Teste feito na Câmara é esperança contra a seca

O pesquisador Marcos Gugliotti vai apresentar ao público nesta quinta-feira (10), às 15h, o resultado final do teste que realizou há dois meses no espelho d’água da Câmara dos Deputados com um produto que pode ser a solução para diminuir a evaporação em açudes e represas — uma esperança para regiões áridas.

A convite do Núcleo de Gestão Ambiental (EcoCâmara) e de seu Núcleo de Novas Tecnologias, Marcos vai apresentar a palestra "Redução da Evaporação de Água por Filmes Monomoleculares" no plenário 8 do anexo II. O pesquisador também vai apresentar o estudo ao Ministério da Integração Nacional.

De 9 a 18 de setembro, Gugliotti, diretor científico da Lótus Química Ambiental, testou na Câmara um produto que pode gerar grande economia de água em regiões assoladas pela seca. Ao final do experimento, que consistiu em cobrir a superfície do reservatório com uma fina película em forma de pó, o pesquisador verificou uma redução média de 30% na evaporação de água. Durante o período do teste, o espelho perdia cerca de 78 mil litros de água por dia em função da evaporação (redução de 6 mm diários no nível da lâmina d’água, que tem área de 13.000 m2). Nos dias em que o produto foi aplicado deixaram de evaporar cerca de 23 mil litros de água.

O produto aplicado foi um pó composto de calcário e surfactantes biodegradáveis (surfactantes são agentes de atividade superficial, substâncias que apresentam a propriedade de formar uma película ultrafina na superfície da água). O produto não é tóxico ou espumante e foi aplicado no espelho d’água a cada 48 horas. Em contato com a superfície da água, o pó libera os surfactantes que formam a película ultrafina que se espalha por uma grande área e reduz e evaporação de água sem interferir na oxigenação do corpo hídrico. Para cada 10.000 m² de área foi aplicado apenas 1Kg do produto.

 

Sem impactos nocivos

A redução da evaporação por películas ultrafinas de surfactantes não provoca alterações climáticas e o método é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma "tecnologia alternativa" para a conservação da água doce. O método também se encaixa na definição de "tecnologia ambientalmente saudável" da Agenda 21, que tem como objetivo definir uma estratégia de desenvolvimento sustentável — em relação aos recursos naturais, à biodiversidade, aos aspectos políticos ou econômicos.

"O produto está sendo desenvolvido para ser aplicado em reservatórios de água, como açudes e represas. A redução das perdas por evaporação representa a economia de uma grande quantidade de água", afirma Marcos.

Ele explica que o espelho d’água da Câmara foi escolhido por estar localizado em uma região de clima seco, onde a taxa de evaporação é alta e a quantidade de água pode ser controlada — pois há apenas uma saída, o que permite uma boa precisão de quanto se perde por evaporação, o que é fundamental para determinar a eficiência do produto. O teste foi feito com apoio e autorização do Núcleo de Gestão Ambiental (EcoCâmara), em parceria com o Departamento Técnico (Detec) da Casa.

Marcos Gugliotti é formado em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI, São Bernardo do Campo-SP), e concluiu mestrado, doutorado e pós-doutorado em físico-química de superfícies no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é diretor científico da empresa Lótus Química Ambiental, localizada no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec, SP). O projeto dele é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que tem apoiado experiências no setor por meio do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE).

O pesquisador já solicitou a patente do redutor da evaporação e, no momento, busca outros locais para testar o produto, de preferência na região Nordeste.

 

Texto produzido pela Secretaria de Comunicação da CD em novembro/2005.