Brasil: 153 assassinatos por dia

Nos últimos dois anos o Brasil voltou a conviver com números e situações que pareciam superados. A mortalidade infantil voltou a crescer, doenças que estavam controladas, como o sarampo e a poliomielite, preocupam as famílias e o país toma, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, o caminho de volta ao mapa da fome, de onde tinha saído em 2014. Retorno provocado por cortes em benefícios e programas sociais. Agora, o Atlas da Violência 2018 traz o recorde de que, pela primeira vez na história, o número de homicídios no Brasil superou a casa dos 60 mil em um ano.
10/08/2018 13h05

De acordo com o Atlas, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), foram cometidos 62.517 assassinatos em 2016. Este número coloca o Brasil na nada invejável posição de ter 30 vezes mais assassinatos do que na Europa inteira. Só na última década, 553 mil brasileiros perderam a vida por morte violenta. Ou seja, um total de 153 mortes por dia. Os números foram fornecidos pelo Ministério da Saúde.

Para discutir o relatório do Ipea, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados faz nesta terça-feira (14), às 14 horas, uma audiência pública. O encontro foi solicitado pelo deputado João Daniel (PT/SE).

“As informações contidas no Atlas, mostram que a violência letal intencional no Brasil cresce contra pretos e pardos e diminui contra não negros. A partir da discussão em cima desses índices, queremos entender o aumento de violência no Brasil, e dessa violência seletiva”, pondera João Daniel.

Pelos estados

Os números são alarmantes em nível nacional e a disparidade entra os estados é impressionante. A redução nos estados de São Paulo (-46,7%), Espírito Santo (-37,2%) e Rio de Janeiro (-23,4%) é comparada com o crescimento no Rio Grande do Norte (256,9%), Acre (93,2%), Rio Grande do Sul (58,8%) e Maranhão (121,0%), por exemplo.

Mortes prematuras

Os jovens, entre 15 e 29, são maioria nessa triste estatística. Representam 53,7% das vítimas totais no país. Ou seja, 33.590 mortos. Deste grupo,   94,6%  são homens.

Na década entre 2006 e 2016, houve um aumento de 23,3% nos assassinatos de jovens.  O homicídio é a causa de 49,1% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos, e 46% das mortes entre 20 a 24 anos. Bem diferente do grupo de brasileiros entre 45 e 49 anos, por exemplo, que é de 5,5%.

Audiência Pública


Devem participar do debate da CDHM, representantes do Levante Popular da Juventude, Juventude Quilombo, Movimento do Hip Hop, União Sergipana dos Estudantes Secundaristas, União Nacional dos Estudantes, Ministério da Saúde, Ministério dos Direitos Humanos e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Educação para combater o crime

“A violência contra jovens negros e pobres, que moram nas periferias, demonstra o ódio de classe e a intolerância. E não são crimes praticados só por bandidos, mas também pelas polícias.  Outro dado assustador é o aumento dos casos de estupros de crianças. A Comissão de Direitos Humanos está muito preocupada com essa situação. A violência no Brasil só será resolvida quando tivermos todos nossos jovens em uma escola de qualidade, uma escola para a cidadania e transformadora, de tempo integral. Sem isso, o que acontece é um processo de recrutamento de crianças e adolescentes para o narcotráfico”, conclui o deputado Luiz Couto (PT/PB), presidente da CDHM.

Confira a íntegra do Atlas da Violência 2018:

https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_da_violencia_2018.pdf

 

Pedro Calvi / CDHM

Fonte: Atlas da Violência 2018