Despejo


Globo Online - 23/01/2006


Deputada diz que PF utilizou casa de praia de empresa em operação que despejou índios


BRASÍLIA - Policiais federais que participaram da retirada de cerca de 50 índios das etnias Tupiniquim e Guarani de terras no município de Aracruz, no norte do Espírito Santo, foram hospedados pela empresa Aracruz Celulose, que reinvidica, na Justiça, a posse da terra. A denúncia é da presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Iriny Lopes (PT-ES), que vai entrar com representação no Ministério Público Federal denunciando irregularidades na operação, ocorrida na semana passada.

A deputada também quer a instauração de processo administrativo contra os delegados federais que comandaram ação. Na ação de despejo, nove índios foram feridos, um deles teve o braço quebrado ao ser algemado. A operação de retirada dos índios contou com a participação de 120 agentes da Polícia Federal, incluindo integrantes do Comando de Operações Táticas (COT), de Brasília.

- Fui até a casa de hóspedes da empresa na noite de sexta-feira e vi todo aparato da Polícia Federal, além dos agentes que participaram da operação, no local - denunciou a deputada.

Iriny disse ainda que dois índios foram levados para a casa de praia da empresa para serem interrogados. A Aracruz Celulose divulgou nota à rádio CBN, no último sábado, afirmando que forneceu toda infra-estrutura para que a Polícia Federal pudesse executar a ação de despejo atendendo a um pedido da própria PF.

- Para mim, não importa se foi a PF que pediu ou não. O que importa é que a Aracruz Celulose é parte nessa disputa de terras e o fato de ter hospedado os policiais caracteriza uma relação de cumplicidade entre a PF e empresa. Isso torna a operação ilegal e imoral. Além disso, duas lideranças indígenas foram levadas pelos policiais para a casa de hóspedes da empresa onde passaram por interrogatórios. Exijo a instauração de processo administrativo contra os coordenadores da operação porque houve abuso de autoridade e incompetência da PF - disse a deputada.

A retirada dos índios foi determinada por uma liminar concedida pelo juiz federal Rogério Moreira Alves, de Linhares, município do norte do Espírito Santo. A decisão prevê a reintegração de posse, em favor da empresa, de 11,9 mil hectares e foi concedida no dia 7 de dezembro do ano passado. O Ministério Público Federal apresentou um recurso contra a decisão e, na tarde da última sexta-feira, logo após a ação de despejo, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região suspendeu os efeitos da liminar.