Especialistas debatem diferenciação entre Educação Física escolar e esporte competitivo

Debate foi requerido pelos deputados Delegado da Cunha (PP/SP), Flávia Morais (PDT/GO) e Luiz Lima (PL/RJ)
28/06/2023 18h35

Ascom/Cespo

Especialistas debatem diferenciação entre Educação Física escolar  e esporte competitivo

Audiência pública para debater a diferenciação entre Educação Física escolar e esporte competitivo

Nesta quarta-feira, a Comissão do Esporte realizou uma audiência pública para debater a diferenciação entre Educação Física escolar e esporte competitivo no ambiente da Educação Básica Nacional, em atenção aos Requerimentos nº 9, 20 e 22, de autoria dos deputados Delegado da Cunha, Luiz Lima e Flávia Morais, respectivamente.

Por muitos anos, o Esporte Escolar (competição entre crianças e jovens) foi e é conduzido com uma série de equívocos que merecem atenção dos gestores da administração pública. Ao nos fazermos valer das estratégias do esporte espetáculo no seio da escola estamos, de fato, propiciando: a exclusão dos menos hábeis; a substituição das aulas que deveriam ser para todos para atender apenas aos que participam das equipes; a terceirização da educação em muitas escolas que suprimem as aulas ministradas por professores (licenciados) e atribuem a esportistas sem a devida formação; a suspensão de aulas para os competidores participarem e os demais como torcida entre inúmeros outros fatores negativos.

Elizabeth Laurindo, segunda secretária do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), afirmou que “a prática de atividades físicas nos primeiros anos da infância está associada a uma série de resultados positivos para a saúde”, portanto há uma relação positiva entre atividades físicas e desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais. De acordo com ela, o único espaço para a prática orientada de aprendizagem significativa pelo esporte são as instituições públicas, já que concentram cerca de 80% das crianças e adolescentes, já que “muitos desses jovens não têm condições de pagar por aulas extras de alguma modalidade esportiva”, enfatizou.

Para Daniel Carreira Filho, professor doutor, criador e editor da Revista Brasileira de Educação Física Escolar, a educação física escolar não pode ser considerada como esporte já que o objetivo das aulas não deve ser a competição. “O que deve existir, com muita clareza, é como aproximar as crianças, jovens e adolescentes das possibilidades das práticas da cultura corporal do movimento”, citou. Ele acredita que o tempo que se tem deve ser utilizado para que todas as crianças participem das atividades, sejam respeitadas com as devidas diversidades e aprendam a trabalhar cooperativamente com os colegas 

Roberto Gimenez, professor e pesquisador dos programas de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, disse que a diversificação de modalidades e práticas na educação física é fundamental para incluir aqueles que são excluídos nas modalidades tradicionais.  De acordo com ele, fazer um discurso simplista sobre a educação física é extremamente perigoso, pois não considera a complexidade e a importância dessa disciplina. “Estudos mais recentes mostram que aulas de Educação Física voltadas para o currículo cultural são mais inclusivas do que o esportivo”, afirmou. Ao contrário de outras disciplinas, a educação física muitas vezes não conta com programas extracurriculares abrangentes, limitando-se a grupos de treinamento em algumas modalidades específicas, direcionados apenas aos alunos mais aptos.

Para Francisco Eduardo Caparroz, professor doutor da Universidade Federal do Espírito Santo, a Educação Física é um componente curricular abrangente, que engloba diversas atividades corporais, incluindo o esporte. No entanto, ele cita que nem todas as atividades físicas se enquadram necessariamente como esportes. “Um exemplo disso é a caminhada, que é considerada uma atividade física, mas não é praticada necessariamente para a competição. Muitas vezes, as pessoas a praticam por lazer ou por questões de saúde”, afirmou. É essencial compreender que ao longo dos mais de 12 anos de escolaridade, os estudantes deveriam ter a oportunidade de se envolverem em uma ampla variedade de atividades corporais, visando não apenas o desenvolvimento físico, mas também o bem-estar e a compreensão dos benefícios dessa cultura corporal.

Walter Roberto Correia, professor livre docente da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, enfatizou que o desenvolvimento da personalidade e o senso de cidadania não são prioridades exclusivas do esporte, mas sim de toda a educação e do ambiente escolar como um todo. De acordo com ele, devem ser questionadas narrativas simplistas do senso comum que já foram refutadas em momentos históricos passados. Portanto, é necessário um enfoque mais abrangente e inclusivo na promoção das práticas esportivas e culturais, de forma a visar uma formação integral que valorize a diversidade e o potencial de cada indivíduo.

 

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Por Ascom/Cespo