Por muito tempo, as dificuldades dos catadores de lixo do Distrito Federal eram várias. Antes da organização em sociedade, o transporte do material era feito exclusivamente por carroças - atividade que colocava em risco a segurança de muitos desses trabalhadores. Em tempos de falta de consciência sobre a importância da reciclagem para a preservação ambiental, separar os resíduos coletados também era tarefa exaustiva.

Agora a realidade é outra. Os catadores de lixo estão organizados em cooperativas e, com isso, podem usufruir de melhores condições de trabalho. São ao todo doze cooperativas constituídas no DF. Entre elas, está a Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (Cortrap), que, mediante convênio, é a responsável por dar o destino correto aos resíduos recicláveis gerados nas dependências da Câmara.

Em visita realizada no início deste mês, o Ecocâmara conferiu as conquistas alcançadas pela Cooperativa. Com a ajuda de vários parceiros, foi construída uma sala multiuso, destinada à realização de oficinas de arte, costura e reciclagem. A Câmara pôde colaborar com o Projeto ao doar duas toneladas de documentos em papel, que perderam validade. Devidamente triturados, os documentos foram vendidos pela Cortrap para uma empresa de reciclagem, e o valor arrecadado foi revertido em material de construção.

ARTESANATO: UMA NOVA ATIVIDADE

Para garantir sua sustentabilidade, a Cooperativa está investindo em novas frentes de trabalho. Uma delas é a proposta de produzir manufaturas a partir de material reciclável, que, além de servir como nova fonte de renda, contribuirá para a formação dos cooperados. Duas oficinas já foram realizadas: instrutores voluntários ensinaram as técnicas da arte com papel jornal e produção de pufs feitos com garrafas pet para quatro cooperadas, que vão repassá-las dentro da Cortrap. "A intenção é aumentar a capacidade de produção", explica Maria da Conceição, vice-presidente da Cooperativa.

CONCESSÃO DE USO

A Cooperativa comemora também a assinatura da concessão de uso, que permite a ocupação do terreno na Vila Estrutural pelo período de 30 anos. O terreno pertence ao Programa Pro-DF, cujo objetivo é promover o desenvolvimento econômico e social sustentável e integrado do Distrito Federal.

CONVÊNIOS

Passam pela Cortrap cerca de 600 toneladas de lixo por mês. Os resíduos recicláveis correspondem a 30% desse total. A maioria do material recolhido provém de convênios firmados com órgãos públicos. Além da Câmara do Deputados, a Cortrap mantém parceria com a Fundação Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Ong Moradia e Cidadania, Superior Tribunal de Justiça e Procuradoria Geral da República.

Em geral, o convênio é resultado da implementação de plano de gerenciamento de resíduos recicláveis na Administração Pública. Ainda assim, na Vila Estrutural, o lixo passa por novo processo de seleção, quando o material reciclável — papel, plástico e tetra pak - é definitivamente separado do não-reciclável. Este remanescente é levado pelo GDF para o Lixão.

MELHORIAS

Maria da Conceição confirma a melhoria dos lixos após as campanhas de descarte promovidas pelos órgãos conveniados. A cooperada enfatiza, inclusive, que os selecionados pela Câmara apresentam melhor qualidade dentre os demais. E para transportá-lo, as carroças não são mais o único meio de transporte disponível. Com o apoio da Fundação Banco do Brasil, a Cortrap recebeu a doação de um caminhão para a coleta de lixo. E com recursos transferidos pela Embaixada da Alemanha, adquiriu uma van.

PROJETOS FUTUROS

O progresso da sociedade não pára por aqui. Assegurados os recursos necessários, a Cooperativa prepara-se para construir amplo galpão, que permitirá melhor acomodação do material selecionado e melhores condições aos trabalhadores durante o processo de seleção do lixo — hoje realizado a céu aberto. O galpão será essencial para que a Cooperativa possa aproveitar o vidro recolhido. Por falta de local para estocagem em grande quantidade, os vidros ainda não são comercializados.

De acordo com o presidente, Janilson, faz parte dos anseios da Cortrap incluir na sociedade um maior número de famílias de catadores de lixo. Com seis anos de existência, a Cooperativa contabiliza 110 associados, que, desempenhando a atividade, obtêm a renda de R$ 400 mensais.

CONVÊNIO COM A CÂMARA

Com o compromisso de dar a destinação correta dos resíduos recicláveis, a Câmara firmou em 2004 o primeiro convênio com a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Brasília (Brascicla). Desde então, com base nos termos fixados, a Cortrap é a intermediária da Brascicla e executora do recolhimento dos resíduos descartados pela Casa. Após o término de vigência do convênio, ocorrido em agosto deste ano, a Câmara renovou o acordo por mais 12 meses.

Texto produzido pelo Núcleo de Gestão Ambiental EcoCâmara em 16 de novembro de 2006.