Câmara avalia como indevido e eleitoreiro uso do Exército em morro no Rio
Cerca de dois meses depois da morte de três jovens no morro da Providência (no centro do Rio), com suspeita de envolvimento de militares do Exército, a Comissão de Segurança da Câmara analisa o relatório sobre o caso. O documento conclui que houve uso indevido das Forças Armadas no local e objetivo eleitoreiro na realização de obras na favela. A Folha Online teve acesso ao relatório elaborado pelo deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).
Biscaia entregou o documento nesta quarta-feira ao presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE). No relatório, de 26 páginas, o petista afirma que a emenda parlamentar sobre o projeto denominado Cimento Social do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) --candidato a prefeito na cidade do Rio-- teve objetivo eleitoreiro.
No relatório, Biscaia questiona por que foi escolhido o morro da Providência, localizado na região central do Rio, uma vez que na cidade há, ao menos, 700 comunidades carentes. Para parlamentares da bancada fluminense, o local foi estrategicamente escolhido porque imagens feitas naquela região podem ter repercussão maior do que em outras localidades da cidade.
O petista anexou ao relatório uma série de panfletos e material de campanha emitidos supostamente por funcionários de Crivella para informar aos moradores que as obras realizadas no morro da Providência surgiram a partir de uma proposta do senador.
No documento, Biscaia usou a expressão "ilegitimidade" para se referir aos repasses financeiros para as obras no morro da Providência. Também levanta dúvidas sobre utilização em "segurança pública" dos militares do Exército no local.
A Folha Online tentou entrar em contato com a assessoria de Crivella, mas conseguiu falar com seus assessores.
Crime
No dia 14 de junho, Wellington Gonzaga Ferreira, 19, David Wilson da Silva, 24, e Marcos Paulo Campos, 17, foram detidos por 11 militares no alto do morro da Providência por desacato. Em seguida, os jovens foram entregues a traficantes do morro da Mineira (centro do Rio), ligados à facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), rival ao CV (Comando Vermelho), que controla o tráfico na comunidade da Providência.
Os militares levaram os jovens para o quartel do Exército próximo à Providência, mas o capitão Leandro Ferrari, que comandava o quartel no momento, ordenou que os rapazes fossem liberados.
No entanto, o tenente Ghidetti desobedeceu a ordem e, com outros dez militares, entregou os jovens aos traficantes da Mineira. Horas depois os corpos dos três jovens foram encontrados em um lixão na Baixada Fluminense. Os 11 militares foram presos no dia seguinte e, segundo a polícia, confessaram o crime.
O caso provocou uma crise sobre a presença do Exército na comunidade. A Justiça Federal determinou a retirada dos militares do morro, e o governo federal recorreu e conseguiu que a Justiça mantivesse as tropas, mas somente na rua onde as obras são feitas.
Porém, em meio ao mal-estar, o ministro Nelson Jobim (Defesa) ir ao Rio e pedir desculpas, em nome do governo, às famílias dos mortos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou, lamentando o episódio.
Fonte: Folha on line