Marielle Franco e Anderson Gomes são homenageados em sessão solene pelo Dia Internacional do Direito à Verdade*

A vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, assassinados no Rio de Janeiro na semana passada, assim como os 434 desaparecidos durante o regime militar, foram homenageados em sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (22).
22/03/2018 15h37

Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Marielle Franco e Anderson Gomes são homenageados em sessão solene pelo Dia Internacional do Direito à Verdade*

A sessão marcou a primeira celebração no Brasil do Dia Internacional do Direito à Verdade sobre Graves Violações aos Direitos Humanos e pela Dignidade das Vítimas, instituído pela Nações Unidas como o dia 24 de março. A data foi incluída no calendário brasileiro por lei de autoria da deputada Luiza Erundina, do Psol de São Paulo, e outros deputados (Lei 13.605/18). No dia 24 de março de 1980, foi assassinado o bispo de El Salvador Dom Oscar Romero, enquanto celebrava uma missa.

Erundina, que pediu a sessão, destacou que, no Brasil, ainda não foi revelada a verdade sobre os 434 desaparecidos durante a ditadura militar. O número consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, finalizado em 2014. A deputada disse ainda que o atual cenário brasileiro é de graves violações aos direitos humanos, incluindo o assassinato diário de jovens negros na periferia, de indígenas e violência doméstica:

"A quase totalidade desses crimes fica impune, sob o olhar indiferente e conivente das autoridades de plantão. Lembraria ainda que até agora os poderes da República nada fizeram para dar cumprimento às 29 recomendações constantes do relatório final da Comissão Nacional da Verdade."

Erundina cobrou ainda a imediata investigação pela morte de Marielle e de Anderson e rigorosa punição dos responsáveis. Monica Benício, companheira de Marielle, presente à sessão, disse que a vereadora se transformou em um símbolo de resistência:

"A Marielle tinha urgência de vida e pulsava luta, e isso está sendo demonstrado no Brasil e no mundo. A voz não pode ser calada com a morte do corpo dela. Ainda assim nós seguiremos a luta dela juntos, porque nossas famílias existem. A luta dela não terminou com a morte dela, com a ausência física dela. A Marielle se transformou numa coisa muito maior, num símbolo de esperança."

Anielle Silva, irmã da vereadora, também pediu justiça.

Representante de familiares de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar, Gilney Viana observou que até hoje não foi feita justiça neste caso:

"Falta justiça: nenhum daqueles torturadores que reconhecidamente cometeram crimes de graves violações a direitos humanos subiu ao tribunal, mesmo sendo réus confessos. Queremos os corpos, as circunstâncias e queremos principalmente justiça, justiça, justiça."

Para a deputada Jandira Feghali, do PCdoB do Rio de Janeiro, voltou a haver ambiente de restrição democrática no Brasil a partir do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Antes da sessão solene, houve manifestação no corredor de exposições da Câmara, em que deputadas colaram fotos da Marielle Franco e da ex-presidente Dilma Rousseff em exposição sobre direitos das mulheres.

*Reportagem - Lara Haje (Agência Câmara)