Entrevista com Diretor-Geral da Câmara

23/03/2016 13h30

Entrevista com Diretor-Geral da Câmara

Rômulo Mesquita, Diretor-Geral

O senhor já possui 22 anos na Câmara. Pode tentar nos lembrar de alguns momentos marcantes em que a Câmara teve um papel relevante no desenvolvimento do país, através da agenda da sustentabilidade?

Eu entrei na Câmara logo após esse encontro mundial de líderes para falar a respeito do tema de sustentabilidade, a Eco-92. Eu lembro que na época a gente esperava muito. Foi um encontro marcante. E de lá para cá, muita coisa foi feita. Esse discurso esteve na pauta, essas preocupações com o meio ambiente, com o uso dos recursos naturais. Mas eu acredito que poderia ter avançado mais na execução de todo esse planejamento e de tudo que foi discutido. Tivemos alguns problemas internos, então sempre houve um adiamento no que se diz sobre a sustentabilidade. Sempre se fazia uma coisa aqui, outra ali, mas não avançou da forma que todos gostaríamos e da forma que foi proposta. O Brasil, que possui recursos naturais em abundância, deveria ser um país líder e exemplar, mas é aquela máxima: quando a gente tem recurso sobrando, a gente sempre desperdiça. A sensação que eu tenho aqui no Brasil é essa: não conseguimos efetivar as políticas que pensamos, executá-las de modo adequado. O Brasil é considerado como possuidor de uma das melhores legislações ambientais do mundo, porém a execução ainda é muito pequena.

 

O senhor acredita que o EcoCâmara contribui para a melhor governança interna do consumo de recursos naturais?

Eu penso que o trabalho do EcoCâmara é fundamental para nossa instituição. O surgimento do EcoCâmara foi um movimento voluntário com pessoas engajadas na causa. Esse surgimento foi espontâneo e refletiu bem a cultura da Casa, com a preocupação da sustentabilidade.  Isso foi de grande importância para os projetos desenvolvidos aqui. Nós tivemos nesses últimos anos uma redução muito grande no uso dos recursos naturais, tanto de água quanto de energia elétrica, apesar de todas as dificuldades orçamentárias, de aquisições, que o setor público tem, norteado por vários princípios, a gente sempre fica sujeito aos órgãos de fiscalização, que é correto, mas que dificulta a inovação do órgão.

Apesar dos grandes avanços que foram feitos, por conta dessas dificuldades na legislação, nós não avançamos tanto quando poderíamos e gostaríamos. Mas eu acho que a assessoria do EcoCâmara teve papel fundamental, e vai continuar tendo daqui para frente. O papel do EcoCâmara vai se ampliar cada vez mais, porque eu penso que ele vá extrapolar as fronteiras aqui da Câmara. O EcoCâmara tem que servir também como um vetor de aceleração para assimilar as boas práticas que existem em outros órgãos públicos e em outros setores da sociedade. É um órgão que tem o DNA, o viés de estar em contato com o lado de fora da Câmara, e trazer essas inovações aqui para dentro, e com isso vai se criar uma pressão interna para assimilar essas novas práticas aqui dentro.

 

O EcoCâmara pretende colaborar com a gestão de riscos da Casa, especialmente os riscos ambientais associados aos processos administrativos e legislativos. Como o senhor avalia essa proposta de colaboração?

Eu acho bastante importante. Não só o EcoCâmara, mas todos os órgãos da Casa têm que ter em mente que nós teremos que trabalhar com a gestão de riscos em todas as atividades. E o EcoCâmara, nesse viés da sustentabilidade, tem um papel fundamental porque vai trazer isso de outros órgãos que porventura tenham essa preocupação em um estado mais avançado. A Câmara está iniciando a gestão de riscos agora, então o EcoCâmara vai ser fundamental nessa questão da sustentabilidade, em contratar ações com a preocupação ambiental em vários estágios, desde o descarte de materiais até a aquisição de novos recursos. E a comunicação do EcoCâmara com os órgãos internos será fundamental. Temos que investir nisso, nessa comunicação interna, porque é mudando a cultura e solidificando esses princípios que os órgãos terão condições de desenvolver o trabalho deles, tendo essa preocupação de gestão de riscos no seu dia-a-dia e considerando a sustentabilidade.

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Quais são os objetivos de sustentabilidade para a sua gestão?

Contamos com o EcoCâmara para que continue o papel que vem realizando e se amplie um pouco mais, que intensifique esse contato com outros órgãos, veja outros projetos que deram certo e traga para cá. O EcoCâmara talvez possa liderar uma ideia que eu tenho de estabelecer parcerias com outros órgãos, como Senado, Ministérios, etc. Podemos, por exemplo, compartilhar o MOB, fazer acordos com algumas ferramentas na área da biblioteca, banca digital, compartilhamento de pesquisa. Então ao invés de os dois órgãos comprarem, cada um a sua ferramenta, podem compartilhar mutuamente. Tenho a ideia de ampliar isso para compras, contratações. Primeiramente com o Senado, depois com os outros órgãos aqui da Esplanada, fazer essa proposta. Com isso, eu acho que atende a esse apelo da sustentabilidade, afinal estaremos economizando recursos públicos, dinheiro, esforço. Com a tecnologia e espaço que temos hoje, nós já poderíamos implementar rapidamente. Melhorar nossas legislações, editais, exigindo alguma certificação sustentável, tanto na aquisição de materiais quanto para as contratações. Empresas que tenham certificações. Isso a gente está discutindo com o TCU. Melhorar nossa comunicação interna em termos de sustentabilidade. Temos que fazer campanhas promovendo os princípios da sustentabilidade.