Boletim do EcoCâmara Entrevista - Camila de Lara Fortes
A turismóloga carioca Camila Faria de Lara Fortes é assessora de Plenário da Liderança do PMN desde julho de 2007 e tornou-se uma ecocamarada no mesmo ano, por ocasião do relançamento do programa de voluntariado ambiental. Seu interesse pelas questões ambientais vem da infância e aumentou na faculdade, quando as alternativas de turismo ecológico chamaram a sua atenção, fato que a levou a escolher como tema de sua monografia o Parque Nacional da Tijuca. Em março de 2010, recebeu o Prêmio Ecocamarada do Ano, pela participação, no ano anterior, no Programa Estágio Visita e na ambientação de novos servidores, além da coordenação do Projeto Doe seu Reciclável, que conseguiu arrecadar mais de dois mil objetos plásticos na Câmara dos Deputados.
Boletim do EcoCâmara: Para você, o que é ser uma ecocamarada?
Camila Fortes: É uma questão de cidadania, uma obrigação comigo mesma e, antes de tudo, um prazer. Eu me vejo na obrigação de fazer algo pelo meio ambiente e pela sociedade, tenho a consciência de que isso tudo retorna para mim. É um ciclo e, se não pensarmos dessa forma, todos arcaremos com as consequências. É importante a colaboração, a participação de todos os servidores, para que haja cada vez mais ações, projetos e programas voltados para a sustentabilidade e a cidadania. Quanto mais o grupo se fortalecer, mais portas se abrirão, na Câmara e fora dela, para a implantação de iniciativas desse tipo. Um maior número de pessoas levará os conceitos de sustentabilidade para o seu dia a dia. Muitas pessoas “já são ecocamaradas sem ser”, porque adotam práticas interessantes do ponto de vista ambiental. Temos que descobrir essas pessoas, para integrá-las ao nosso grupo, e essas práticas, para incorporá-las às nossas ações.
Boletim do EcoCâmara: O que você faz, no seu cotidiano, para contribuir com as causas ambientais?
Camila Fortes: Conversar sobre o tema para sensibilizar a família e os amigos e dar o exemplo por meio de ações é muito importante. Procuro reduzir o uso de água e energia, separo todos os resíduos que podem ser reciclados e trago para doar à Coortrap (a cooperativa de catadores da Câmara). Deixo de fora baterias e pilhas, porque é mito difícil achar quem dê um destino adequado a esse tipo de material. Acaba ficando lá em casa... (risos). Por opção pessoal, quase não uso óleo de cozinha, mas se usasse separaria para reciclagem, para virar sabão. Uso “ecobag” e, quando faço compras e não estou com a minha, peço caixas de papelão para usar no transporte. A maioria dos supermercados fornece, basta pedir. Muitas embalagens, como a caixa da pasta de dente, eu nem levo para casa, já descarto no mercado, muitos também já oferecem essa opção. E dou preferência a produtos com menos embalagem. A gelatina, por exemplo: por que comprar uma que vem com uma caixa extra, por fora, se uma das melhores marcas já vem só com a embalagem principal?
Boletim do EcoCâmara: Conte-nos de algumas iniciativas do EcoCâmara e dos ecocamaradas das quais já participou e as que mais lhe marcaram.
Camila Fortes: A que mais me marcou foi a primeira edição “Doe seu Rciclável”, em 2008. Coletamos mais de 2.000 objetos de plástico. Foi a primeira iniciativa conjunto do Ecocâmara e dos ecocamaradas e procurei integrar e equipe e despertar o interesse em outras iniciativas. A partir desse projeto, surgiram muitos outros, como a Oficina de Pintura de Canecos, que é um incentivo à substituição de copos plásticos, mas que, ao mesmo tempo, serve como ponto de partida para abordarmos uma série de questões ligadas à sustentabilidade. Acho que o ponto principal da Política dos 3 R’s – reduzir, reutilizar e reciclar – é mesmo o “reduzir”, então começamos daí.
