Cartas

Leia algumas das cartas que Joaquim Nabuco trocou, ao longo da vida, com amigos, correligionários, opositores e jornalistas.

 

Machado de Assis"Por ora dou asas à minha imaginação, mas um dia virá, e este dia talvez esteja perto, no qual me desligue completamente dêsse mundo de visionários, para ir tomar parte no grêmio daqueles que, mais chegados às realidades da vida, consideram êste mundo como êle realmente é".

A Machado de Assis, 1865

 

André Rebouças menor"Adeus, meu caro amigo. Estou sentindo falta de cartas suas e desejo de ver-me de novo perto de você. Mande-me sempre notícias. Nada me é indiferente neste desterro a que me vejo condenado, eu que podia ter a ambição de servir ao meu país, se não fôra a escravidão que o fecha, não só aos imigrantes como aos seus próprios filhos necessitados."

A André Rebouças, 1882

 

"Todo o campo da luta pela vida no Brasil está infelizmente dominado pela escravidão, e eu tornei-me seu mortal inimigo."

A Oliveira Lima, 1882

 

"Se V. Ex. tomasse a si no Senado a causa da emancipação, a liberdade dos escravos que eu vejo muito longe, e o dia em que a lei brasileira há de condenar a escravidão, o qual também me parece muito distante, aproximar-se-iam de nós a ponto de podermos esperar que o primeiro aniversário secular da Revolução Francesa não fôsse celebrado no Brasil a face de milhares de escravos."

Ao senador José Antônio Saraiva, 1882

 

Barão do Rio Branco"Em 1878, eu estava na diplomacia, e hoje estaria muito adiantado nela se tivesse ficado fora da política. Mas a política me arrastou, e uma vez no Parlamento, irresistivelmente, o abolicionismo me atirou fora dessa outra carreira, a política, fazendo de mim um como que semeador de idéias. Nada mais."

A José Maria da Silva Paranhos, futuro Barão do Rio Branco, 1886

 

José do Patrocínio"Eu acredito que o Imperador não cometeu o erro de julgar possível que eu, depois de ter combatido sob a bandeira abolicionista, aceitasse um emprego qualquer da escravidão que ele representa, e trocasse o meu desterro de Londres por alguma sinecura do orçamento."

A José do Patrocínio, 1886

 

"Não me resta assim senão pedir-lhe o obséquio de declarar pelo Paiz que deixei de fazer parte de sua redação, ou como você melhor entenda. Este passo que dou e que me é imposto tanto pela minha consciência de monarquista e de brasileiro como pela necessidade de ter a mais completa liberdade de ação na imprensa neste momento difícil e crítico para as instituições nacionais todas, não alterará em nada, estou certo, os sentimentos pessoais que tão estreitamente nos ligam."

Ao jornalista Quintino Bocaiúva, 1888

 

"Ocupo assim na Câmara uma posição solitária, que corresponde ao meu ideal não direi político, mas popular. Você tem a alma do povo, eu tenho a consciência. Nós nos separamos apenas aparentemente - porque no fundo, nos completamos. Hoje como ontem, amanhã como hoje. Deixe os partidários desgostarem-se de mim: estou fazendo a única política verdadeiramente democrática que possa existir no país. Os partidos esmagam o povo. Ambos eles são exploradores e, mal começa, o republicano já está adorando o bezerro de ouro."

A José Mariano Carneiro da Cunha, 1888

 

Afonso Pena"A monarquia caiu no Brasil sem haver uma queixa contra ela dos próprios republicanos, tanto que a procuraram recompensar. Nenhum dos nossos males veio dela, mas da anarquia em que ela tinha caído como instituição,isto é, pelos partidos, não pela dinastia."

A Afonso Pena, 1890

 

Dom Pedro II"A linguagem dos jornais mostra que o descontentamento cresce sem parar, na razão da corrupção republicana. O Brasil, ou melhor, o Rio de Janeiro, está como a Califórnia, quando se descobriu o ouro, ou a África Austral com a descoberta dos diamantes. É uma grande feira a que afluem os aventureiros do mundo inteiro para enriquecer de repente."

A D. Pedro II, 1891

 

Fonte: Nabuco, Joaquim. Cartas a amigos. Coligidas e anotadas por Carolina Nabuco, vol. 1. São Paulo: Instituto Progresso Editorial S. A, 1949. Acervo da Câmara dos Deputados.