guerra de Suez – envolvendo as forças britânicas, francesas, israelenses e egípcias. Por pressão da comunidade internacional, a guerra é interrompida e uma força de paz da ONU é enviada à região.

Na Ásia, um Japão ocupado pelos EUA se reconstrói rapidamente e se encaminha para a democracia e modernização. Em 1950, a China invade o Tibete e o ocupa inteiramente um ano depois. Em 1954, a Batalha de Dien Bien Phu determina o fim do domínio francês sobre a então Indochina, e o Camboja, Laos e Vietnã se tornam independentes. O Vietnã, contudo, é dividido em dois países: Vietnã do Norte, comunista, e Vietnã do Sul, capitalista, tal como fora feito com a Coréia em 1948.

Na América Latina, os governos que se sucedem são ora democráticos, ora não. Em 1953, os EUA intervêm na Guatemala por meio da CIA, abandonando assim a Política da Boa Vizinhança. No Caribe, a Revolução Cubana de 1959 traz à cena a primeira experiência socialista das Américas.

A década do início da era espacial é também a década da descoberta do DNA (1953) e do primeiro transplante de órgão humano (1954), o qual foi de rim. No seu transcorrer, um espírito de otimismo e um novo modo de vida baseado no consumo de bens de uso pessoal e doméstico difundiam-se pelo Ocidente, alavancados pela prosperidade econômica e crescente influência política e cultural dos EUA.

Personagens do mundo

  • Dwight David Eisenhower (1890-1969): Presidente dos EUA entre 1953 e 1961.
  • Nikita Kruschev (1894-1971): Dirigente soviético de 1953 a 1964.
  • Konrad Adenauer (1876-1967): Chanceler (1949-1963) que reconstrói a Alemanha Ocidental como um país livre e democrático.
  • Rainha Elizabeth II (1926-): Subida ao trono britânico em 1952.
  • Josip Broz Tito (1892-1980): Primeiro-ministro (1945-1953) e presidente iugoslavo (1953-1980) responsável por um governo comunista independente da União Soviética.
  • Jawaharlal Nehru (1889-1964): Primeiro-ministro indiano (1947-1964) que inicia a política do não-alinhamento.
  • Gamal Abdel Nasser (1918-1970): Estadista egípcio (1954-1970) e um dos líderes do Movimento dos Não-Alinhados.
  • Sukarno (1901-1970): Presidente da Indonésia (1945-1967) e um dos líderes do Movimento Não-Alinhado.
  • Dalai-Lama Tenzin Gyatso (1935-): Fuga para a Índia após governar o Tibete por 19 anos (1940-1959) como o seu líder temporal e espiritual.
  • Fidel Castro (1926-): Líder da Revolução Cubana e ditador de Cuba de 1959 a 2008.
  • Jean-Paul Sartre (1905-1980): Influente pensador e ativista do Existencialismo, filosofia que proclama a total liberdade do ser humano.
  • James Dean (1931-1955): Símbolo de rebeldia e ídolo da juventude numa época de moral rígida e costumes conservadores.
  • Frank Sinatra (1915-1998): Um dos maiores intérpretes da música no século 20 e o primeiro astro pop moderno.
  • Elvis Presley (1935-1977): Ícone da cultura popular mundial e um dos pais do rock and roll na década de 50.

 

BRASIL

Política interna

Nas eleições presidenciais de outubro de 1950, com o apoio do Partido Social Progressista (PSP) e de setores dissidentes do Partido Social Democrático (PSD), Getúlio Vargas concorre pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e se elege com 48,7% dos votos, derrotando Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional (UDN). Seu novo governo, que se inicia em 31 de janeiro de 1951, é marcado pela mesma orientação nacionalista e populista do anterior (1930-1945), com o Estado exercendo papel central na economia e se apoiando nas classes populares. Vargas controla a economia, promove a indústria nacional, restringe a entrada e saída do capital estrangeiro e aumenta o salário mínimo substantivamente. Em dezembro de 1951, envia ao Congresso projeto estabelecendo o monopólio estatal do petróleo e criando a Petrobras; a proposta acirra a polêmica e então já longa campanha popular "O petróleo é nosso" e enseja uma batalha parlamentar de 23 meses, até finalmente ser aprovada. Em junho de 1953, nomeia João Goulart ministro do Trabalho, e este adota uma política de alianças com as lideranças sindicais em apoio ao governo.

