Mesa de diálogo entre deputados e jovens negros aborda desigualdade étnico-racial

A tônica das intervenções dos jovens foi de denúncia da discriminação e do racismo, mas todos mostraram disposição de lutar para conquistar direitos que hoje lhes são negados. Vários criticaram a agenda conservadora na Câmara dos Deputados, que ameaça direitos da mulher, dos povos indígenas e outros segmentos vulneráveis da população.
03/11/2015 17h35

Luiz Henrique Oliveira

Mesa de diálogo entre deputados e jovens negros aborda desigualdade étnico-racial

Cerca de 60 adolescentes e jovens integrantes de entidades do movimento negro (Enegrecer, Fórum da Juventude Negra, Cedeca, Círculo Palmarino, MNU e outros) participaram de uma mesa de diálogo realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, no dia 3 de novembro, com a participação de representantes do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e do secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Ronaldo Barros.

Os adolescentes e jovens apresentaram os principais resultados do I Encontro Nacional de Adolescentes Negros no Brasil, realizado durante o “feriadão” de Finados, em Brasília.

A tônica das intervenções dos jovens foi de denúncia da discriminação e do racismo, mas todos mostraram disposição de lutar para conquistar direitos que hoje lhes são negados. Vários criticaram a agenda conservadora na Câmara dos Deputados, que ameaça direitos da mulher, dos povos indígenas e outros segmentos vulneráveis da população.

O representante do Unicef defendeu o projeto que acaba com os autos de resistência (PL 4.471/12), nos quais policiais podem justificar assassinatos durante prisões ou perseguições. O projeto aguarda votação em plenário. Segundo ele, essas execuções são sustentadas por uma cultura falsa e cruel, segundo a qual “se um jovem negro é morto, é porque algo errado ele fez”.

Mário Volpi, lembrou que um adolescente é assassinado a cada hora, sendo que 60% são negros, e que o Brasil é o segundo país do mundo em número de adolescentes mortos. 

Também defendeu uma educação que incorpore a realidade e a matriz de conhecimento negro, bem como ações que combatam o racismo nos serviços de saúde, além do fomento à participação social do jovem negro.

De acordo com o deputado Bacelar (PTN-BA), 52% dos municípios ainda não colocaram o Estatuto da Igualdade Racial em prática.

Para o estudante Luiz Otávio Pantoja, membro do Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer, de Macapá, “a raiz do Brasil está sendo desvalorizada”. Para o jovem, que apresentou os resultados do 1º Encontro Nacional de Adolescentes Negros, em Brasília, colocar as leis em prática é demanda urgente. Já a estudante Maria Richelle Chagas Ramos, de Macapá, trouxe para o debate a questão do preconceito às religiões de matrizes africanas. “Não podemos sair com nossas roupas brancas, porque somos julgados e agredidos. Na escola, não podemos fazer trabalhos sobre nossas religiões. Estamos em luta por igualdade e respeito”, afirmou.

O secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Barros, afirmou que a estratégia do governo federal é assegurar condições de humanidade a todas as pessoas negras. Barros citou, como desafio a ser vencido, o combate à evasão escolar associada ao racismo. Para ele, é necessário garantir não só condições simbólicas, mas também as condições materiais para que o jovem negro tenha igualdade de oportunidades.

O secretário disse, ainda, que o levante conservador observado na sociedade "visa a atingir programas do governo que buscam distribuir riquezas e assegurar direitos".