Corujas fazem seus ninhos nas dependências da Câmara

Símbolo da sabedoria, da filosofia e da pedagogia, devido à inteligência, astúcia, sensibilidade, visão e audição super potentes, as corujas estão entre as aves de rapina protegidas por lei em vários países — bem como por tratados internacionais. No Brasil, maus-tratos à fauna silvestre são proibidos pela Lei 5197/67.

As corujas se reproduzem três vezes por ano, e sempre encontraram na Câmara um lugar especial para fazer seus ninhos. O servidor Pedro Carneiro, biólogo, pós-graduado pela Universidade Federal de Lavras (MG), lotado no Depol desde 1981 e membro do Ecocâmara, é um protetor da espécie. Há mais de dois anos, ele vem catalogando as aves que vivem nos arredores do edifício principal e dos anexos, da Casa Oficial e das quadras residenciais dos parlamentares. Para preservar os ninhos das espécies, Carneiro conta com a ajuda dos porteiros, jardineiros e lavadores de carros da Câmara. "São eles que ficam de olho nos ninhos", revela Carneiro. E foram esses olheiros que constataram que algumas pessoas, por desinformação, estão afugentando as corujas que vivem nestes locais.

Segundo o biólogo, é preciso chamar a atenção de todos sobre como a vida é afetada pelas alterações no meio ambiente. "As corujas merecem a nossa proteção integral. Todas elas proporcionam benefício ao homem. Elas acabam com as pragas nas lavouras e controlam a população de ratos ao redor das cidades e no campo", conta. Para Carneiro, a crendice popular acaba prejudicando a espécie. "É preciso combater o preconceito contra essas aves, crendices difamatórias trazidas em parte da Europa. São elas que acabam difundindo antipatia a essas aves".

A espécie que vive sob a observação de Pedro Carneiro e seus ajudantes é a coruja-buraqueira. Ela possui este nome por viver em buracos cavados no solo. Embora seja capaz de cavar sua própria cova, vive nos buracos abandonados por tatus, cachorros e  em tocas de outros animais.

De porte pequeno, a coruja-buraqueira possui cabeça redonda, tem sobrancelhas brancas, olhos amarelos e pernas longas. Ao contrário da maioria das corujas, o macho é ligeiramente maior que a fêmea, que são normalmente mais escuras que os machos. É uma ave tímida, por isso, vive em lugares sossegados. Durante o dia, ela cochila em seu ninho ou toma sol em galhos de árvores.

Enquanto uns fogem das corujas, destroem seus ninhos e roubam seus filhotes para a comercialização, por acreditarem que trazem azar, outros agem exatamente ao contrário. Os índios, por exemplo, adoram as corujas. Eles atribuem à ave o dom de dar boa sorte. Para os gregos da Antiguidade, as corujas, por causa de seus grandes olhos, eram símbolo de sabedoria.


Curiosidades

Você sabia que a coruja não precisa levantar os olhos para saber de onde vem a voz que chama por ela? Que, se necessário, seus olhos encontram automaticamente o dono da voz sem precisar procurar ao redor? Pois é isso mesmo. A coruja é capaz de se guiar somente pelos sons. Elas fazem isso graças a uma estrutura cerebral chamada teto óptico, que possui mapas detalhados do mundo tanto em coordenadas visuais, vindas diretamente da retina, como em coordenadas auditivas, baseadas na diferença de milésimos de segundo entre o tempo que um som, dependendo da posição da sua fonte, leva para chegar a cada uma das orelhas. Como a origem de um som costuma casar com a posição da sua imagem sobre a retina, a experiência do mundo, ao longo da infância da coruja, faz com que esses mapas visuais e auditivos sejam perfeitamente alinhados. Assim, os sons de um camundongo a quatro metros de distância, 20 graus à esquerda, farão com que a coruja dirija seu olhar automática e precisamente para o ponto situado a quatro metros de distância, 20 graus à esquerda. Com os mapas alinhados, a coruja fica mestra em atacar com precisão cirúrgica uma presa que ela apenas ouviu, segundo observou o neurocientista americano Eric Knudsen, da Universidade Stanford (EUA), que há anos estuda o processo de alinhamento dos mapas visual e auditivo no teto óptico da espécie coruja-de-igreja.

Existem várias espécies de corujas. As mais comuns são as corujas suindara, mocho-orelhuda, buraqueira e coruja-do-mato. Se estas e outras aves selvagens o fascinam, saiba mais sobre elas no livro Ornitologia Brasileira, de Helmuth.

Texto produzido pela Secretaria de Comunicação Social da CD - fevereiro/2006