Ao longo de sua gestão, Vargas depara com a resistência de grupos ligados ao capital internacional e é duramente combatido pela UDN e pela imprensa, em especial pelo jornalista Carlos Lacerda. Esses últimos, além de fazerem seguidas denúncias de casos de corrupção na administração federal, acusam-no de tramar um golpe visando implantar no País uma república sindicalista. Os embates vão se acalorando até que, em 5 de agosto de 1954, um atentado a tiros contra Lacerda fere-o no pé e tira a vida do major da Aeronáutica que o acompanhava dando-lhe proteção. Com a descoberta de que o mandante do crime é o chefe da guarda pessoal do presidente, inicia-se uma aguda crise político-militar em que se exigia a sua renúncia. Pressentindo que seria deposto, Vargas se suicida na madrugada do dia 24.

O vice-presidente Café Filho assume o poder nesse mesmo dia e, por não ter o PSP, seu partido, força suficiente no Congresso para dar-lhe sustentação, forma um governo preponderantemente udenista. No ano seguinte, as eleições de outubro dão a vitória a Juscelino Kubitschek (PSD), candidato da coligação PSD-PTB, que obtém apertados 33,82% dos votos, contra 30% do segundo colocado, o candidato udenista Juarez Távora. O vice-presidente eleito é João Goulart (PTB). Em 3 de novembro de 1955, Café Filho adoece e é substituído por Carlos Luz (PSD), presidente da Câmara dos Deputados. Ocorre então um contragolpe. Desconfiado de que o presidente interino estaria envolvido numa conspiração para impedir a posse dos eleitos, os quais supostamente seriam a continuação de Vargas, o ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, resolve dar um golpe preventivo em nome da legalidade e depõe Carlos Luz no dia 11 de novembro. O Congresso Nacional declara Carlos Luz e Café Filhos impedidos e empossa na presidência da República o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, terceiro na linha de sucessão. Em 25 de novembro, como a situação política era ainda confusa, Nereu Ramos decreta estado de sítio por 30 dias, prorrogando-o depois por mais um mês.

Empossado em 31 de janeiro de 1956, Juscelino é o único presidente civil durante o período democrático de 1946 a 1964 que consegue cumprir integralmente o mandato previsto na Constituição, concluindo-o em 31 de janeiro de 1961. Proposto no início da gestão para dar conseqüência ao lema "50 anos em 5", o seu Plano de Metas garante-lhe o apoio da maioria do Congresso e das Forças Armadas e faz do seu governo um período de acelerado desenvolvimento econômico com plena liberdade política. Priorizando cinco setores da economia, o plano compunha-se de 30 metas, além da meta-síntese que era a construção de uma nova capital federal no centro do País. Metas que, mesmo sendo audaciosas por pretender-se realizar em cinco anos o equivalente a 50 anos de desenvolvimento, vão em sua maioria alcançando resultados considerados positivos. Ainda assim, JK defronta-se com duas rebeliões militares, a primeira já em fevereiro de 1956 (Revolta de Jacareacanga, no Pará) e a segunda em dezembro de 1959 (Revolta de Aragarças, em Goiás), ambas protagonizadas por oficiais da Aeronáutica que queriam dar um golpe. Estadista hábil, pragmático e empreendedor, JK responde aos conflitos e desafios conciliando, cooptando, tocando inúmeras obras e irradiando otimismo.

Economia

Plano Salte no governo Dutra (1946-1951), Plano Lafer com Vargas, Plano de Metas de JK, todos priorizando os setores de transporte e energia (os dois últimos planos também a indústria de base) como molas indutoras do desenvolvimento econômico. Como se pode ver, não faltou planejamento estatal para que os anos 50 fossem de grande progresso, como de fato foram. No governo Vargas, a opção é por um crescimento autônomo e de cunho estatizante, ou seja, dando-se primazia ao capital nacional e com o Estado investindo nos setores estratégicos para a industrialização e modernização do País. Com esse objetivo, Vargas cria agências estatais como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, hoje BNDES) e a Petrobras e promove a construção de indústrias de base como a hidrelétrica de Paulo Afonso, no rio São Francisco, e a Refinaria Artur Bernardes, em Cubatão (SP).

Igualmente empenhado na superação das deficiências de infra-estrutura que entravavam o desenvolvimento, JK põe em marcha uma quantidade de obras nunca antes vista. São abertos 20 mil quilômetros de estradas, fundados estaleiros, iniciadas as obras de novas usinas hidrelétricas (Furnas, Três Marias), construídos armazéns e silos, indústrias de mecânica pesada, de cimento, etc. O crescimento das indústrias de base, fundamentais ao processo de industrialização, é de praticamente 100% durante o seu governo. Mas ainda mais espetacular é a expansão da indústria de bens de consumo duráveis. Abrindo a economia para o capital estrangeiro, JK atrai o investimento de grandes empresas multinacionais, como por exemplo as montadoras de automóveis Ford, Volkswagen, Willys e General Motors, que aqui se instalam. E, não sem recorrer a empréstimos externos e constantes emissões de papel-moeda, constrói Brasília, obra que vem consolidar a integração territorial do Brasil e interiorizar o desenvolvimento.

