Observatório Parlamentar apresenta relatórios sobre cumprimento de recomendações de direitos humanos
A Revisão Periódica Universal de Direitos Humanos (RPU) avalia, a cada quatro anos, a situação dos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, é o Observatório Parlamentar da Revisão Periódica Universal, criado em 2019, que acompanha o cumprimento das recomendações recebidas no seu 3º Ciclo de exames.
Parceria entre a Câmara dos Deputados e o Sistema ONU no Brasil, liderado pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) e pelo Alto Comissariado das ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), o Observatório Parlamentar entrega agora 26 relatórios finais e infográficos temáticos. Os documentos foram construídos com subsídios técnicos e após a realização de audiências públicas.
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“A experiência do Observatório Parlamentar da RPU é inovadora justamente porque propicia maior atenção do Poder Legislativo às recomendações feitas pela Revisão Periódica Universal, o que é crucial para que o país encontre respostas adequadas aos seus desafios na promoção da igualdade e na garantia dos direitos humanos”, afirmou Silvia Rucks, coordenadora residente da ONU no Brasil.
Direitos humanos em risco
O relatório do Observatório Parlamentar da RPU aponta que das 25 recomendações relacionadas aos direitos dos povos indígenas recebidas pelo Estado brasileiro, 19 foram consideradas não cumpridas e 6 em retrocesso. O relatório temático sinaliza que a extinção da Secretaria de Mudanças Climáticas e Florestas e o estabelecimento pelo Ministério do Meio Ambiente de que multas ambientais não precisam ser pagas até que sejam revistas em "audiência de conciliação"; a baixa execução orçamentária; a ausência de declaração ou homologação de terras indígenas desde 2019, além da alta mortalidade por Covid-19, 150% maior que a média nacional, estão entre os elementos apontados como retrocessos na promoção dos direitos humanos dos povos indígenas.
Em relação à segurança pública, o Brasil recebeu 16 recomendações. A avaliação do Observatório da RPU considerou que, destas, 14 não foram cumpridas e 2 estavam em retrocesso. A iniciativa destaca que, apesar dos avanços percebidos do ponto de vista legislativo, não há estratégias ou medidas abrangentes específicas do governo federal voltadas à redução de mortes violentas intencionais. Aponta também que o armamento em poder de civis aumentou cerca de 65% e que, no final de 2021, havia cerca de 1,15 milhão de armas sob o controle de cidadãos. No entanto, os recursos para operações de fiscalização tiveram queda.
O país recebeu 13 recomendações relacionadas aos temas de trabalho, redução da pobreza e desigualdade, sendo que 10 foram consideradas não cumpridas, 2 em retrocesso e 1 em progresso. O relatório destaca que “entre maio de 2017 e agosto de 2022 não foram notadas modificações significativas na tributação que pudessem melhorar a distribuição de renda”, e que “na comparação com os países da OCDE, o Brasil tributa menos a base ‘Renda’ do que a média dos países da OCDE, enquanto que tributa mais na base ‘Bens e Serviços’, fazendo com que a carga destes últimos impostos indiretos recaia desproporcionalmente sobre os mais pobres e acentue a desigualdade.”
Sobre insegurança alimentar e fome, o documento destaca que o II Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan), de 2016 a 2019, não foi sucedido por outra política semelhante”, que o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) foi extinto e que os estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foram reduzidos.
Monitoramento das recomendações
Para avaliar o cumprimento das recomendações recebidas com objetivo de melhorar os direitos humanos no Brasil, a iniciativa desenvolveu metodologia própria a partir de consulta a especialistas e atores atuantes em direitos humanos.
As recomendações dadas ao Brasil foram agrupadas em 26 unidades temáticas, como empresas e direitos humanos; mulheres na política; direitos da população negra e combate ao racismo; direitos das comunidades quilombolas; tratados internacionais; direito à água e ao saneamento básico; direitos das pessoas LGBTI; violência contra a mulher; direitos das pessoas com deficiência; instituição nacional de direitos humanos; direitos dos povos indígenas; meio ambiente e mudanças climáticas; entre outros.
A partir da metodologia definida, técnicos do Alto Comissariado para Direitos Humanos das Nações Unidas e da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados elaboraram relatórios técnicos de forma a subsidiar as avaliações das recomendações, discutidos posteriormente em audiências públicas com a participação de parlamentares e de alguns dos principais atores relacionados aos temas. Da análise dessas informações, cada recomendação foi avaliada.