Famílias de camponeses da Revolta dos Perdidos dão depoimento na Comissão de Direitos Humanos e Minorias

Nesta segunda-feira (27), às 14h30, familiares de camponeses da região do Rio Araguaia, que participaram da Revolta dos Perdidos, fazem uma oitiva coletiva para registrar esse momento da história brasileira. O encontro acontece na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), em Brasília.
23/08/2018 12h55

Foto: Guilherme Xavier Neto / Divulgação

Famílias de camponeses da Revolta dos Perdidos dão depoimento na Comissão de Direitos Humanos e Minorias

Moradores da região do Araguais, durante a Revolta dos Perdidos

Também conhecida como Segunda Guerrilha do Araguaia, a Revolta dos Perdidos foi um conflito por terras que aconteceu na região de Piçarras, no Pará, mesmo local da guerrilha, porém em uma área bem menor. O movimento iniciou em 1976. A guerrilha aconteceu entre 1972 e 1974.

Preocupado com uma possível retomada das ações dos grupos de esquerda, o governo federal manteve no local militares e integrantes do então Serviço Nacional de Informações (SNI).

Mas, além de confundir os agricultores que queriam terra para trabalhar, com um movimento para ressureição da Guerrilha do Araguaia, esse grupo de agentes da repressão passou também a atuar como “serviço de segurança” para grileiros de outros estados que começaram a invadir terras às margens do rio.

Os agricultores tiveram que fugir para o mato e muitos perderam tanto a produção como a época para um novo plantio.  

Camponeses também foram presos, torturados e mortos durante a Revolta dos Perdidos.

Agora, cerca de 250 agricultores remanescentes da Revolta dos Perdidos, querem do Ministério da Justiça a declaração da condição de anistiados políticos e a reparação econômica referente ao período que ficaram sem terra para poder plantar e colher, além de danos morais.  

Algumas dessas famílias também passaram por restrições relacionadas a Guerrilha do Araguaia.

“Assim que a Guerrilha do Araguaia terminou, começou a perseguição aos agricultores, ou porque achavam que eram guerrilheiros ou para tirar as terras deles. Na época, a Pastoral da Terra ajudou as famílias a resistirem. Mas até o Incra, na década de 80, pressionado pelos grileiros, militares e SNI, ajudou a expulsar os camponeses fazendo um novo desenho para a ocupação da área, sem os agricultores”, conta a advogada das famílias dos agricultores, Irene Gomes.   

Irene vai além. “O aparato usado pelo SNI na época era maior do que o que estava nas capitais, por exemplo. Para ter uma ideia, ainda em 2001 o Ministério Público Federal localizou, comprovadamente, um serviço de informações semelhante atuando na região disfarçado de agência de notícias”, afirma.

Ela acrescenta também que um dos maiores problemas para os processos avançarem na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, é a falta de provas documentais sobre a Revolta dos Perdidos. De acordo com Irene, tanto o Arquivo Nacional como as Secretarias de Segurança dos estados do Pará e Tocantins, por exemplo, dizem não possuir nenhum registro sobre o movimento.

“Queremos que a oralidade seja um meio de prova, como está sendo nos livros e pesquisas. Sem falar nos arquivos da ditadura, que foram abertos parcialmente. Os camponeses sempre foram invisíveis na nossa história e assim continuam”, conclui Irene.

Serviço

Segunda-feira (27), 14h30, sala da CDHM, Câmara dos Deputados, 185/A

 

Pedro Calvi / CDHM

Sugestão de entrevista: Irene Gomes, advogada, 61-984505466