Audiência pública reúne especialistas, famílias e autistas para discutir políticas públicas sobre o autismo no Brasil

O autismo é uma síndrome integrante do grupo de desordens cerebrais chamado Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) ou Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD). Estima-se que há setenta milhões de autistas em todo o mundo. No Brasil, mais de dois milhões de pessoas já foram diagnosticadas com a síndrome, que é mais incidente em crianças, na proporção de quatro meninos para uma menina, independentemente da condição socioeconômica, localização geográfica ou etnia.
29/06/2018 09h55

Audiência pública reúne especialistas, famílias e autistas para discutir políticas públicas sobre o autismo no Brasil

Arte: Fernando Bola

Mesmo com um número significativo de incidência, apenas em 1993 que a síndrome foi adicionada à Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde. Essa demora é reflexo do pouco que ainda se sabe sobre a questão. Nem mesmo um exame genético é capaz de afirmar com precisão a incidência da síndrome. A observação desses sintomas é delicada, porque são muitos sutis, já que as crianças têm dificuldade de linguagem e de interação social. Dessa forma, é difícil perceber o que é normal e o que não é.

Apesar de existir a Lei 12.764, de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, e que virou o Decreto nº 8.368, de 2014, a síndrome ainda é cercada de desinformação e preconceito.

Para debater esses e outros aspectos sobre a síndrome, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) promove, nesta terça-feira (3), às 14h,uma audiência pública que vai reunir autistas, famílias e especialistas.

“É da mais alta relevância que o assunto seja abordado em mais e mais fóruns, para que os resultados obtidos pelas pesquisas científicas sejam traduzidos para toda a sociedade. Queremos, no lugar da incompreensão, a verdadeira inclusão social através de políticas pública. Vamos discutir o desenvolvimento potencial dos cidadãos autistas e, dessa forma, dar maior visibilidade e oportunidades”, afirma o deputado Luiz Couto (PT/PB), presidente da CDHM e que solicitou a realização do encontro.

 

Avanços e tratamento

No fim de 2014, os pesquisadores do Projeto Genoma, um esforço internacional para mapear o genoma humano, fizeram uma importante descoberta na área. O gene TRPC6 seria um dos genes de predisposição ao autismo e alterações nesse gene levariam a problemas nos neurônios. Também chegaram à conclusão que essas variações podem ser corrigidas com uma substância chamada hiperforina, presente na erva-de-são-joão. Essa é apenas uma das possibilidades de causa do autismo e a hiperforina só seria possível como tratamento para os pacientes cujo transtorno provém do TRPC6.

Atualmente, um dos tratamentos mais seguros é o uso de Terapia Comportamental (TC). No Brasil, esse não é o único tratamento permitido. Porém, recentemente foi lançado um edital indicando o uso desse método.

Atualmente, um dos serviços públicos que podem ser procurados por pacientes autistas é o Caps (Centro de Atenção Psicossocial), que atende adultos e crianças em regime intensivo. Os centros são usados no tratamento de autistas justamente pelo caráter intensivo. Mas, os profissionais que atuam nessas instituições, muitas vezes não estão preparadas para lidar com a demanda autista.

Devem participar da audiência pública representantes do Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab), Núcleo de Atenção ao Transtorno do Espectro do Autismo (Natea), Projeto Desabafo Autista e Asperger, Comissão de Direitos Humanos da OAB de Ceilândia, Associação Amigos dos Autistas (Ama) e Conferência Nacional das Pessoas com Deficiência.

A audiência pública será transmitida, ao vivo, pelo Facebook e Youtube da CDHM e pelo canal oficial de TV da Câmara dos Deputados.

Pedro Calvi / CDHM

Fonte: Espaço Aberto /USP