Escassez de água pode afetar 55% dos municípios em 2015, diz ANA

Apesar de o problema da crise hídrica ser mais evidente em São Paulo, dados da Agência Nacional de Águas (ANA) indicam que 55% dos municípios brasileiros podem sofrer deficit de abastecimento até 2015. O alerta foi feito nesta quinta-feira (4), em audiência sobre a crise da água no Brasil, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Os participantes chamaram atenção para outras bacias do País, como a do São Francisco.
05/12/2014 11h25

De acordo com a ANA, o Brasil já está trabalhando em um plano nacional de segurança hídrica. O documento está sendo elaborado pela Agência de Águas e pelo Ministério da Integração Nacional a partir de conversas com os estados e deverá ficar pronto entre 2015 e 2016.

A expectativa do superintendente da ANA Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho é que as ações comecem ser implementadas ainda no decorrer do processo, à medida que os problemas forem sendo identificados.

O deputado Sarney Filho (PV-MA), que solicitou o debate, anunciou que vai trabalhar pela criação, na Câmara dos Deputados, de um comitê de crise hídrica. Ele pretende retomar o assunto no início da próxima legislatura, em fevereiro. "É preciso que se tomem medidas urgentes, porque sem água não tem como viver", afirmou o deputado.

São Paulo
No caso dos problemas de abastecimento de água em São Paulo, situação mais comentada no debate, a percepção dos especialistas é que a crise pode ficar ainda pior se não chover nos próximos meses. E o problema será agravado se o estado não contar com um plano de contingência dos recursos hídricos.

“Se o período chuvoso deste ano se configurar como o do ano passado, essa água não será suficiente para o ano que vem. Independentemente de chover mais ou menos, nós estamos em uma situação bastante crítica”, observou a especialista em gestão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Instituto Socioambiental (ISA), Marussia Whately.

Segundo ela, os sistemas que produzem água para a região metropolitana de São Paulo, como o Cantareira, encontram-se com níveis de armazenamento muito baixos. "O Cantareira está hoje em torno de 8%, isso já considerando duas cotas do volume morto. Ou seja, ele está em um volume negativo, algo em torno de 20% negativo”, complementou a especialista.

A coordenadora do Programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Maria Luísa Ribeiro, relatou que, em Itu, as pessoas ficaram de fevereiro até agora com racionamento de 100%, "sem nenhuma água na torneira, vivendo uma realidade de caminhões-pipa com água sabe-se lá de onde”.

Sarney Filho lamentou a ausência de representantes do governo de São Paulo na reunião.

Oferta e demanda
Especialistas apontaram a política de gestão dos recursos hídricos como um dis principais problemas no processo. Como observou Marussia Whately, a gestão hoje se baseia na oferta de água, sem o devido cuidado com mananciais. Além disso, é preciso lidar com a falta de chuvas e de transparência no sistema. "Enquanto isso, o Brasil vem aumentando o consumo e isso é uma tendência que deve ser levada em consideração", observou Marussia.

À demanda crescente os governos respondem de uma forma: com a tentativa de aumentar a oferta. "Tenta-se resolver o problema com o aumento da oferta, sempre procurando novas fontes, mas isso tem limitações. Hoje a questão que se coloca é que, antes de procurar novas fontes, você atue na gestão da demanda, no controle de perdas, nessas ações mais fáceis e mais baratas", defendeu Joaquim Gondim Filho.

Maria Luísa Ribeiro pediu aos parlamentares que coloquem a água em uma agenda estratégica. Ela defendeu ações integradas entre os estados e mais voz para os comitês de bacias hidrográficas e chamou a atenção para a necessidade de combater o desmatamento, que tem forte influência nas secas.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Rachel Librelon

Agência Câmara Notícias