Em audiência sobre os benefícios da capoeira, convidados exaltam aspectos sociais da modalidade dentro e fora do Brasil

Reunião, na tarde desta segunda, 25, foi presidida pelo primeiro vice-presidente da Cespo, deputado Julio Cesar Ribeiro, e teve como sugestão dos participantes a inserção da modalidade no conteúdo das aulas de Educação Física do ensino Fundamental
25/10/2021 18h55

Reila Maria/Câmara dos Deputados

Em audiência sobre os benefícios da capoeira, convidados exaltam aspectos sociais da modalidade dentro e fora do Brasil

Requerente da audiência, deputado Julio Cesar Ribeiro declarou que dará continuidade às ações de incentivo à prática da capoeira no DF

“Os benefícios da capoeira para a qualidade de vida e o bem-estar social” foi o tema da audiência pública realizada pela Comissão do Esporte da Câmara (Cespo) na tarde desta segunda-feira, 25. A reunião atendeu a requerimento do primeiro vice-presidente do colegiado, deputado Julio Cesar Ribeiro (Republicanos-DF). 

 

"A capoeira como esporte foi institucionalizada em 1972, pelo Conselho Nacional de Desportos. A prática regular contribui para a promoção da saúde, qualidade de vida e bem-estar social. A atividade ainda é elemento de adaptação e reabilitação no universo da pessoa com deficiência e do idoso”, destacou o parlamentar. 


No Brasil, estima-se que há 5 milhões de praticantes de capoeira, reconhecida como patrimônio cultural imaterial brasileiro, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A história da atividade está ligada ao período de escravidão no Brasil, pois foi difundida pelos negros escravizados trazidos da África. Até o ano de 1930, era proibida no nosso país.

A primeira convidada a fazer exposição na audiência foi a secretária nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social do Ministério da Cidadania, Fabiola Molina. Ela exaltou a prática da capoeira para a promoção do bem-estar físico e mental, combatendo, segundo ela, a ansiedade, que classificou como ‘mal do século’. Sobre as políticas públicas disponibilizadas pela pasta de Molina para o desenvolvimento do desporto nos municípios, foi citado o programa Meu Melhor que, de acordo com a secretária, depende da complementação de emendas parlamentares.

“A capoeira é um pouco de tudo, de cultura, de dança e de esporte. A gente acredita que é um instrumento poderoso, principalmente de inclusão social, transformador da vida das pessoas, e democrático, pois numa roda podem jogar pessoas de várias idades. Em relação ao programa Meu Melhor, damos as diretrizes sobre contratações, gestão, aquisição e utilização de materiais, e cabe aos municípios apontar as modalidades de maior interesse dos cidadãos”, explicou Fabiola Molina, acrescentando que o último dia para encaminhamento de emendas parlamentares ao programa é 16 de novembro, e que informações sobre podem ser encontradas no portal do Ministério da Cidadania. 

 

Atleta representante da capoeira em São Tomé e Príncipe, Maykel Ribeiro Furtado ressaltou em sua exposição na audiência pública o efeito transformador da atividade na vida de seus praticantes.

 

“Eu sou o fruto da semente plantada pela capoeira em São Tomé e Príncipe, a atividade é a minha vida. Um de meus alunos, antes de iniciar nesse esporte, era rejeitado pela sociedade por ser violento, mas a capoeira o transformou. Tornou-se um educador, é convidado para dar aulas para crianças porque houve essa promoção de mudanças no corpo, na mente e na alma”, contou Maykel. 

 

Rommel Jorge Marques Maia, diretor da Escola Parque da 313/314 Sul, em Brasília, afirmou que ocorre grande mudança no comportamento das crianças que praticam capoeira na unidade de ensino, que se tornam, principalmente, mais disciplinadas. 

 

“A capoeira também é um esporte agregador, une as famílias. Vemos pais, às vezes, participando de eventos com os filhos e entram nas rodas de terno e gravata mesmo, fazem questão de participar daquele momento de jogar com as crianças. Menores em situação de vulnerabilidade passaram a ter uma outra visão de suas vidas, longe da criminalidade, da violência e das drogas graças à capoeira”, afirmou o diretor, que sugeriu a inserção da modalidade no conteúdo das aulas de Educação Física do ensino Fundamental para melhorar desenvolvimento dos alunos. 


O diretor geral do Desporto do Ministério da Juventude e do Desporto de São Tomé e Príncipe, Akadiry Emery Marcal, contou que, no país africano, a capoeira é a segunda modalidade mais praticada, com cerca de 3 mil adeptos, ficando atrás apenas do futebol.

 

“Por meio da capoeira fortalecemos os laços de cooperação e humanitários entre São Tomé e Príncipe e o Brasil. O esporte tem servido, serviu, e servirá para o entendimento e igualdade entre homens e mulheres. Nossos antepassados protegeram a capoeira, agora, cabe a nós dar continuidade”, declarou Akadiry Emery Marcal. 

 

O convidado Carey Million, antropólogo, exaltou os benefícios psicológicos da prática da capoeira, em especial a criatividade. 

 

“A capoeira promove, ainda, um ambiente de acolhimento, de aceitação e de respeito, porque pessoas de todas as idades, raças, classe social ou com deficiência jogam juntas”, completou o antropólogo. 


Presidente do grupo de capoeira Raízes do Brasil, Ralil Salomão encerrou as exposições da audiência. Praticante da atividade há 48 anos, Salomão enfatizou que o esporte está presente em 170 países, e que é um dos maiores propagadores da língua portuguesa no mundo. 

 

“Músicas e golpes são ensinados nas aulas fora do nosso país em Português. Isso faz com que os estrangeiros se aprofundem e conheçam melhor a história do Brasil. O aspecto democrático da capoeira é seu grande diferencial. Projetos desenvolvidos na Faixa de Gaza, por exemplo, agregam alunos palestinos e israelense, eles entram nas rodas juntos, independentemente da crença religiosa. Por ser uma arte genuinamente brasileira, também é aplicada como complemento do aprendizado de disciplinas como Matemática, Geografia e História. Em relação à saúde física e mental os ganhos são enormes. Não podemos deixar de destacar a parte da inclusão social e de atender, especialmente, crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, que não se deixam influenciar pela violência ou criminalidade, ou abandonam a escola”, disse Ralil Salomão.  

 

O deputado Julio Cesar Ribeiro encerrou a audiência reforçando que continuará com o trabalho de incentivar a prática da capoeira no Distrito Federal para que essa proposta seja difundida mais e melhor pelo Brasil e possa servir de exemplo no exterior. 


Confira o vídeo completo da audiência pública sobre a capoeira no link - cd.leg.br/3zmvyN

*Por ascom Cespo, Patrícia Fahlbusch (DRT 051791).