Modelo de crescimento econômico do Brasil é visto com preocupação por economistas
Asscom CFFC
“Não podemos permitir que o crescimento econômico do país esteja baseado no endividamento das famílias brasileiras, por isso estamos reunidos aqui hoje”. Com essas palavras, o deputado Edmar Arruda (PSC/PR), presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados deu início ao Seminário “Políticas Públicas de Estímulo ao Consumo e seus Reflexos na Economia do Brasil”, nesta quarta-feira (22), na Câmara dos Deputados. O evento marcou a abertura do VIII Encontro dos Economistas da Região Centro-Oeste.
O secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique de Oliveira, destacou a importância do encontro e parabenizou o deputado Edmar Arruda por ter reunido debatedores de diversas áreas da economia e setores da sociedade. O secretário defendeu em sua apresentação a tese de que os estímulos ao consumo e o endividamento das famílias estão dentro de patamares normais.
De acordo com o secretário, o volume de investimentos vem se mantendo superior ao índice de consumo das famílias e as medidas de estímulo ao consumo, como redução de impostos para automóveis e de juros do crédito, são importantes e já surtem efeito. Os estoques excessivos da indústria, por exemplo, vêm caindo, o que significa que as medidas tem impacto positivo sobre o setor. Oliveira destacou que as políticas econômicas que vêm sendo adotadas pelo Governo Federal vão muito além do incentivo ao consumo e são bem mais complexa do que essa medida isolada.
Para o representante do Governo Federal, a nova matriz econômica do país envolve redução de juros, a moeda brasileira mais competitiva, solidez fiscal com contenção de gastos de custeio e aumento dos investimentos, reforma da estrutura tributária com simplificação, desburocratização de tributos e também as políticas de estímulo ao consumo.
O representante do Banco Central do Brasil, Túlio Maciel, corrobora a postura do representante do Ministério da Fazenda e destacou em sua apresentação que não se pode ignorar que as medidas de estímulo ao consumo garantem bem estar ao brasileiro. Para ele é preciso sim estar atento à relação investimento/consumo e consumo/PIB, mas que essas relações estão em patamares considerados adequados no país e em situação similar a maior parte de países do mundo.
Outro tema destacado pelo diretor do BC foi as pesquisas que falam sobre o endividamento do brasileiro. “É preciso ter cuidado na leitura dessas pesquisas, é preciso saber qual metodologia está sendo empregada, a pessoa pode considerar o aluguel que tem que pagar nos próximos meses como uma dívida, mas isso não é de fato endividamento”, afirmou. Maciel destacou que o Banco Central só considera endividamento aquele efetuado junto ao mercado financeiro e que o endividamento que cresce mais fortemente no país é o crédito imobiliário.
Já para o presidente do Conselho Federal de Economia, Ermes Tadeu Zapelini, o cenário econômico do país é preocupante e as taxas de juros praticadas são inacreditáveis. A logística e infraestrutura do país foi outro ponto destacado por ele como em situação caótica “Nós estamos transportando as riquezas do Brasil em milhares de caminhões, não há lógica nenhuma na logística brasileira”, ressaltou.
O presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manoel Enriquez Garcia, relembrou em sua apresentação que há pouco tempo os Estados Unidos estavam entrando em uma crise profunda em sua economia. Na época as medidas no Brasil foram de incentivo ao consumo para tentar manter as famílias brasileiras e o país em ritmo de crescimento. Para Garcia essas medidas trazem algumas complicações além do endividamento, que segundo o expositor, já atingiu 57% das famílias, mas também a dificuldade de criação da poupança interna. A política praticada pelo Governo Federal, para ele, foi correta pontualmente, mas é incorreta do ponto de vista do médio e longo prazo. “Não há como consolidar um crescimento sustentável baseado nessa política, porque ela está sustentada no endividamento das famílias e isso não pode ser positivo”.
O professor André Sachsida é pessimista frente ao cenário atual. Para ele o Brasil está sim desenhando o retrato de um desastre. O pesquisador destacou que “não há nenhum problema da iniciativa privada conceder crédito imobiliário para pessoas com capacidade de pagamento duvidosa, essa é uma prática de mercado, arrisca-se quem quiser, o problema é que no Brasil quem está se arriscando é a Caixa Econômica Federal, um banco público, que tem garantia de liquidez do Tesouro Nacional”.. Para Sachsida aquecer um mercado já bastante aquecido como o imobiliário é uma política arriscada e pode levar o país a uma crise sem precedentes. “A intenção do governo de dar casa própria a pessoas pobres é louvável, mas as consequências podem ser trágicas”, destacou.
As apresentações do Seminário foram encerradas pelo representante do Instituto Ludwig Von Mises Brasil, Fernando Ulrich que, na mesma linha do palestrante antecessor, considera a situação da economia brasileira preocupante e que medidas de estímulo ao consumo devem ser interrompidas para evitar o endividamento insustentável das famílias. “Além de não incentivar o consumismo, o governo também não deveria reduzir artificialmente os spreads bancários; essa redução deveria ser causada por políticas de mercado”, destacou.
O presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, Edmar Arruda (PSC/PR), considera que a discussão sobre as políticas públicas mais adequuadas para manter o Brasil em um ritmo de crescimento sustentável foram ricas e irá gerar frutos. “Acredito que esse evento, em que conseguimos reunir economistas de diversos segmentos, foi só o começo e demonstra como todos estão preocupados em garantir que o país cresça de forma segura para todos os brasileiros e seja uma grande potência nos próximos anos”, finalizou Arruda.
Veja notícia sobre o Seminário no Jornal da Câmara.