CIDH demanda Estado paraguaio perante a Corte Interamericana
Em janeiro de 2002, Juan Arrom e Anuncio Martí, lideranças do Pátria Livre do Paraguai, foram sequestrados e torturados por 14 dias em prisões clandestinas, a cargo de policiais, militares e procuradores, que exerceram pressão sobre ambos para se declararem culpados de tentativa de derrubada violenta do governo de González Macchi e de crimes comuns, em aliança com outros setores oposicionistas. Durante o cativeiro de ambos, dois ministros de Estado, do Interior (Segurança Pública) e da Justiça, fizeram contatos diretos com Arrom, o primeiro por telefone celular, e o segundo mais ousado ainda indo pessoalmente até a prisão clandestina, impondo-lhe condições para sua libertação em quanto. O governo durante os 14 dias de sequestro simulou uma procura de ambos, declarando-os prófugos da justiça, culpando-os de delitos políticos de subversão e sequestro.
A surpresa de familiares e amigos foi enorme quando foram libertados em plena luz do dia e com bárbaras marcas da tortura. Vizinhos do local de sequestro deram a notícia para familiares de Arrom, e estes organizaram um cerco ao local junto à mídia e lideranças de direitos humanos. Isso aconteceu no dia 30 de janeiro de 2002: vários policiais torturadores que exerciam a custódia do local acabaram fugindo, ante a total inação dos órgãos de segurança. Tudo foi filmado e gravado pela mídia. Arrom e Martí foram resgatados. Sobraram provas do envolvimento da alta cúpula do governo, da polícia, das forças armadas e dos procuradores. De início foram imputados, processados e presos policiais Antonio Gamarra e David Schémbori e Javier Cazal, diretor do Centro de Investigação Judiciária (CIJ) do Ministério Público. Mas a pressão do procurador geral da república Oscar Latorre Cañete afastou o procurador Fabián Centurión e instalou no caso procuradores fieis a sua equipe que levaram à impunidade o caso.
Se seguiram no congresso paraguaio processos de impeachment contra o procurador geral da República, Oscar Latorre Cañete e o presidente da Repùblica, Luis González Macchi. Foram acusados de delitos de lesa humanidade e terrorismo de Estado. Ambos foram absolvidos, porém por poucos votos, visto o estado de comoção política que gerou o caso. Dois ministros, da Justiça e Interior, foram forçados a apresentar renúncia ao cargo. A cúpula da polícia nacional foi desmanchada, assim como o Serviço Nacional de Inteligência da presidência da república e o Centro de Investigação Judiciária (CIJ).
A CDHM seguiu atentamente todos estes casos em andamento na CIDH. Em 2006 e 2008 o Fórum Nacional de Direitos Humanos exigiu do governo paraguaio e da CIDH o esclarecimento dos fatos e a exemplar condena dos responsáveis. Ainda no ano de 2010 os refugiados paraguaios foram vítimas de uma propaganda do governo paraguaio oferecia recompensa monetária pela sua captura, em clara violação do direito internacional. Diversos ofícios foram encaminhados pela CDHM à CIDH em todos estes anos.
A decisão da CIDH e o processo na Corte é um desfecho mais do que lógico pela prolongada campanha de perseguição política que sofreram estes cidadãos hoje protegidos pelas Nações Unidas e que moram e trabalham legalmente no Brasil.