Pasadena era negócio “potencialmente bom" e teve “baixo retorno”, diz Graça Foster

05/05/2014 14h52
30/04/2014 - 17h17

Para oposição, presidente da Petrobras adaptou suas falas, em audiência na Câmara, ao depoimento de Nestor Cerveró. Já na avaliação de deputados do PT, Foster manteve seu discurso.

Graça Foster: investimentos em Pasadena não estão entre prioridades atuais da Petrobras.

A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse hoje (30), na Câmara dos Deputados, que a compra da refinaria de Pasadena (EUA) foi um negócio de “baixo retorno” analisando o cenário do mercado de petróleo e gás atual, mas “potencialmente bom” na época da aquisição dos 50% iniciais da belga Astra Oil em 2006.

“Até 2008, a transação era potencialmente boa, porque faríamos a renovação do parque de refino (conhecida como revamp) para processar o petróleo pesado, maioria do extraído no Brasil. Pós 2008, o negócio é de baixo retorno, pois as margens foram reduzidas, o mercado caiu, não fizemos o revamp”, afirmou Foster em depoimento às comissões de Fiscalização Financeira e Controle; e de Minas e Energia.

Ela citou as licitações para novas refinarias no Brasil, como a Premium 1 e 2 no Maranhão e Ceará, respectivamente, e a construção de Abreu e Lima, em Pernambuco, como reflexo da mudança de cenário e dos investimentos da estatal, em particular depois da descoberta do pré-sal em 2006. “Em 1999, a proposta era ir para fora do Brasil porque não havia descobertas aqui. Em 2006, com o pré-sal, mudou-se a rota”, explicou.

Para a oposição, Foster alterou o discurso que havia feito há duas semanas no Senado para se adequar ao depoimento, na Câmara,do ex-diretor internacional da estatal Nestor Cerveró, em 16 de abril. Segundo o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), a exposição de ideias de Foster é confusa e busca “acertar o passo” nas falas do ex-presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, e da presidente Dilma Rousseff. “Antes era um mau negócio, aqui me pareceu a defesa de um negócio. Depois que o Gabrielli disse que Dilma tinha de assumir a responsabilidade, vossa senhoria quis acertar o passo”, afirmou à presidente da petrolífera.

Já segundo deputados do PT, o discurso de Foster não mudou. “A base do conteúdo foi a mesma. Lá [no Senado] ela foi categórica: no momento em que a Petrobras discutiu a compra, estava dentro do plano de investimento, era um bom negócio; deixou de trazer bons resultados por causa da crise econômica”, disse o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).

Recuperar investimentos
Graça Foster admitiu que o prejuízo de 530 milhões de dólares na compra de Pasadena no “teste do impairment” – conceito contábil que define a redução do valor recuperável de ativos – pode ser revertido "total ou parcialmente". Para isso, porém, ela destacou que serão necessários investimentos na refinaria, que não estão na prioridade da estatal.

"As perdas da Petrobras podem ser revertidas total ou parcialmente. Mas, para isso, é preciso melhorar o potencial de refino, haver aumento do consumo de derivados e fazer novos projetos de investimentos", explicou Foster.

Cláusulas
De acordo com a dirigente, a cláusula Put Option – ou opção de venda – valia apenas para a Astra Oil e não para a estatal. “A Petrobras tinha o direito da decisão, e a Astra tinha o direito de sair da transação. Algo que parece razoável. A Petrobras não tinha direito à Put Option porque a Astra não tinha direito de fazer imposições. Tão simples quanto isso.”

A cláusula obrigava a Petrobras a comprar a participação da Astra em caso de conflito entre os sócios na condução do negócio. Questionada por parlamentares da oposição se essa posição não era contraditória com o argumento de Cerveró, usado em 16 de abril, Foster declarou que não tinha como falar pelo ex-diretor.

O resumo executivo feito pela área internacional, usada pelo conselho de administração da estatal para orientar a compra, omitia qualquer referência às cláusulas Marlim e Put Option que integravam o contrato. A primeira garantia à empresa belga Astra Oil e à Petrobras America Inc, rentabilidade mínima de 6,9% ao ano, mesmo com condições de mercado adversas. Graça Foster disse que a cláusula Marlim valeria tanto para a Astra como para a Petrobras America. “Marlim fez com que se viabilizasse o negócio, tanto para a Petrobras quanto para a Astra”, sustentou. Segundo Foster, essa cláusula nunca foi acionada porque não foi feita a melhoria na refinaria para processar o petróleo pesado.

Agência Câmara

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Marcelo Oliveira