Representante do HSBC não dá informações sobre SwissLeaks e frustra deputados

Alegando não ter informações sobre correntistas do banco na Suíça e não poder revelar dados que firam o sigilo bancário, funcionário da área de prevenção a crimes financeiros deixou de responder perguntas sobre o tema em audiência pública na Câmara dos Deputados
29/04/2015 19h10

Os deputados da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados consideraram frustrante a participação do representante do HSBC na audiência pública realizada nesta quarta-feira (29) para tratar do escândalo financeiro conhecido como SwissLeaks.

Dados sobre contas secretas no HSBC da Suíça foram vazados por um ex-funcionário do banco e são analisados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, com sede em Washington, nos Estados Unidos. Na lista, estão mais de oito mil contas ligadas a brasileiros, onde teriam sido depositados cerca de 7 bilhões de dólares. O HSBC teria auxiliado alguns dos seus correntistas, muitos deles traficantes e ditadores, a esconder dinheiro suspeito. Entre os brasileiros, estariam políticos, empresários e celebridades.

Responsável pelo setor de prevenção a crimes financeiros do banco no Brasil (financial crime compliance), Antônio Fernando Ribeiro não deu informações sobre o SwissLeaks. Durante a audiência, ele disse que só detém dados nacionais da instituição e não possui qualquer informação sobre correntistas da agência na Suíça. Diante dos questionamentos dos deputados, Ribeiro repetiu que não podia revelar nada sobre os clientes no Brasil em virtude do sigilo bancário.

Ele informou apenas que, após o vazamento, o HSBC vem tomando medidas de combate ao crime financeiro no mundo todo, e que no Brasil houve transformações profundas, como, por exemplo, a revisão completa da base de clientes e o fechamento de contas dormentes (sem movimentação por muito tempo). Segundo Ribeiro, o banco também está monitorando, por meio de salas de controle, localidades com maior risco de crimes financeiros, e é política do HSBC cooperar com as autoridades do país em que atua.

Para o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), já era esperado que o representante do HSBC não prestasse as informações, uma vez que ele foi apenas convidado a participar da audiência. Por outro lado, o deputado afirma que há sérias evidências de irregularidades. "O HSBC da Suíça é local de depósitos de vários personagens envolvidos nos últimos escândalos aqui do Brasil: Banestado, Mensalão, Lava Jato. Então, é evidente que o banco HSBC da Suíça, nesses casos, foi utilizado para lavagem de dinheiro", ressaltou.

Nova audiência
Diante da frustração na audiência desta quarta, o presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado José Priante (PMDB-PA), quer voltar a discutir o tema, chamando o presidente do HSBC Bank Brasil, André Guilherme Brandão, e o jornalista de O Estado de S. Paulo Jamil Chade, que haviam sido convidados para a audiência, mas não compareceram. O deputado também não descarta chamar autoridades de controle do Banco Central e da Receita Federal.

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
O deputado Heráclito Fortes acha imprescindível esclarecer o caso e reclama de lobby feito contra a realização da audiência

Segundo o autor do requerimento para a audiência, deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), é imprescindível esclarecer se há ou não irregularidades nas contas dos brasileiros na Suíça.

O parlamentar se disse ainda chateado com a tentativa de lobistas em impedir a realização do debate. "Fui procurado por um lobista que representa os bancos, o que é legítimo. Ele me pediu que retirasse o pedido e eu disse que não tenho mais idade de retirar assinatura daquilo que proponho. Expliquei qual era o objetivo, de esclarecimento, e ele concordou. Só que, em ato contínuo, saiu procurando os companheiros da comissão, tentando retirar o pedido, mas não conseguiu", reclamou.

Reportagem – Idhelene Macedo
Edição – Marcos Rossi