Vanucchi: Nome Certo Para Secretaria Especial
Vanucchi: nome certo para secretaria especial
Presidente Lula escolhe um cientista político, direitor do Instituto Cidadania, para o cargo de ministro. Desafio é recompor a política do governo federal no setor
André Carravilla
Correio Braziliense
A Secretaria Especial de Direitos Humanos já tem um nome para chefiá-la. Trata-se do cientista político Paulo Vannuchi. Seu nome teria sido definido anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com assessores da Presidência da República. Cientista político e jornalista, Vannucchi é coordenador do Instituto Cidadania, ONG fundada por Lula há cinco anos e responsável pela elaboração do programa de governo em 2002.
Amigo pessoal do presidente, Vannucchi é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e deve ter seu nome anunciado na próxima semana. Caso seja confirmado, como apontam os prognósticos de auxiliares de Lula e até de ministros consultados pelo Correio, Vanucchi terá um imenso desafio: recompor alianças com os movimentos ligados à defesa dos direitos humanos e reverter a imagem negativa sobre o governo brasileiro na área. Relatório divulgados recentemente apontaram graves violações à defesa dos direitos humanos no país.
Vanucchi era um dos quatro nomes cotados para a pasta, como apontou ontem reportagem do Correio. Ao lado dele, figuravam como possíveis candidatos à Secretaria Especial de Direitos Humanos a senadora Patrícia Saboya Gomes (PSB-CE), a diplomata Maria Luíza Viotti e o deputado Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP). Mas Lula teria fechado em torno do nome de Vanucchi, ligado à turma de São Bernardo, que incluía o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, e o assessor especial José Graziano.
O jornalista e cientista político é bem visto entre os parlamentares ligados à questão dos direitos humanos. Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, ele é um bom nome e com trânsito fácil entre movimentos sociais.
Na avaliação de Buarque, qualquer que seja o nome escolhido, o ministério terá um bom representante, já que considera "os quatro muito bons". No entanto, o ex-ministro da Educação acha que as chances de Greenhalgh são mínimas. O deputado teria que se desligar do governo poucos meses depois de assumir o ministério para concorrer às eleições do próximo ano. "Ele é muito importante para a política de São Paulo. Não acredito que vão abrir mão dele, nem que deixe de se candidatar", argumenta.
Em tom diplomático, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputada Iriny Lopes (PT-ES), evita opiniões contundentes sobre os candidatos a ministro. "Todos estão à altura do cargo. Não há nenhum, que não tenha condição de assumir", pondera. Apesar de jurar não ter preferências, ela deixa escapar que Greenhalgh e Viotti são mais bem relacionados com a comissão. "Ele é um dos integrantes e ela nos ajuda bastante comparecendo a audiências", explica.
Os elogios que dirige ao cientista político Paulo Vannuchi são acompanhados de pequenas críticas. "Eu o conheço bem, ele é bastante qualificado. Mas no momento está bem afastado de nós", lamenta, referindo-se à proximidade do jornalista e cientista político com parlamentares da comissão.
Independentemente de quem venha a assumir o cargo, Buarque entende que o desafio do novo ministro será grande. "Eles estiveram desde o início do governo muito focados no combate ao trabalho escravo. É importante, mas direitos humanos não é só isso. Não é apenas o combate à tortura. É garantir que não haja analfabetismo. Para mim, uma pessoa morrer na porta de um hospital por falta de atendimento é tão grave quanto um assassinato", comenta o senador.
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Análise da notícia
Críticas no exterior
Olímpio Cruz Neto
Da equipe do Correio
O ano de 2005 foi extremamente problemático para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apenas para citar as denúncias de crimes contra direitos humanos. Começou com notícias graves: a morte de crianças indígenas no Mato Grosso do Sul, da etnia Guarani-Kaiowá, vítimas de desnutrição. Ponto negativo para um governo cujo carro-chefe é o programa Fome Zero. A notícia ganhou as manchetes de jornais de todo o planeta. Em fevereiro, outro fato repercutiu em toda a imprensa estrangeira: a execução da missionária norte-americana Dorothy Stang. No final de março, mais uma bomba. A chacina de 29 pessoas na Baixada Fluminense. Além dos embaraços provocados pelas ruidosas manchetes, o governo Lula se viu em meio às críticas de quem costumava ter como aliados históricos: as organizações não-governamentais.
Apenas este ano, quatro grandes relatórios trouxeram críticas severas à condução da política de direitos humanos do governo petista. A Anistia Internacional denunciou o governo. A Organização das Nações Unidas (ONU) questionou o Brasil, em novembro, pela ausência de políticas de combate à tortura policial. Nesta semana, 26 entidades civis apresentaram um relatório de 260 páginas onde relatam graves violações. Se Paulo Vanucchi assumir o cargo, tem o desafio de dar uma resposta a essas denúncias. Não apenas ao mundo. Mas ao próprio passado do PT.