Ministro: não há parlamentar sendo investigado nas denúncias de corrupção no Metrô de SP
Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
Cardozo (D) disse ter amigos entre as pessoas citadas, afirmou que lamenta profundamente que os documentos tenham vazado.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou na Câmara dos Deputados que nenhum parlamentar está sendo investigado no inquérito que envolve as denúncias de cartel e corrupção envolvendo a empresa Siemens e o Metrô de São Paulo.
A afirmação foi dada em resposta ao deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), que queria saber se estava sendo investigado. Cardozo explicou que essa investigação só seria possível após autorização do Supremo Tribunal Federal e que até agora não foi feito nenhum pedido nesse sentido pela Polícia Federal. Segundo o ministro, até o momento nenhum dos investigados tem foro privilegiado.
Jardim foi um dos deputados citados em um dossiê anônimo que o ministro recebeu do deputado estadual do PT Simão Pedro e entregou à Polícia Federal. Parte dos documentos vazou para a imprensa. Ele lembrou que quando um parlamentar é investigado, o ministro deve comunicar o procurador-geral da República e que ele queria saber se essa providência foi tomada.
Durante audiência conjunta de diversas comissões da Casa, nesta quarta-feira (5), para esclarecer o vazamento do documento, Jardim afirmou que, independentemente do que faça em sua defesa, já está condenado perante a opinião pública, apesar de ter uma trajetória da qual se orgulha. "Tenho quatro mandatos como deputado estadual, estou no segundo como deputado federal, secretário de uma pasta muito importante, com muitos recursos. Não tenho um processo, onde quer que seja", assinalou o parlamentar.
A maior parte dos citados no documento pertence ao PSDB, partido do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O deputado José Aníbal (PSDB-SP), que é secretário estadual de Energia e retomou o mandato nesta quarta-feira para participar da audiência pública, afirmou que o vazamento do documento foi feito por alguém do alto escalão do ministério. Ele também questionou a origem do documento, afirmou que todas suas informações financeiras estão disponíveis e cobrou investigações rápidas.
Cardozo, que disse ter amigos entre as pessoas citadas, afirmou que lamenta profundamente que os documentos tenham vazado e disse que calúnias contra pessoas que têm honra a preservar realmente doem muito.
Disputa partidária
O ministro foi acusado pelo líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), de ter encaminhado o documento sem checar sua veracidade para prejudicar seu partido. Ele afirmou que o fato de ter recebido o documento de um petista, com denúncias sobre adversários exigia dele maior prudência.
O líder acusou o ministro de ter sido leviano ao desconsiderar que entre os documentos recebidos havia uma carta cuja tradução foi feita de forma a comprometer os integrantes do PSDB. No dossiê havia duas cartas, uma em inglês, outra em português.
O ministro afirmou que não havia uma tradução, mas dois documentos. O deputado afirmou que o documento em Português reproduzia alguns parágrafos do documento em Inglês e, entre eles, foram enxertados os parágrafos que comprometeriam os políticos, o que não havia no original.
O ministro alegou que agiu estritamente como manda a lei e lembrou que Sampaio acusou o ex-ministro da Justiça Tarso Genro de prevaricação quando ele demorou a encaminhar à Polícia Federal documentos contra integrantes do Governo Lula. "Vossa Excelência disse que nunca conheceu um ministro que agiu como eu agi. Mas engavetadores vossa excelência deve ter conhecido muitos porque eu vi vários, vários que recebiam denúncias e selecionavam. Sangue azul? Não se apura. Sangue Vermelho? Se apura. Um ministro da Justiça não pode agir assim."
CPI para investigar denúncias
Os deputados Ivan Valente (Psol-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP) defenderam a criação de uma CPI para investigar as denúncias, que também envolvem o governo do Distrito Federal.
O ministro afirmou que espera que as investigações se tornem mais rápidas na medida em que for retomada a colaboração com outros países onde esses casos também estão sendo investigados. Cardozo informou que, na Suíça, um ex-diretor da Companhia de Trens Metropolitanos de São Paulo já foi condenado, mas quando o Brasil pediu informações sobre o processo, descobriu-se que a Suíça tinha pedido a colaboração brasileira por diversas vezes e os pedidos haviam sido arquivados pelo Ministério Público, situação que criou problemas de relacionamento que se está tentando solucionar.
A audiência foi promovida pelas comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania; de Fiscalização Financeira e Controle; e de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.
Edição - Regina Céli Assumpção