Biografia
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, escritor e diplomata, nasceu em Recife, PE, em 19 de agosto de 1849, e faleceu em Washington, EUA, em 17 de janeiro de 1910. Nascido em grande família do Império, era filho do Senador José Tomás Nabuco de Araújo e de Ana Benigna Barreto Nabuco de Araújo, irmã do marquês do Recife, Francisco Pais Barreto. JN recebeu uma educação esmerada, tendo feito as humanidades no Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, onde se bacharelou em letras, e seguiu para São Paulo, para cursar a Faculdade de Direito, mas concluiu o curso jurídico na academia do Recife. Em 1876, entrou para a carreira diplomática, nomeado adido à Legação brasileira em Washington. Em 1879, voltou ao Rio de Janeiro, eleito deputado geral por sua terra natal. Tornou-se, então, na Câmara o principal líder parlamentar da campanha pela abolição da escravatura no Brasil. Após viajar pela Europa, de 1881 a 1884, foi novamente eleito deputado até que, em 1889, com a proclamação da República, se afastou da vida pública. Mais tarde, chamado a servir ao seu país sob o novo regime, foi encarregado de várias missões diplomáticas, tendo sido também embaixador em Londres e Washington, posto em que veio a falecer. Teve grande atuação diplomática.
Quando da fase de espontânea abstenção política, JN viveu no Rio de Janeiro, exercendo a advocacia e fazendo jornalismo. É de então a sua frequência à redação da Revista Brasileira, onde estreita relações com as mais altas figuras da vida literária brasileira, Machado de Assis, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, de cujo convívio nasceria a Academia Brasileira de Letras (1896), de que ele foi assim membro fundador e primeiro-secretário perpétuo. Da sua amizade com Machado de Assis, que é um modelo de alto convívio espiritual, refere-nos um livro de Graça Aranha. Pela educação e preferências, sobretudo pela marca de Chateaubriand e Renan, foi JN da sua geração, talvez o escritor mais livre da influência portuguesa, ainda bem funda em seu tempo. Chegou a escrever e publicar em francês. De modo que a sua maneira é singularmente expurgada das tendências puristas, no sentido luso, caracterizando-se antes pela simplicidade próxima da linguagem falada, embora sem desprezar certas preocupações artísticas. Possivelmente, nisto cedia às imposições de seu próprio temperamento, mais inclinado às lides da palavra falada. De fato, antes de tudo o que o destaca no cenário intelectual brasileiro são as suas qualidades oratórias. Poeta embora, na juventude e em outras ocasiões esparsas teria dado largas a essa inclinação natural, porém cedo sentiria que não estava na poesia o seu forte, pois, como ele próprio confessou, o que seus versos possuíam de elevado não pertencia à poesia, mas à eloquência. E foi como orador que se realizou em plenitude, tornando-se uma das vozes mais respeitadas do parlamento nos últimos anos do Império. Voz magnífica, bela e varonil figura de tribuno olímpico ― chamavam-lhe Quincas o Belo ―, mímica irrepreensível serviam para realçar as qualidades dos discursos ainda hoje lidos com agrados e proveito, e que, na época, entusiasmavam as plateias. Não era um orador de improviso. Seus discursos eram preparados de antemão, nos mínimos detalhes, inclusive de estilo, daí por certo as qualidades que neles preponderam, a clareza e a simplicidade, a par de ideias justas e dos princípios liberais por que sempre se bateu, mesmo dentro de seu esquema geral de respeito pelo sistema monárquico. Mas aquelas qualidades também não estão longe de responsabilizar-se pelo êxito popular de Nabuco, na campanha abolicionista, quando alcançaria os maiores louros como orador, tanto mais importante de se realçar o fato quando sabemos que, ao seu lado, seus companheiros de luta, estavam homens que arrebatavam multidões, como José do Patrocínio, Castro Alves, Rui Barbosa.
Vitoriosa a causa da abolição, proclamada a República, o orador cede o passo ao escritor, ao historiador, ao conferencista. Entrega-se à investigação histórica, escrevendo a biografia do pai. Um estadista do Império, obra que é um dos monumentos da historiografia nacional. Dedicava-se a gravar as suas reminiscências, legando-nos um pequeno livro de memórias, Minha formação, que é um testemunho da sociedade patriarcal brasileira, em páginas de fino lavor literário, em que se aliam qualidades de estilo e pensamento. Pronuncia diversas conferências no país e no estrangeiro, sobre temas nacionais, inaugurando, mesmo nos Estados Unidos, os estudos universitários luso-brasileiros. A obra escrita de JN, se bem que de expressiva significação não condiz de modo exato com a importância excepcional da figura, que, fosse como diplomata, fosse como escritor, exerceu uma atuação que poderia ser definida como de política cultural, semeando germes fecundantes, sobretudo na direção dos estudos brasileiros. As sugestões de sua obra de historiador e pensador social ainda hoje encontram eco e continuação. É ele, assim, na cena intelectual brasileira, uma figura à parte, independente de escolas, embora a sua personalidade intelectual e seu estilo não tivessem ficado imunes do espírito parnasiano e do pensamento realista que dominavam a sua geração, e que contrastaram, é verdade, com a sua religiosidade e seu monarquismo.