Nota de repúdio - Redenção: a quem serve?

Atualmente vivemos em um cenário de desmonte de políticas públicas e enormes retrocessos no campo dos direitos humanos. Na área da saúde mental, não é diferente. Os expositores da audiência pública realizada nesta terça-feira (24.10) na CDHM sobre saúde mental e luta antimanicomial revelaram grande preocupação com o corte de orçamento e a postura do Governo nas políticas de saúde mental, em contramão a um modelo humanista de atendimento e tratamento. Conheça nota dos trabalhadores do Programa De Braços Abertos sobre o programa. Nós, trabalhadores do Programa De Braços Abertos que atuamos formalmente na região conhecida como cracolândia no centro de São Paulo, bem como em outras regiões do município, repudiamos veementemente as ações das atuais gestões da Prefeitura Municipal de São Paulo e do Governo do Estado de São Paulo: sejam ações diretas de violação de direitos das pessoas que habitam o território da cracolândia: truculência policial, violência sistemática, privação de serviços básicos; ou ainda, de ameaças de efeitos psicológicos: anúncios midiáticos e irresponsáveis sobre os destinos da região e dos programas que hoje lá existem, ameaça e efetivação de retirada de serviços e servidores da área, ameaça de violência policial iminente. Somadas, todas estas ações, de caráter material e simbólico, vilipendiam ainda mais a vida desta população que notoriamente já se encontra em situação de altíssima vulnerabilidade.
25/10/2017 10h37

Em 21 de Maio de 2017, deu-se início a uma força-tarefa conjunta entre as gestões da municipalidade e do Estado,
com o intuito propalado de dar fim ao tráfico de drogas na região em questão, e por fim à denominada cracolândia.


Durante tal ação que iniciou por volta das 06h30min da manhã, há indícios e relatos de utilização de bombas de
efeito moral, cassetetes e armas de fogo contra as pessoas que ocupavam o território pelos agentes da Polícia Civil
e Militar do Estado de São Paulo e pela Guarda Civil Metropolitana do Município. Usuários de drogas foram levados
sob acusação de traficantes. Pessoas foram expulsas do local que entendiam como casa, sem direito a recolher seus
documentos e poucos pertences. Uma ação que se configurou como perseguição aos que sempre foram invisibilizados,
deixando claro que esta ação se destina a eliminá-los.


Cabe ressaltar que as ações violentas continuam acontecendo sendo que no dia 22 e 23 de maio as pessoas que
habitam a região são impedidas de ocuparem espaços públicos, não têm pra onde ir e em qualquer lugar que se
juntem a polícia realiza dispersões com uso de muita violência.


Essa ações são a reprise de uma estratégia que já assistimos (Operação Sufoco/Dor e Sofrimento, 2012, gestão
Kassab) de higienização social, abertura de caminhos para os empreendimentos imobiliários que há anos são o ideal
preconizado pelas incorporadoras e seguradoras que arremataram muitos terrenos na região da Luz a preços módicos,
aproveitando-se da desvalorização que a existência do fluxo de pessoas associadas ao uso de drogas na região, fluxo
que enquanto foi conveniente permitiu-se que se estabelecesse e crescesse.


Nós, trabalhadores do De Braços Abertos, reiteramos nossa posição: nos opomos a toda e qualquer ação que viole
os direitos das pessoas que habitam e circulam na região da chamada cracolândia, que não os tome em
consideração para a tomada de decisão do que será seu próprio destino, que privilegie o potencial de
rentabilidade da região, em detrimento da vida


Trabalhadores e Trabalhadoras do Programa São Paulo De Braços Abertos