Uma árvore não, um bosque!

(Eleazar Volpato)

Eleazar Volpato"Durante o período que antecedeu os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, assim como durante todo o seu funcionamento, estive envolvido na discussão das propostas de diferentes setores sobre as questões ambientais, como funcionário do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais (SBEF).

Certo dia, às vésperas do final dos trabalhos da Constituinte, meu colega e amigo Aylê-Salassié, que era o responsável pela Assessoria de Comunicação Social do IBDF, apareceu com uma demanda que trazia do Congresso, por onde circulava muito. Qual seria a nossa participação nas solenidades comemorativas da promulgação da Constituição? Eu respondi: “Para nós, do IBDF e engenheiros florestais, é muito simples: plantamos uma árvore”. O Aylê prontamente retrucou: “Uma árvore não, um bosque!”. E, praticamente juntos, completamos: “...o Bosque dos Constituintes!”. Sim, teria que ser um bosque, pois seriam muitos deputados e senadores, cada um plantando uma árvore, símbolo da longevidade ou perpetuidade. O Aylê levou a ideia e voltou com a notícia de que havia sido aceita com louvor.

A SBEF, que tinha acordo com o IBDF, articulou o patrocínio do Banco do Brasil, mas havia pouco tempo disponível para os preparativos, de modo que não foi possível plantar todas as espécies que seriam desejáveis, nem preparar placas para localizar o plantio da árvore de cada parlamentar, apenas os blocos. O mapa e a planta do bosque, naquele momento, eu tive o cuidado, como membro da SBEF, de guardar pessoalmente.

O dia do plantio, novamente, foi pura improvisação, não havia gente suficiente para acompanhar cada constituinte ao local determinado para que plantasse a sua muda, mas foi uma festa... uma pura festa! A festa da Constituinte, com o discurso memorável do Dr. Ulysses.

A Constituição de 1988 foi o marco da passagem do autoritarismo para a democracia e representou também a “nacionalização” da preocupação ambiental, que até então era setorizada e tratada apenas em lei. Naquele momento, o assunto passou para a Carta Magna, aproveitando os melhores preceitos existentes. Quando se pensa em meio ambiente, vida, equilíbrio etc., logo vem à mente a árvore, a floresta e os demais elementos do sistema ecológico da terra. Como na época havia um forte processo de conscientização, iniciado com o programa “Nossa Natureza”, o bosque fez esse fecho.

Como presidente da SBEF, tive a honra de organizar, ainda, uma solenidade no local, comemorando o primeiro aniversário do Bosque, cujo texto do discurso ainda guardo.

O resgate e a revitalização do Bosque dos Constituintes foram, para mim, uma explosão emocional, pois constatei que estávamos, eu, Aylê e todos os que nos apoiaram, no caminho correto e cumprindo a nossa obrigação, utilizando os meios que pudemos disponibilizar.

Estou certo de que o papel simbólico do Bosque dos Constituintes crescerá cada vez mais, Eleazar Volpatocom o tempo. Ele consolida e simboliza a preocupação dos constituintes em relação ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que presta uma contribuição para a compreensão da necessidade de estabilidade institucional. Espero que, no futuro, ele tenha significado semelhante, para o meio ambiente e as instituições, ao que o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, criado em 1808, tem hoje para a ciência botânica e a administração florestal do Brasil".

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