Polícia Federal realiza operação no Pará

A operação, batizada de 'Mundurukânia 2', reúne agentes da Polícia Federal, da Força Nacional e da Força Aérea Brasileira e cumpre mandados de prisão e de busca e apreensão nas comunidades Munduruku e Sai Cinza, em Jacareacanga
18/06/2021 13h53

Foto: Divulgação Polícia Federal

Polícia Federal realiza operação no Pará

Na última quarta-feira (16), a Polícia Federal, em ação conjunta com a Força Nacional de Segurança Pública e a Força Aérea Brasileira, iniciou a Operação Mundurukânia 2, com o cumprimento de seis mandados de prisão preventiva e de cinco de busca e apreensão relacionados às manifestações violentas e ataques contra os agentes de segurança pública que participaram da Operação Mundurukânia, e também aos incêndios provocados nas residências das lideranças indígenas Munduruku nos dias 25 e 27 de maio.

Segundo comunicado pela Polícia Federal de Santarém, participaram da ação de hoje 45 policiais federais e 30 integrantes da Força Nacional, além de militares da FAB. Entre os crimes investigados estão o de associação criminosa, incêndio, atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo e coação no curso do processo.

Na última terça-feira (15), a Justiça Federal determinou o envio de agentes federais para as duas terras indígenas em resposta ao ataque a um ônibus com indígenas Munduruku.

 

Histórico

Entre os dias 25 e 27 de maio, logo após o início da Operação Mundurukânia 1, que teve como objetivo combater a prática ilegal de garimpo nas terras indígenas Munduruku e Sai Cinza, no município de Jacareacanga, manifestantes, que seriam de grupos do garimpo, atacaram os agentes e tentaram invadir a base e depredar patrimônio da União, aeronaves e equipamentos policiais.

O garimpo na região, além de provocar graves danos ao meio ambiente, devido ao uso de produtos químicos nocivos, causando a poluição de rios e lençóis freáticos, também vem gerando conflitos entre garimpeiros e comunidades indígenas.

A operação também faz parte de uma série de medidas, determinadas pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, em julho do ano passado, para realizar o enfrentamento e monitoramento da Covid, a fim de evitar o contágio e a mortalidade entre a população indígena.

 

Atuação da presidência da CDHM

No último dia 2 de junho, a Presidência da CDHM realizou reunião com o objetivo de construir medidas para coibir as violações à Terra Indígena de Munduruku por garimpeiros e as ameaças aos defensores de direitos humanos no contexto de conflitos agrários na região.

O encontro contou com a participação de Jan Jarab, representante regional para América do Sul do Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que apontou que a ONU tem acompanhado com grande preocupação os ataques aos povos indígenas Munduruku. “Clamo às autoridades do estado do Pará, às autoridades federais, que tomem ações urgentes e efetivas para acabar com os graves efeitos das ações dos invasores”.

Alessandra Munduruku, da Associação das Mulheres Munduruku Wakaborun, pediu na ocasião a continuidade da operação para a retirada dos invasores do território. “A gente foi forçado a sair por conta dessas ameaças. Eles iam nos matar. Os garimpeiros estão lá como se a terra fosse deles. A gente pede que ponham esses criminosos na cadeia e que a operação continue”, afirmou.

Segundo Auricelia Arapiun, do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), o garimpo e o agronegócio estão tomando conta do território. além disso, lideranças indígenas estariam sendo cooptadas e famílias sendo divididas.

O delegado da Polícia Federal Joselito de Araújo reconheceu a complexidade da situação da região e afirmou que a operação para proteção dos Munduruku seguia em andamento.

 

Fábia Pessoa/CDHM