Segundo dia de seminário LGBT aborda cultura do ódio e necessidade de representação política de LGBTs

O segundo e último dia do XIII Seminário LGBT do Congresso Nacional “O Próximo pode ser Você” aprofundou temas mencionados no primeiro dia, como a cultura do ódio, da perseguição nas redes sociais por meio de difamações, campanhas de notícias falsas e até mesmo exposição da intimidade, as chamadas “porn revenges”, que atingem não somente a população LGBT no Brasil.
17/08/2016 19h05

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), coordenador do Seminário e alvo frequente de campanhas de difamação na Internet, entende que a melhor resposta a esta cultura de ódio é por meio de políticas educacionais e culturais:

“Há uma relação íntima entre homofobia e heterossexismo, por isso a opressão que se abate sobre as mulheres se estende sobre a comunidade LGBT. A ampla maioria de nós carrega preconceitos que estão relacionados com as nossas histórias de vida e relação cultural. Nesse ambiente das novas tecnologias, o processo de difamação nas redes sociais se tornou frequente, sistemático e muitas vezes financiado. Precisamos entender esse processo de difamação e os sentimentos que os movem para respondermos com ações políticas educacionais e culturais. Eu sou ativista de direitos humanos e há muito tempo chamo a atenção de que precisamos dar um passo além da pauta penal e de reivindicação de leis mais duras. Precisamos pensar também em formas de desconstruir o sentimento de ódio e repulsa com políticas de educação e cultura”, afirmou.*

Um tema que mereceu atenção dos participantes do seminário, sobretudo no período da tarde, foi a importância de construir e fortalecer a participação, organização política e representação nos espaços de poder para a população LGBT. “Sinto que muitas vezes os partidos políticos, tanto os de esquerda como os de direita, lançam candidatos LGBT para cumprir uma cota, sem apoio real e sem assumir a pauta de forma orgânica”, ressalta Symmy Larrat, coordenadora do programa Transcidadania, da Prefeitura de São Paulo, um marco nas políticas voltadas às mulheres e homens trans.

Antes da representação política, a garantia ao direito do exercício da cidadania e acesso às políticas públicas, muitas vezes negados à população LGBT, é o primeiro passo para superar preconceitos e opressões históricas. Alguns participantes citaram a dificuldade de acesso de transexuais aos serviços básicos de saúde, muitas vezes porque os próprios profissionais de saúde negam o atendimento clínico quando veem que o paciente é um ou uma trans.

“Precisamos rever a formação acadêmica na área da saúde. Os jovens formandos em medicina, por exemplo, saem acreditando que todos os pacientes serão brancos, homens e com dinheiro, uma visão mercantilista da saúde. Quando não estão aptos a entender a diversidade, acabam carregando preconceitos como estes”, ponderou a deputada federal Ângela Albino (PCdoB-SC), que participou de um dos talk shows de hoje.

O XIII Seminário LGBT do Congresso Nacional foi uma realização conjunta das Comissões de Direitos Humanos e Minorias, de Legislação Participativa e de Cultura da Câmara dos Deputados, sendo realizado no Auditório Nereu Ramos.

 

*Com informações da Assessoria de Comunicação do deputado Jean Wyllys