Benefícios da ampliação da licença-paternidade: o que apontam as evidências científicas
A ampliação da licença-paternidade na legislação brasileira é um investimento social de alto retorno que beneficia todos: crianças, homens, mulheres, famílias e o próprio país. Hoje, a legislação garante apenas 5 dias de licença remunerada aos pais – apenas 4% do período concedido às mães. Ajustar essa disparidade é urgente e coaduna-se com avanços legais recentes, como a Lei 14.826/2024, que estabelece o dever do Estado em promover a parentalidade positiva, incentivando a participação ativa de pais e mães nos cuidados infantis para garantir o pleno desenvolvimento das crianças e a Lei 15.069/2024, que institui a Política Nacional de Cuidados, destinada a garantir o direito ao cuidado por meio da promoção da corresponsabilização social e entre homens e mulheres.
Há alguns anos, a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados lidera ações para ampliar a licença-paternidade no Brasil. Em 2023 criou o Grupo de Trabalho pela Regulamentação da Licença-Paternidade. No ano seguinte, apoiou o lançamento da Frente Parlamentar Mista sobre o tema. Em 2025 segue trabalhando intensamente ao lado da sociedade civil, por meio de ações em colaboração com a Coalizão Licença-Paternidade, com destaque para a realização da exposição "Pai Presente", que evidencia a importância do envolvimento paterno e a necessidade de regulamentar esse direito.
A seguir, apresentamos alguns dos benefícios da adoção de uma licença-paternidade ampliada de acordo com estudos que compilam evidências científicas sobre o tema.
Benefícios para as crianças
A presença do pai desde o início da vida da criança fortalece o vínculo pai-filho e promove um envolvimento paterno maior ao longo do crescimento – algo associado a relações mais próximas e bem-estar emocional infantil (PETTS et al., 2019). Crianças com pais participativos desde o nascimento desenvolvem uma maior sensação de apoio e segurança emocional (PETTS et al., 2019). Estudos indicam que o envolvimento do pai pode prolongar o período de amamentação (FLACKING et al., 2010). Filhos com maior envolvimento paterno nos primeiros três meses de vida apresentam melhor desempenho cognitivo e socioemocional (REDSHAW; HEIKKILÄ, 2013).
Benefícios para os homens
Pais que usufruem de licenças mais longas experimentam melhorias em sua saúde mental, com redução do estresse e da ansiedade (PHILPOTT et al., 2022). Esses pais relatam maior satisfação familiar e bem-estar emocional (PETTS et al., 2019). Também há indícios de que homens que se envolvem mais com os cuidados parentais tendem a relatar maior satisfação no trabalho (LADGE et al., 2015).
Benefícios para as Mulheres
Quando o pai tem direito a uma licença significativa, a mãe sofre menos penalização professional e pode ter seus rendimentos aumentados (JOHANSSON, 2010). A divisão equilibrada das tarefas domésticas e de cuidado alivia a sobrecarga materna (GONZÁLEZ, L.; ZOABI, H, 2021). Com o companheiro envolvido, reduzem-se o estresse e o risco de depressão pós-parto (SÉJOURNÉ et al., 2012; REDSHAW; HENDERSON, 2013). O tempo do pai com o bebê durante a licença-paternidade fortalece o vínculo afetivo e promove o envolvimento dos homens nas tarefas de cuidado até nove meses após o fim da licença (NEPOMNYASCHY; WALDFOGEL, 2007).
Benefícios para as famílias
Licenças-paternidade mais longas estão ligadas a relações conjugais mais estáveis e maior coesão familiar (PETTS et al., 2019). Casais que compartilham responsabilidades desde o início relatam maior bem-estar e adaptação à parentalidade (CARDENAS et al., 2021).
Benefícios para a economia e o desenvolvimento do país
Ao equiparar os direitos de licença entre pais e mães, reduz-se o custo da maternidade e promove-se igualdade de gênero no mercado de trabalho (WORLD ECONOMIC FORUM, 2022; OIT, 2018). Empresas que oferecem licenças estendidas relatam maior engajamento, atração e fidelização de talentos, além de melhorarem sua imagem pública (FORBES, 2023; MCKINSEY & COMPANY, 2023). Políticas de cuidado com participação geram retornos econômicos e sociais de longo prazo (OECD, 2023). Países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) oferecem em média 2,3 semanas de licença remunerada aos pais (OECD, 2023).
Conclusão
Ampliar a licença-paternidade promove bem-estar infantil, saúde dos pais, equidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, fortalecimento das famílias e desenvolvimento socioeconômico sustentável. Trata-se de um direito, uma necessidade e um investimento no futuro do Brasil.
Conheça o trabalho do Grupo de Trabalho pela Regulamentação da Licença-Paternidade.
Referências
CARDENAS, S. I. et al. Associations between Paid Paternity Leave and Parental Mental Health Across the Transition to Parenthood. Journal of Child and Family Studies, v. 30, p. 3080–3094, 2021. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10826-021-02139-3
FLACKING, R.; DYKES, F.; EWALD, U. The influence of fathers’ socioeconomic status and paternity leave on breastfeeding duration. Scandinavian Journal of Public Health, v. 38, p. 337–343, 2010. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20147577/
FORBES. Grandes empresas passam a oferecer licença-paternidade maior no Brasil. 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/carreira/2023/03/grandes-empresas-passam-a-oferecer-licenca-paternidade-no-brasil/
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LADGE, J. J.; HUMBERD, B. K.; WATKINS, M. B.; HARRINGTON, B. Updating the organization man: An examination of involved fathering in the workplace. Academy of Management Perspectives, v. 29, n. 4, p. 152–171, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.5465/amp.2013.0078.
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