A arborização de Brasília e o Bosque dos Constituintes
"A arborização de Brasília foi uma epopeia, como própria construção da cidade. Talvez até maior, pois os padrões da engenharia civil do Rio, de Belo Horizonte etc., nortearam as obras daqui. Mas, em se tratando de plantio de árvores, não havia padrão. Não existia viveiro, pesquisa – ninguém sabia absolutamente nada – e se dizia: vamos plantar 5.000 árvores. Ligava-se para os escritórios da Novacap, em outras cidades, e encomendavam-se as mudas – das espécies que houvesse.
No começo, isso funcionou, mas, logo depois, quando essas árvores já estavam ficando adultas, a natureza disse “Não!” para essa história. E aí foi um drama, porque tudo que já estava plantado, desde o começo da década de 1970, desapareceu. O que fazer? Tinha-se que “mudar o time”.
Começamos a fazer excursões e pesquisar espécies do cerrado para plantar em Brasília. Aos poucos, isso foi se consolidando, até que dominamos o processo completamente. Hoje, cerca de 90% das árvores plantadas pelos programas de arborização da Novacap são exemplares de espécies nativas.
O plantio do Bosque dos Constituintes aconteceu da mesma forma que tudo costumava ocorrer em Brasília: na pura improvisação. Eu fui procurado, na antevéspera da promulgação da Constituição, por um cidadão, do IBDF, chamado Aylê-Salassié, trazendo a ideia. Eu disse: “Excelente!” Ele, então, acrescentou: “Mas é para depois de amanhã!”. Eu fui ao viveiro para ver o que tínhamos disponível em nosso estoque de mudas, e, à noite, sentei com um colega chamado Egberto Geraldo Zanon, hoje já falecido, e fizemos o traçado que norteou o plantio. No dia seguinte, entramos pela noite abrindo as covas, e, na manhã de 4 de outubro de 1988, os parlamentares estavam plantando as árvores originais do Bosque. Foi assim, como se diz na gíria, ‘no sopapo’.
O Bosque passou algum tempo ‘hibernando’, mas sempre tivemos o cuidado de, nas ocasiões em que houve necessidade de replantio, preservar o traçado original e manter as mesmas espécies que foram usadas originalmente, cientes da importância histórica de tudo que envolve esse espaço. Agora, a Câmara dos Deputados tomou essa iniciativa maravilhosa de adotá-lo e cuidar da sua revitalização.
É algo esplêndido que esta Constituição já tenha nascido trazendo uma égide ambiental em uma época em que ainda não se falava tanto sobre isso. Espero que essa moda ‘pegue’, e que se passem a comemorar os grandes eventos com o plantio de bosques, e não apenas de uma árvore simbólica.
O Bosque dos Constituintes é de importância fundamental para as gerações futuras. Primeiro, ao lembrar um fato histórico, que foi a promulgação da Constituição de 1988. Depois, porque servirá para educação ambiental de nossos jovens, lembrando o entusiasmo que envolveu o seu plantio, no coração de Brasília, em uma grande área aberta, contígua à Praça dos Três Poderes".
(Texto extraído de entrevista concedida por Ozanan Coelho à equipe da Coordenação de Divulgação da Secretaria de Comunicação Social da Câmara dos Deputados em 24 de novembro de 2009).