Presidente do Atlético critica exigências da FIFA

25/03/2011 16h10

O presidente do Atlético Paranaense, Marcos Malucelli, afirmou durante a audiência pública que o clube não contratará empréstimo junto ao BNDES para concluir as obras de reforma da Arena da Baixada. "O Atlético Paranense não está atrás de nenhuma espécie de dinheiro público. Já concluímos 75% das obras de remodelação do estádio. Estamos, sim, em busca de parceiros, porque para concluir a reforma da Arena da Baixada são necessário R$ 100 milhões. O custo do dinheiro do BNDES, que oferece até R$ 400 milhões a TJLP (6% ao ano), mais juros de 1,9% ao ano, com três anos de carência e dez anos para pagar a dívida, é, na nossa avaliação, caro" disse.

Malucelli informou que o orçamento anual do Atlético é de R$ 50 milhões. "Se contrairmos uma dívida de R$ 100 milhões para atender a FIFA, para receber três ou quatro jogos do Mundial, vamos endividar o clube, que não terá capacidade para efetuar o pagamento e acabará inadimplente", reforçou

De acordo com ele, as exigências feitas pela FIFA em relação aos estádios para a Copa de 2014 são exageradas: "Na realidade, nós não temos a necessidade de concluir o estádio em função do que a FIFA impõe. Até mesmo porque a Copa não é do Atlético, é da cidade. O que estamos fazendo é deixar a Arena da Baixada à disposição da cidade, para que possa acolher os jogos do Mundial e, com isso, ter condições de receber recursos públicos para revitalizar Curitiba", ressaltou.

Malucelli revelou que a FIFA exige que o Atlético Paranense elimine os 300 pontos cegos existentes na Arena da Baixada, que dificultam a visão dos torcedores. "Essas cadeiras não são vendidas pelo clube. Bastaria, para a Copa, retirá-las. Mas a FIFA insiste na eliminação dos pontos cegos. Para tanto, teríamos que retirar pilares, o que implicaria o gasto de R$ 25 milhões. É preferível abrir mão do direito de receber os jogos da competição na Arena da Baixada".

Ele informou que a FIFA está a exigir, por exemplo, que cada estádio brasileiro disponha de capacidade de 2.500 lux: "Os jogos da Copa do Mundo são realizados de dia. Jamais à noite. Não precisamos aumentar a nossa capacidade, que é de 800 lux e atender todas as necessidades do clube em relação às competições estaduais, nacionais e internacionais da qual participa. Essa é uma exigência sem sentido", lamentou.

Sobre a capacidade de pagamento do Atlético Paranaense, Malucelli informou que o clube, hoje, tem uma dívida de apenas R$ 7 milhões em tributos, e que os rendimentos garantidos pela Timemania garantirão que o débito seja quitado antes do prazo.

Ele solicitou aos deputados que integram a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle que realizem uma ação junto à FIFA para que a entidade reduza as exigências constantes do caderno de compromissos. Malucelli observou que as exigências feitas agora pela FIFA não são as mesmas em relação à África do Sul e que a entidade pode mudá-la a qualquer momento, porque dispõe de poder discricionário para isso.

Morumbi quer sediar o jogo inaugural da Copa de 2014

O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, disse durante a audiência que o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014 será realizado no Morumbi e que a Copa de 2014 vai fazer pelo Brasil o que os Jogos Olímpicos de 2008 fizeram pela China. "A China não conseguiu se mostrar ao mundo até a realização dos Jogos de Pequim. Em apenas 40 dias, com a realização dos Jogos, a China conseguiu mostrar toda a sua competência e progresso", afirmou ele.

Para que a Copa de 2014 garanta os benefícios que pode oferecer, Juvêncio disse que é fundamental que o governo e o Congresso disponham-se a ajudar os clubes: "Os clubes estão descapitalizados. Acima de tudo, em virtude das características de distribuição de renda no Brasil. Por isso, enquanto na Inglaterra um ingresso para uma partida de futebol custa 200,00, no Brasil não podemos cobrar R$ 40,00. Isso tem que ser entendido".

Apesar de ter afirmado que o Morumbi receberá o primeiro jogo da Copa de 2014, o presidente do São Paulo admitiu que o clube e seus parceiros da iniciativa privada estão enfrentando grandes dificuldades para conseguir recursos para as obras de revitalização do estádio: "Nós não temos orçamento público, ao contrário dos estados e dos municípios. Então, é indispensável encarar esse fato com propriedade. Porque, afinal, são os clubes que jogam futebol. Governo não pratica esporte e não joga futebol".

Sobre o interesse do São Paulo na linha de financiamento do BNDES Juvêncio disse que a utilização desse empréstimo é um desembolso que o banco realizará com garantia total de retorno. "O São Paulo vai querer, sim, uma fatia desse valor", ressaltou.

Sobre os gastos excessivos e irregulares que foram feitos para a realização dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, Juvêncio afirmou que eles derivaram da descoordenação que caracterizou as relações do governo do Estado do Rio com a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Ele alertou para o fato de que a falta de planejamento demonstrada, até o momento, pelo governo federal, em relação às necessidades da Copa de 2014, pode colocar a organização do Mundial do Brasil em risco: "Se essa realidade prevalecer, correremos riscos, porque, aí, tudo vai ser feito de afogadilho e as distorções serão inevitáveis".

Wilson Teixeira Soares - CFFC