Como resultado da intensa industrialização, o centro de gravidade da economia se desloca do setor agrário para o setor industrial. Porém, a partir do final da década surgem com o modelo econômico adotado por JK dois fantasmas que estorvariam a economia brasileira por anos a fio: dívida externa e inflação altas.

Política externa

Durante a década, as relações internacionais brasileiras mantêm-se ideologicamente alinhadas com o capitalismo liderado pelos EUA. Não obstante, não impedem o presidente Vargas de adotar uma política econômica francamente nacionalista, limitar a remessa de lucros das empresas estrangeiras para suas matrizes e recusar-se a enviar tropas para a Guerra da Coréia. Fatos como esses levam os EUA, em represália, a cancelar empréstimos e provocar a queda do preço do café, então o principal item da pauta brasileira de exportações. Por outro lado, a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico, ativa entre 1951 e 1953, não só faz um diagnóstico dos entraves ao mesmo, como propõe medidas que são adotadas com sucesso pelos governantes brasileiros dos anos 50.

Pondo de lado o nacionalismo econômico de seu antecessor, Juscelino se volta para uma política de cooperação internacional na busca de financiamentos e investimentos externos com que realizar o Plano de Metas. Assim, em agosto de 1958, leva o Brasil a assinar seu primeiro acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas menos de um ano depois, em 17 de junho de 1959, rompe com a instituição por entender que as exigências impostas para concessão de empréstimos poderiam inviabilizar a construção de Brasília e a execução do Plano de Metas. Entre 1956 e 1960, tropas militares brasileiras se fazem presentes no Canal de Suez, na primeira participação do País em operações internacionais de paz. Em 1958, o governo JK propõe aos EUA a Operação Pan-Americana (OPA), programa de desenvolvimento econômico e de redução da miséria nas Américas cuja intenção oculta era evitar o avanço do comunismo na América Latina. A proposta resultaria na criação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 1959, e da Aliança para o Progresso, em 1961.

População

Em nenhuma outra década do século 20, a população brasileira cresceu tanto quanto no período 1950-1960: um crescimento em torno de 35%, com o número de pessoas saltando de 52 para 70 milhões. Tal como na década de 40, a população urbana cresceu bem mais que a rural (59% contra 13%), passando de 36% para 44% do total, aumento esse explicado em grande parte pela atração exercida pela crescente industrialização das capitais do Sul e Sudeste, causando um forte êxodo rural. Para se ter uma idéia, somente a cidade de São Paulo ganha 1,6 milhão de novos habitantes, que aumentam de 2,2 para 3,8 milhões, enquanto o Rio de Janeiro, perdendo o título de maior cidade do País, passa de 2,4 milhões para 3,3.

Personagens do Brasil

  • Jânio Quadros (1917-1992): De vereador em 1950 a presidente da República eleito em 1960, passando pelos cargos de deputado estadual, prefeito, governador e deputado federal.
  • Celso Furtado (1920-2004): Participação na criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959.
  • Assis Chateaubriand (1891-1968): Responsável pela introdução da televisão no Brasil em 1950. 
  • Francisco Matarazzo Sobrinho (1892-1977): Empresário que cria em 1951 a Bienal Internacional de Artes de São Paulo. 
  • Anísio Teixeira (1900-1971): Criação em 1955 do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. 
  • Lúcio Costa (1902-1998): Pioneiro da arquitetura modernista no Brasil e autor em 1957 do projeto do Plano Piloto de Brasília. 
  • Oscar Niemeyer (1907-): Pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado e arquiteto dos prédios de Brasília. 
  • Tom Jobim (1927-1994): Um dos principais compositores da música brasileira. 
  • João Gilberto (1931-): Lançamento em 1958 do disco inaugural da Bossa Nova. 
  • Guimarães Rosa (1908-1967): Lançamento de Grande sertão: veredas em 1956. 
  • Cândido Portinari (1903-1962): Inauguração em 1956 dos seus painéis na sede da ONU, em Nova York. 
  • Paulo Gracindo (1911-1995): Ator em O direito de nascer, radionovela que em 1951 dá início à mania brasileira de mudar os horários em função das novelas. 
  • Pelé (1940-): Considerado "Rei do Futebol" aos 17 anos na Copa da Suécia (1958), a primeira que o Brasil conquistou. 
  • Maria Esther Bueno (1939-): Primeira sul-americana a vencer o torneio de tênis de Wimbledon, na Inglaterra, em 1959. 
  • Ademar Ferreira da Silva (1927-2001): Primeiro bicampeão olímpico do País, com medalhas de ouro no salto triplo em Helsinque (1952) e Melbourne (1956).