Para marcar um gol na vida

Ter um sítio para curtir os fins de semana com a família. Este é o sonho de Janilson Santana, diretor-presidente da Cortrap, que chegou a Brasília “sem um conto no bolso”, procurando a Câmara dos Vereadores.

Com a mulher grávida, passou a catar ferro, depois papelão, e tudo que ia encontrando pela frente. Começou a ganhar um dinheiro. Nasceu o primeiro filho, depois outro. Comprou um cavalo, batizado de “César Sampaio”, jogador de futebol. Montou a carroça. Anos depois, aprendeu a dirigir, tirou carteira de habilitação e comprou um carro.

Atualmente aluno do projeto Educação de Jovens e Adultos, Janilson conta a história da Cortrap com um misto de lamento, alívio, orgulho e alegria. Com os olhos marejados e um leve sorriso no rosto, recorda a trajetória da cooperativa, resgatando o nome dos amigos do início da caminhada — como o engraxate Kau, que teve a ideia de criar uma associação, por meio do qual surgiu a cooperativa, e que hoje faz faculdade de Administração. Relembrou a “carroçata”, em 2002, uma passeata de 264 carroças na Esplanada dos Ministérios, que reivindicava ao governo um olhar mais cuidadoso sobre os catadores, melhores condições, estrutura e instrumentos para que pudessem fazer melhor seu trabalho.

A troca de experiências, as viagens, o apoio do governo, a parceria com a Câmara, a participação no Movimento Nacional dos Catadores foram fatores que fortaleceram a cooperativa, que hoje já tem um patrimônio humano de 360 catadores, mais empilhadeira, caminhões e prensa.

Baiano, 42 anos, Janilson é também técnico do time de futebol da Cortrap, campeão do Campeonato do Guará. Entre uma jogada e outra, ele dribla as dificuldades, orientando seus seguidores a marcarem gol na vida.
   
Isolda Marinho