Gene de café resistente à seca poderá ser solução para o Nordeste
Se confirmadas as expectativas com a nova descoberta feita por pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com a UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro, milhares de criadores e produtores rurais do Nordeste, que já perderam quase um milhão de animais e viram suas lavouras dizimadas pela seca, poderão contar com um novo aliado para superar os devastadores efeitos desse fenômeno climático que se abate sobre Região Nordeste e também atinge o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, afirmou o deputado Inocêncio Oliveira, presidente do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados.
A reunião do Centro, que fez parte das ações preparatórias para a Comissão Geral, ocorrida em 24 de abril de 2013, contou com exposição do Gerente-Geral da Embrapa-Café, Gabriel Ferreira Bartholo, que se fez acompanhar por outros pesquisadores envolvidos com o estudo.
De acordo com Bartholo, foi a partir do projeto que traçou o genoma do café, desenvolvido pela Embrapa, que a pesquisa feita pela empresa e pela UFRJ identificou o gene (CAHB12), presente no café arábica e altamente tolerante à seca. Em sequência, os pesquisadores transferiram esse gene para outra planta (Arabidopsis thaliana), que foi submetida a um regime de 40 dias sem água e permaneceu saudável. As “testemunhas”, plantas da mesma espécie que não receberam o gene, morreram em 15 dias. Mais do que isso, as suas sementes ficaram resistentes à seca até a terceira geração.
A próxima etapa, diz o pesquisador em biologia molecular Eduardo Romano, será aplicar o gene CAHB12 em culturas como a da soja, cana-de-açúcar, algodão e trigo, dentre outras afins, tecnologia que poderá estar disponível a baixos custos para os pequenos produtores afetados pela seca nos próximos cinco anos.
De acordo com o pesquisador, “além de alternativa para combater os efeitos da seca, a tecnologia pode resultar em uma redução direta do consumo de água, o que também irá repercutir na flutuação dos preços dos alimentos, sempre suscetíveis a perdas de produtividade por causa da seca”.
Hoje, cerca de 70% da água doce do mundo é utilizada na agricultura. A descoberta da Embrapa e UFRJ, já registrada no INPI-Instituto Nacional da Propriedade Industrial, agora deverá buscar patente internacional, por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT), gerido pela OMPI-Organização Mundial de Propriedade Intelectual”.
Endividamento dos Produtores Rurais
Também como parte da programação do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados para a reunião do dia 24, houve exposição sobre o endividamento dos produtores rurais nordestinos. A apresentação ficou a cargo do Diretor de Desenvolvimento do Banco do Nordeste, Stélio Lyra. Dados divulgados pela Secretaria de Agricultura de Pernambuco, a partir de levantamentos realizados por pesquisadores da USP-Universidade de São Paulo, apontam que já morreram mais de 250 mil animais; 450 mil saíram para outras regiões e outros 300 mil tiveram de ser sacrificados precocemente.
A expectativa dos parlamentares, de modo especial os deputados que integram a bancada nordestina, é a de que, com maior celeridade possível, o Banco do Nordeste possa trazer ‘boas novas’, ou seja, medidas que de fato possam minorar a situação de penúria enfrentada pelos agricultores, muitas deles já ameaçados de perderem as próprias terras.