Em audiência sobre as Olímpiadas de Tóquio, presidente da Cespo diz que verba deve atender à ponta da cadeia desportiva

Deputado Felipe Carreras participou de reunião, nessa terça, que considerou a campanha positiva dos atletas nos últimos jogos e as sugestões de iniciativas que promovam o esporte de alto rendimento
22/09/2021 15h05

Gustavo Sales - Câmara dos Deputados

Em audiência sobre as Olímpiadas de Tóquio, presidente da Cespo diz que verba deve atender à ponta da cadeia desportiva

Presidente da Cespo, deputado Felipe Carreras defende avanços na legislação para o desenvolvimento do desporto no Brasil

A performance dos atletas brasileiros nas Olimpíadas de Tóquio, bem como os desafios impostos ao Brasil e ao mundo por conta da pandemia da Covid-19 para a realização desses jogos e as ações necessárias para ampliar a promoção do esporte de alto rendimento no país foram os assuntos de destaque da audiência pública da Comissão do Esporte da Câmara (Cespo) realizada na terça-feira, 21/09. O presidente do colegiado, deputado Felipe Carreras (PSB-PE), pontuou que, apesar da campanha positiva de Tokyo 2020, há grande necessidade de avançar com a legislação para proporcionar o empoderamento de clubes, confederações, federações e demais entidades ligadas ao desporto visando melhorar o desenvolvimento do setor. 

 

“Precisamos, também, de atenção em relação à melhor gestão dos recursos encaminhados ao esporte, pois é urgente fazer com que essa verba pública atenda efetivamente e chegue a quem está na ponta dessa cadeia”, ressaltou Carreras, que é o relator na comissão especial criada na Câmara para analisar o projeto que propõe mudanças na Lei Pelé (nº 9615/1998).

 

No Japão, os atletas olímpicos conquistaram 21 pódios, e o Brasil ocupou a 12ª colocação no ranking geral de medalhas, com 7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze. Proponente da audiência pública, o deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ) considerou a importância da parceria que deve haver entre educação e o esporte no país. Segundo ele, as universidades federais devem ter suas infraestruturas esportivas mais bem aproveitadas e funcionando em sintonia com as áreas de conhecimento dessas instituições: 

 

“O Ministério da Educação é grande aliado do desporto nacional, e pode proporcionar mais ferramentas ao Comitê Olímpico do Brasil e às secretarias estaduais, por exemplo, para aumentar a participação e a prática do esporte entre as crianças, jovens, adultos e idosos”, disse o parlamentar, que é ex-nadador olímpico.

 

Luiz Lima se emocionou após a exposição de Yane Marques, presidente da Comissão de Atletas do COB, que chamou a atenção para a situação de atletas olímpicos no pós-carreira. Com a voz embargada, o deputado contou um pouco de sua trajetória como nadador, instrutor de natação, até ser eleito para o Parlamento, e que está ciente e solidariza com os esportistas que enfrentam problemas nessa fase como a inserção no mercado de trabalho. 

 

“Eu vejo muitos atletas olímpicos, hoje, passando por muitas dificuldades. A quantidade de pedidos que a gente recebe de ajuda a ex-atletas olímpicos não para. E eles não tem formação universitária. É muito triste para o país ver os nossos heróis sem formação universitária, alguns tem dificuldade até na escrita. Quem chega a uma medalha olímpica tem uma característica no DNA de vencedor e que, certamente, vai levar para a profissão que for escolher”, declarou Luiz Lima, que estuda apresentar proposta visando facilitar o ingresso de ex-atletas olímpicos nas universidades federais. 

 

A presidente da Comissão de Atletas disse que, com o término dos jogos, enquanto alguns esportistas retomam a rotina de treinamento e de participação em competições, outros encaram a fase do pós-carreira. Também contando um pouco sobre sua experiência de vida, a pernambucana foi atleta profissional - pentatlo, olímpica e universitária - até completar 32 anos. Nessa idade, e como já tinha graduação, focou em seu plano de carreira visando, por exemplo, à aposentadoria. Mas, segundo pontuou, nem todos os esportistas tem essa visão de futuro, e acabam ficando desamparados. 

 

“O COB tem cursos e ações de apoio ao ex-atleta olímpico para dar a ele um direcionamento. Dessa forma, ele pode decidir melhor sobre o que fazer a partir dessa fase de sua vida. Além disso, também temos sugestões voltadas a resolver essa demanda no âmbito da legislação”, declarou Yane, citando projetos que propõem mudanças na Lei Pelé que tramitam no Parlamento, e o Plano Nacional do Desporto, há anos sob responsabilidade do governo federal, e nunca apresentado ao Congresso Nacional. 

