Debatedores pedem alterações na legislação que regulamenta futebol de base
Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
O deputado Vicente Candido, autor do pedido de realização da audiência, quer garantir que o esporte seja desenvolvido de forma correta
Os coordenadores de futebol de base de vários clubes brasileiros reclamaram das dificuldades em formar, manter e construir elencos de base por conta das legislações que impedem atletas com menos de 14 anos de assinarem contratos. As críticas foram feitas nesta quarta-feira (8) em audiência pública realizada pela Comissão do Esporte em conjunto com a Comissão Especial de Reformulação da Legislação do Esporte.
Requerido pelo deputado Vicente Candido (PT-SP), o encontro debateu a situação atual do futebol de base no Brasil. O deputado acredita que é importante modificar a legislação que rege a formação dos clubes para que o esporte seja desenvolvido da forma correta.
“No Brasil, os campeonatos da categoria de base têm sido uma verdadeira vitrine de novos talentos. Por outro lado, os problemas com a categoria são muitos, entre eles, uma legislação que enfraquece o trabalho formador dos clubes”, lamentou.
Problemas
O coordenador de Futebol de Base da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Erasmo Damiani, destacou vários problemas que afligem os clubes. Entre eles estão a exigibilidade de um contrato de formação do atleta apenas aos 14 anos e a possibilidade do atleta não querer assinar seu primeiro contrato com o clube que o vem treinando. "Nós temos que evoluir, pois estamos muito atrás dos demais países e ficaremos cada vez mais pra trás se não mudarmos as propostas", disse.
O coordenador da base do Palmeiras, João Paulo Sampaio, afirmou que a legislação atual pune os clubes de futebol que formam os jogadores, pois não existe uma certeza de que o atleta assinará contrato com o clube formador. "O mercado de base anterior ao movimento dos coordenadores de base [criado pela CBF], além de não ser protegido, era prostituído, porque sempre ganhava quem tinha mais poder financeiro", disse.
Sampaio afirmou que os clubes não querem que a legislação volte a ser a mesma de antes da Lei Pelé (Lei 9.615/98), mas pediu bom senso. Segundo ele, a lei brasileira é frágil em comparação às de outros países. “Não dá pra investir tanto e não estar protegido. Semana passada eu cheguei da Espanha com três sondagens a jogadores do Palmeiras e sei que será difícil renovar com eles", reclamou o coordenador.
Custos
O advogado do Grêmio, Jorge Peterson, trouxe dados que mostram os prejuízos que os clubes têm em função das incertezas na formação dos atletas da base. "Nós temos cerca de 170 jogadores nas categorias de base, de 14 anos em diante. O Grêmio gasta mais de R$ 18 milhões por ano na formação da base. Ano passado, vendemos dois jogadores da base por R$ 12 milhões. O valor não paga os custos anuais com a formação dos atletas. Nós estamos cobrindo o que o Estado não está fornecendo, atuamos como agentes sociais", afirmou.
O deputado Andres Sanchez (PT-SP) relatou que, na época em que era presidente do Corinthians, pensou várias vezes em encerrar as categorias de base do clube em função das dificuldades impostas pela lei. "Em 2010 faltou pouco para fechar a base porque a gente só tem prejuízo. A Lei Pelé foi boa para os jogadores bons e os medianos. Para os ruins foi ruim e pros clubes foi uma desgraça", disse.
O coordenador do Santos, Ronaldo Lima, afirmou que praticamente nenhum dos atletas formados pelas categorias de base do Santos tem contrato assinado com os clubes e sim com grupos de empresários. "Eu tenho 80% da minha base com passe de empresário, porque eles oferecem ajuda de custo à família e até apartamento, enquanto a legislação não me permite dar sequer alojamento ao jogador", disse, indignado.
Por fim, o deputado Sanchez afirmou que os problemas da base são muito maiores do que simplesmente a limitação da idade para assinatura dos contratos. "É preciso ser mais realista, se o problema da base fossem os 12 anos, talvez nós conseguíssemos solucionar mais rápido, os problemas são muito maiores que esses, tanto no começo quanto no final. Nós temos aqui, em média, três mil e quinhentos atletas, sendo que por volta de 15% apenas acaba virando jogador de futebol sem estudo", finalizou.
Agência Câmara Notícias