Luís Roberto Barroso, do STF, determina que União adote medidas imediatas para proteger terras indígenas

25/05/2021 19h35
O Ministro criticou a demora do governo e determinou a adoção de ações para proteger a vida, a saúde e a segurança dos indígenas das terras Yanomami e Mundurucu. As presidências da CDHM e da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas endossaram o pedido feito ao STF pela Articulação dos Povos Indígenas (APIB)

Divulgação Greenpeace

Luís Roberto Barroso, do STF, determina que União adote medidas imediatas para proteger terras indígenas

Em decisão nesta segunda-feira (24), o Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, deferiu ação protocolada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e por seis partidos, que pedia  ao governo federal a adoção imediata de providências para proteger os indígenas que vivem nas Terras Yanomami, em Roraima, e Mundurucu, no Pará.

Segundo a medida cautelar deferida no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, o efetivo destacado para atingir essa finalidade deverá permanecer nas Terras Indígenas (TI) enquanto houver risco.

O ministro afirmou que foram demonstrados indícios de ameaça à vida, à saúde e à segurança das comunidades localizadas na TI Yanomami e na TI Mundurucu, agravadas pela presença de invasores, pelo contágio que eles geram e pelos atos de violência que praticam.

Críticas ao governo

Para o ministro, a demora de ação por parte do governo pode implicar em conflitos, mortes ou contágio. Barroso declarou que os riscos são agravados pela “recalcitrância e a falta de transparência que têm marcado a ação da União” na ADPF.

Barroso ainda proíbe a União de dar publicidade às suas ações e determina que o governo se abstenha de divulgar datas e outros elementos que, ainda que genéricos, possam comprometer o sigilo da operação, de modo a assegurar sua efetividade.

Para evitar a reiteração do ilícito, a liminar autoriza que as medidas de intervenção sejam acompanhadas da destruição ou da inutilização de produtos e instrumentos da infração. Barroso determinou que a Polícia Federal dê ciência da decisão aos servidores que participarem da operação para que destruam os equipamentos.

​Em agosto do ano passado, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) referendou cautelar deferida pelo Ministro Luís Roberto Barroso, no julgamento da ADPF 709, que determinou à União que inclua, no Plano de Enfrentamento e Monitoramento da Covid-19 para os Povos Indígenas, medida emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades indígenas, com o objetivo de evitar o contato. Na ação, Barroso afirmou que é dever da União desenvolver um plano de desintrusão das terras indígenas e prometeu voltar ao tema caso o plano não fosse desenvolvido. Nove meses depois da decisão, os garimpeiros continuam no local e, agora, entrando em conflito armado com os indígenas.

Histórico

Na última quarta-feira (19), ​o Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, Deputado Carlos Veras (PT/PE), e a Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, Deputada Joenia Wapichana (REDE/RR), endossaram ação da Articulação do Povos Indígenas do Brasil (APIB) e solicitaram, em caráter de urgência, ao Ministro Luís Roberto Barroso, do STF, a retirada imediata dos garimpeiros e outros infratores da terra indígena e a proteção constante da comunidade Yanomami.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) requereu, no dia 11 de maio, ao Supremo Tribunal Federal a determinação para a retirada imediata de garimpeiros ilegais da terra indígena Yanomami, apontando as reportagens que noticiam ataques a tiros e com bombas de gás lacrimogêneo na última semana contra a Comunidade Palimiu, no município de Alto Alegre, em Roraima.

A Hutukara Associação Yanomami (HAY) reforçou que o ataque armado dos garimpeiros resultou na morte por afogamento de duas crianças. Segundo o noticiado, ​no dia 10, foi realizado um ataque dos garimpeiros contra a comunidade, e muitas crianças teriam corrido para a mata e para o rio.

A imprensa também noticiou que depois da operação no dia 11 de maio, a Polícia Federal deixou a aldeia e não retornou. Os indígenas estariam se defendendo com poucos recursos, enquanto os garimpeiros contariam com armamento de alto calibre, conforme informado pelo Delegado Adolpho Hugo de Albuquerque. Segundo a imprensa, no dia 16 de maio teria ocorrido mais um ataque à comunidade, e mulheres e crianças estariam dormindo na mata com medo de novas situações de violência.

 

Fábia Pessoa/CDHM