 

Bruno Souza, secretário Nacional de Alto Rendimento, disse que os resultados brasileiros de Tokyo 2020 são fruto não só de investimentos nos atletas, mas nas diferentes modalidades esportivas, nas equipes e profissionais envolvidos na preparação dos esportistas, e na estrutura dos ambientes de treinamento, por exemplo. Já o técnico de maratonas aquáticas Fernando Possenti disse que iniciativas ofertadas pelo Comitê Olímpico do Brasil como a que ele participou, visando à preparação mental dos treinadores para a disputa dos jogos, devem ser continuadas e ampliadas tendo em vista os aspectos positivos que proporcionam aos profissionais. Possenti atuou com Ana Marcela Cunha, ouro na maratona aquática em Tóquio. A nadadora é terceiro-sargento da Marinha do Brasil.

 

A participação de atletas das Forças Armadas que representaram o Brasil no Japão foi abordada pelo major-brigadeiro do ar João Campos Ferreira Filho, presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil. Além de mostrar os números desses esportistas nos jogos, Ferreira Filho disse que os preparativos para Paris 2024 devem considerar a busca de novas fontes de recursos; a identificação e detecção de talentos do desporto; a redefinição do número de participantes do Programa de Incorporação de Atletas de Alto Rendimento - PAAR, voltado às Forças Armadas; a manutenção das instalações esportivas; e o alinhamento com as necessidades do COB. 

 

Na exposição feita na audiência pública da Cespo, o presidente do COB, Paulo Wanderley Teixeira, destacou que a conquista do esporte brasileiro em Tokyo 2020 foi um grande avanço em relação às marcas anteriores, sobretudo no número de medalhas e de modalidades em que nossos atletas se classificaram. Jorge Bichara, diretor de Esportes do COB, abordou o adiamento de um ano das Olimpíadas em função da pandemia da Covid-19, e os desafios para adequar e planejar a participação brasileira em meio às medidas de combate à doença. 

 

“Aprendemos formas melhores de organizar nossa estrutura e garantir condição sanitária de qualidade para as equipes, além de segurança na representação internacional. Não levamos nenhum vírus para o Japão, e não trouxemos vírus para o Brasil”, afirmou Bichara. 

 

Guilherme Schleder, secretário municipal de Esportes do Rio de Janeiro, ressaltou o trabalho complementar ao do alto rendimento que é feito nas bases. Como exemplo, ele citou a prática desportiva nas 27 vilas olímpicas na cidade do Rio, que revelaram talentos como a atleta Chayenne da Silva, dos 400 metros com barreiras; e a velocista Rosângela Santos, revelação da Vila Olímpica de Padre Miguel, bairro da Zona Oeste da capital fluminense. 

 

O secretário executivo de Esportes de Pernambuco, Diego Pérez, destacou o papel dos nordestinos na campanha de Tokyo 2020, bem como a performance das mulheres nos jogos. 

 

“Isso nos leva a dois caminhos: representatividade, ou seja, batalhar cada vez mais pela inserção das mulheres em todas as modalidades e todos os caminhos possíveis da sociedade, e também da descentralização dos investimentos. O Nordeste, com pouco atenção, e com todas as dificuldades, isso ao longo de décadas, conseguiu e tem conseguido fortalecer o esporte nas Olimpíadas, Paralimpíadas e outras competições”, avaliou. 

 

Ricardo Avellar, gerente de formalização do Comitê Brasileiro de Clubes, expôs a relação entre as marcas obtidas nos últimos jogos e os clubes: 77% dos esportes com medalhas tiveram atletas formados nessas instituições, entre eles, a ginasta Rebeca Andrade, que é do Flamengo; 92% das instituições que enviaram esportistas ao Japão são clubes formadores; e das 21 medalhas brasileiras, 15 foram conquistadas por atletas de clubes formadores. 

 

“É muito importante a gente reafirmar a todo tempo que o clube é fundamental para que a gente chegue aos bons resultados, especialmente nos Jogos Olímpicos, e faz parte da nossa cultura esportiva de rendimento e de representatividade”, disse Avellar. 

 

Por fim, Antônio Carlos ‘Kiko’ de Oliveira Pereira, secretário municipal de Esporte, Lazer e Juventude de Porto Alegre, e treinador de judô da Sociedade de Ginástica de POA, a Sogipa, ressaltou a importância da eleição de políticos que tenham “compromisso leal com o esporte”. 

 

“Que vocês que já estão trabalhem cada vez mais, e que os grandes atletas e treinadores ocupem os espaços mais importantes do país, no caso o Parlamento nacional, pois o nosso tema, esporte, é tão importante quanto outros segmentos da nossa sociedade”, afirmou Antônio ‘Kiko’.

 

Confira o vídeo completo da audiência pública no link - cd.leg.br/cWxX3Y

 

Por ascom Cespo - Patrícia Fahlbusch, DRT 051791