Ministro da justiça diz que não há parlamentares sendo investigados sobre corrupção no Metrô de SP

Em audiência pública conjunta das Comissões de Fiscalização Financeira e Controle - CFFC; de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC; e de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado – CSPCCO na Câmara dos Deputados, na quarta-feira (4/12), ouviu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre as circunstâncias da fuga para a Itália do ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato e denúncias de cartel no metrô de São Paulo e do Distrito Federal que virou sessão de desabafo das indignações de parlamentares citados nas supostas acusações. O ministro afirmou que nenhum parlamentar está sendo investigado no inquérito que envolve as denúncias de corrupção entre a empresa Siemens e metrô.
25/03/2011 16h10

Anotnio Jacinto Indio

Ministro da justiça diz que não há parlamentares sendo investigados sobre corrupção no Metrô de SP

Cardozo,disse que lamenta profundamente que os documentos tenham vazado.

O requerimento convidando o ministro para audiência foi apresentado pelos deputados Carlos Sampaio (SP), atual líder do PSDB, Vanderlei Macris (SP) e Otavio Leite (RJ), presidente da Comissão de Segurança. Eles argumentaram que, embora seu partido seja favorável à rigorosa apuração de denúncias relacionadas a desvios de recursos públicos, “não pode compactuar com a exploração arbitrária e covarde de carta-denúncia apócrifa, imprestável, sem que sejam realizadas diligências preliminares, até mesmo para a instauração de inquérito policial, de acordo com o entendimento dos nossos tribunais superiores”.

Durante audiência, o deputado Edinho Bez (PMDB-SC), presidente da CFFC, elogiou a postura do ministro em faze cumprir a lei, e a sua coragem para enfrentar problemas, independentemente da situação que se coloque os seus pares. "Tenho orgulho em ter participado, como deputado federal, de momentos de destaque nesta casa”, assinalou o parlamentar.

Disputas partidárias

O ministro foi acusado pelo líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), de ter encaminhado o documento sem checar sua veracidade para prejudicar seu partido. Ele afirmou que o fato de ter recebido o documento de um petista, com denúncias sobre adversários exigia dele maior prudência.
O líder acusou o ministro de ter sido leviano ao desconsiderar que entre os documentos recebidos havia uma carta cuja tradução foi feita de forma a comprometer os integrantes do PSDB. No dossiê havia duas cartas, uma em inglês, outra em português.

O ministro afirmou que não havia uma tradução, mas dois documentos. O deputado afirmou que o documento em Português reproduzia alguns parágrafos do documento em Inglês e, entre eles, foram enxertados os parágrafos que comprometeriam os políticos, o que não havia no original.

O ministro alegou que agiu estritamente como manda a lei e lembrou que Sampaio acusou o ex-ministro da Justiça Tarso Genro de prevaricação quando ele demorou a encaminhar à Polícia Federal documentos contra integrantes do Governo Lula. "Vossa Excelência disse que nunca conheceu um ministro que agiu como eu agi. Mas engavetadores vossa excelência deve ter conhecido muitos porque eu vi vários, vários que recebiam denúncias e selecionavam. Sangue azul? Não se apura. Sangue Vermelho? Se apura. Um ministro da Justiça não pode agir assim."

Logo após se solidarizar com os tucanos que lamentaram os vazamentos, o ministro lembrou que está processando o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal (PSDB-SP), por injúria. Aníbal se licenciou do cargo por dois dias para reassumir seu mandato como deputado federal apenas para participar da audiência e assumir o embate com Cardozo. Aníbal foi citado nos documentos encaminhados por Cardozo à PF como sendo muito próximo de um dos lobistas do cartel.

A maior parte dos citados no documento pertence ao PSDB, partido do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O deputado José Aníbal (PSDB-SP), que é secretário estadual de Energia e retomou o mandato nesta quarta-feira para participar da audiência pública, afirmou que o vazamento do documento foi feito por alguém do alto escalão do ministério. Ele também questionou a origem do documento, afirmou que todas suas informações financeiras estão disponíveis e cobrou investigações rápidas.

Aníbal disse a Cardozo tem agido de forma não democrática e acusou o deputado Simão Pedro, que entregou os documentos de autoria do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer ao ministro da Justiça, de ser o autor das denúncias. "Quero dizer quem acho que é o autor: é o deputado Simão Pedro. Ele consolidou isso aqui, inclusive com uma relação promíscua que ele deve ter com o Everton (Rheinheimer, ex-diretor da Siemens)", afirmou Aníbal. Ele disse ter "nojo" da forma como a denúncia foi vazada.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) acusou Cardozo de se manifestar sobre assuntos que não são de sua competência, e tomar partido de assuntos partidários. "Vossa excelência não usa da estatura que tem. Agiu contrariamente a tudo o que sempre defendeu. Valeu-se do cargo, levou adiante a denúncia que recebeu em maio, mas olha que coincidência, foi vazada na semana da prisão de José Dirceu", ironizou o deputado que completou: "O seu proceder no episódio Siemens envergonha o cargo que Vossa Excelência ocupa".
 
CPI para investigar denúncias

Os deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP) defenderam a criação de uma CPI para investigar as denúncias, que também envolvem o governo do Distrito Federal.

O ministro afirmou que espera que as investigações se tornem mais rápidas na medida em que for retomada a colaboração com outros países onde esses casos também estão sendo investigados. Cardozo informou que, na Suíça, um ex-diretor da Companhia de Trens Metropolitanos de São Paulo já foi condenado, mas quando o Brasil pediu informações sobre o processo, descobriu-se que a Suíça tinha pedido a colaboração brasileira por diversas vezes e os pedidos haviam sido arquivados pelo Ministério Público, situação que criou problemas de relacionamento que se está tentando solucionar.

Cardozo voltou a ser acusado de politizar as investigações, mas destacou novamente não achar "correto que se utilize como objeto político algo que deve ser alvo de investigação".