Hans Kung: Ética Global Deve Começar pela Política
Brasília, 25 de outubro de 2007
Hans Küng: ética global deve começar pela política
O teólogo suíço Hans Küng, que participou de audiência na Câmara há pouco, disse que as regras definidas pelo InterAction Council a respeito de uma ética mundial podem contribuir para a reforma política no Brasil. "É importante haver regras muito claras para as eleições", disse Küng, que ficou conhecido a partir de sua participação no Concílio Vaticano II. Ele lançou em 1990 o Projeto de Ética Mundial.
O InterAction Council, entidade fundada em 1983, produziu em 1997 a "Declaração Universal dos Deveres do Homem".
Participaram da elaboração do documento chefes de Estado de diversos países, entre os quais o então presidente brasileiro José Sarney.
No início de sua exposição, Hans Küng disse ter ouvido de alguém que não deveria falar de moral em Brasília. "Mas penso exatamente o contrário: é aqui no Parlamento que se deve abordar esse assunto, pois a credibilidade da democracia depende da credibilidade de seus representantes", ressaltou. Segundo ele, isso vale "inclusive para a maior democracia do mundo [os EUA], que neste momento não goza de grande credibilidade, já que seu maior representante mente". "Ainda bem que existe outra América, e não apenas a de George W. Bush", completou.
Princípios
Sobre a declaração dos deveres, o teólogo afirmou que a o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, pretendia que a entidade ratificasse o documento. Na ONU, é necessário que a declaração seja apresentada formalmente por pelo menos três países membros.
Entre os princípios da declaração, o teólogo suíço citou o que considera a regra de ouro, "que a humanidade conhece desde 500 a.C com Confúcio": não faça com os outros o que não quer que façam com você". Os demais são "não matar" (aí incluídos os maus-tratos e a tortura; "não roubar" ("valendo inclusive para as grandes corporações, como Wall Street", disse Küng); "não abusar da sexualidade" (sobretudo no respeito à igualdade de direito entre os sexos); e não mentir.
Quando à este último, o teólogo afirmou que alguns teóricos, como o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, defendem uma moral diferente para cidadãos comuns e para os políticos. "É uma lógica maquiavélica, e vimos a conseqüência nefasta desse pensamento na política dos Estados Unidos para o Chile e para o Laos [nos anos 70]", criticou Hans Küng.
Déficit histórico
O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) lembrou que o Brasil tem um déficit histórico no atendimento aos direitos humanos e sociais, e defendeu uma ampla reforma política. Hans Küng, além de defender a aplicação da Declaração do InterAction Council nas eleições brasileiras, disse que há uma solução possível para os problemas básicos da humanidade, como a fome. E lembrou a iniciativa dos EUA, após a 2ª Guerra Mundial, de destinar milhões de dólares à reconstrução da Europa e ao combate à fome naquele continente.
Questionado por um jesuíta sobre a ética nas pequenas ações cotidianas, o teólogo disse que esse caminho é fundamental. "Mas a presença dos princípios éticos no dia a dia só é possível por meio da educação e da família", acrescentou.
Em relação ao aborto, afirmou que a melhor maneira de evitá-lo é apoiar métodos contraceptivos. "É uma contradição imensa ser contra o aborto e ao mesmo tempo contra esses métodos", afirmou, numa crítica direta à Igreja Católica.
Paz entre religiões
O teólogo resumiu em três frases suas posições a respeito de uma ética mundial:
"Não há paz entre as nações sem paz entre as religiões";
"Não há paz entre as religiões sem diálogo e cooperação entre as culturas";
"Não há sobrevivência para o nosso planeta sem uma ética global".
A audiência pública contou com a participação de dezenas de deputados, religiosos católicos, professores e militantes de direitos humanos. O encontro foi promovido pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; e pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
Conselho de Ética e Decoro Parlamentar
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