Participei também ativamente do Programa Estágio-Visita, que é uma iniciativa na qual a Câmara recebe, por uma semana, estudantes universitários de todo o país, especialmente da área de Direito, para fazer cursos, conhecer o funcionamento da Casa e o processo legislativo. O trabalho dos ecocamaradas era muito dinâmico, mostrávamos o trailler de um filme e discutíamos questões relativas ao meio ambiente. Então, separávamos grupos, formávamos um “júri”, a “promotoria” e a “defensoria”, para “julgarmos” as atitudes do homem em relação ao planeta. E, é claro, nesse processo falávamos também de sustentabilidade e do trabalho do EcoCâmara e dos ecocamaradas. Com tudo isso, levávamos todos a uma dúvida, o que cada um poderia fazer pelo meio ambiente, o que poderia repensar, para fazer um trabalho pela sustentabilidade. Muitos participantes mantém contato, pedindo dicas de como implementar projetos nessa área.
Outro projeto legal foi a visita ao Sítio Geranium, uma área ambientalmente preservada, em que passamos o dia conhecendo boas práticas. Eles fazem aproveitamento de água da chuva, plantio orgânico, tem minhocário, banheiro seco, enfim, um monte de iniciativas interessantes. Também merece ser citada a visita guiada à Coortrap, que é a cooperativa que recebe os resíduos sólidos da Câmara dos Deputados, que dá trabalho e sustento a 150 famílias. Você chega lá e vê a divisão do lixo... mas choca saber que muitos dos trabalhadores pegam doenças, porque as pessoas fazem o descarte de forma errada. Se todos tivessem consciência, eles teriam melhores condições de trabalho.
São ações de preparação para ensinar os ecocamaradas conceitos de sustentabilidade e cidadania. Eu já tinha uma certa consciência desde a infância, porque ia muito para a Região do Lagos, no Rio de Janeiro, onde a água é escassa, você tem que economizar, e meu interesse cresceu na faculdade de turismo. Mas as ações do ecocâmara mudaram minha maneira de agir, me aprimorei, passei a conversar com o pessoal do setor e estudar mais o assunto. Enfim, os cursos e oficinas do EcoCâmara e dos ecocamaradas nos preparam melhor para a atuação ambiental.
Boletim do EcoCâmara: Qual a importância do programa de voluntariado Ecocamaradas para a Câmara dos Deputados e para a sociedade como um todo?
Camila Fortes: Para a Casa, une esforços com outros projetos que o EcoCâmara e a Diretoria Geral buscam implementar, como, por exemplo, a Licitação Sustentável. É um trabalho de sensibilização dos servidores, através de ações práticas, para o fato de que uma ação, por mais simples que seja, faz diferença. Para sociedade também é muito importante. Porque, à medida que os servidores levam boas práticas, do ponto de vista ambiental, para o seu dia a dia, isso acaba se refletindo por toda a sociedade, pelo exemplo, pelo efeito multiplicador que tudo isso gera.
Boletim do EcoCâmara: Qual as questões relativas ao meio ambiente que mais lhe preocupam?
Camila Fortes: O uso correto, a reutilização e descarte de materiais e o bom uso da água potável. Todos os cidadãos deveriam pensar no uso dos recursos que hoje são ‘renováveis’, porque eles podem deixar de ser, à medida que não teremos como recuperá-los. Quando um estrangeiro chega aqui, muitas vezes fica impressionado com certos desperdícios que cometemos, por exemplo, com a água, Todos deveriam ter consciência da importância do ato de reduzir o consumo.
Boletim do EcoCâmara: Como você vê Brasília, cinquenta anos após sua fundação, em termos de preservação do meio ambiente?
Camila Fortes: Há muitas questões a serem consideradas, mas vejo chances de melhorias. Há parques nacionais com grandes mananciais que precisam ser preservados, mas não está sendo feito, ainda, um trabalho de controle do modo que deveria. O cerrado também está sendo muito desmatado. Além de todos os problemas ambientais que isso representa, vai fazer muita diferença quando começar a faltar água.
Boletim do EcoCâmara: Enfim, por que participar das iniciativas do Ecocamaradas?
Camila Fortes: Porque são atitudes que não doem, não mudam radicalmente o seu dia a dia. Não há porque não aderir, aos poucos, a todas elas, que só trazem benefícios a todos. O planeta, a sociedade, a Câmara dos Deputados e nós mesmos só teremos a agradecer.