Na rota da liberdade e da realização de um sonho
Agora, essa história virou o livro "Rota para a liberdade", no qual o professor Mehran conta a jornada para realizar o sonho de entrar numa universidade. E o livro foi o ponto de partida para a audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM).
Perseguição, prisões e violações de direitos humanos
“Difícil acreditar que ainda neste século, onde buscamos a paz, ainda existam países como o Irã, que neguem acesso ao estudo superior ou até mesmo trabalhar nas grandes empresas do setor público. Os Bahá’i são cidadãos que servem humildemente o país e enfrentam desafios para sobreviver na terra natal. Até o ensino à distância é proibido. Por causa disso, muitos jovens são obrigados a deixar o país para estudar. Há 33 anos tomei essa decisão. Deixei minha família e meu país para fazer uma universidade”, conta Mehran.
Maria Laura Canineu, diretora para o Brasil da Human Rights Watch, relata que as violações aos direitos humanos no Irã são acompanhadas através de aplicativos de telefone ou outras formas de mídia, já que a instituição não é bem-vinda no país. “Nossa organização está presente em 90 países. Mas não podemos trabalhar no Irã, nem na Venezuela, Cuba ou Egito. No Brasil estamos há 5 anos e acompanhamos questões ligadas à segurança pública e sistema prisional. Em todos os casos buscamos influenciar no âmbito da Organização das Nações Unidas, por exemplo”, explica Maria Laura.
A diretora da Human Rights Watch ainda explicou que no Irã, o islamismo é a religião oficial e são reconhecidos como minorias os cristãos, judeus e zoroastras. A Fé Bahá’i não é reconhecida, apesar da Constituição do país destacar a liberdade religiosa. “Após a revolução islâmica de 1979, lideranças religiosas foram presas e algumas continuam até hoje. Só em 2008, 92 seguidores da Fé Bahá’i foram presos”, denuncia.
A Human Rights Watch é uma organização internacional de direitos humanos, não-governamental, sem fins lucrativos e tem cerca de 400 integrantes. Fundada em 1978, a HRW é reconhecida pelas investigações sobre violações de direitos humanos e relatórios imparciais sobre essas investigações.
Fernando de Oliveira Sena, chefe da Divisão de Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores, ressalta que, tanto em encontros bilaterais como multilaterais, o Brasil tem expressado preocupação com perseguições por motivo de crença: “Temos compromisso com o exercício da liberdade religiosa e de crença. Procuramos manter um diálogo construtivo com as autoridades iranianas e com respeito pela forma como essas questões são conduzidas no país”, informa o diplomata.
Isadora Laguna, assessora da comunidade Bahá’i no Brasil, afirma que situação no Irã permanece praticamente a mesma que há 30 anos. “Comércios e casas de Bahá’is são fechados ou invadidos, bens e documentos são apreendidos. Prisões arbitrárias ocorrem todos os dias e o mais triste são os cerca de 200 Bahá’is que foram assassinados desde a revolução de 1979. Desde essa época crianças e adultos foram expulsos das escolas, e até um documento foi redigido pelo governo iraniano orientando para que o desenvolvimento e a educação do povo Bahá’i fossem bloqueados”, conta Isadora. Ela reporta ainda, que os estudantes devem assinar um documento sobre qual religião praticam para poderem fazer o teste de admissão nas escolas.
“É uma vergonha para a democracia do país ter que assinar um documento dizendo qual religião pratica para poder estudar. Um profundo desrespeito ao ser humano. E se não for uma das quatro religiões reconhecidas, ser expulso ou proibido de estudar. Temos que manter uma relação de solidariedade com todas as formas de religião ou crença”, argumenta o deputado Luiz Couto (PT/PB), presidente da CDHM.
Também participaram da audiência pública representantes de outros grupos religiosos, como luteranos e israelitas, além de imigrantes iranianos.
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A Fé Bahá’í A Fé Bahá’í é uma religião que surgiu na Pérsia, hoje Irã, em 1844. Tem leis próprias e escrituras sagradas que se baseiam nos ensinamentos de Baha’u’llah, e não possui rituais, cultos, cleros e dogmas. A religião prega a unidade, a tolerância, a aceitação das diferenças, uma civilização que se baseia na crença em um único Deus e de uma só verdade, que seria gradualmente revelada à medida que evoluímos espiritualmente. Segundo a comunidade Bahá'í, hoje a crença atrai cerca de 7 milhões de seguidores.
Pedro Calvi CDHM |