Seminário celebra orgulho LGBTQIA+ com debates no Congresso Nacional

Parlamentares, representantes da sociedade civil e movimentos sociais discutiram pautas como violência, acesso à saúde e melhoria de políticas públicas
30/06/2021 15h44

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Seminário celebra orgulho LGBTQIA+ com debates no Congresso Nacional

Para debater a invisibilização, violência e homotransfobia sofridas pela comunidade  LGBTQIA+, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CMULHER), em parceria com diversas outras comissões e com o Senado Federal, promoveu nos dias 28 e 29 de junho um seminário com convidados que iam desde deputados estaduais e federais, até representantes da sociedade civil. 

A 18ª edição do Seminário LGBTQIA+ do Congresso Nacional aconteceu em meio a uma grande comoção diante da violência homotransfóbica que marcou a última semana no país. Gabriel, de 22 anos, foi morto com três tiros na cabeça, Ana Paula, lésbica, foi vítima de feminicídio e Roberta, uma mulher trans de 33 anos, teve mais de 40% do corpo queimados em Recife.

A deputada Erika Kokay (PT-DF), membro da CMULHER, e autora do requerimento para a realização do Seminário, apontou a importância da realização do evento todos os anos: "Esse Seminário é feito a todos, todas e todes que organizam e que constroem a resistência para estabelecermos o direito de amar, o direito de ser e o direito à cidade".

Homenagem

A mesa de abertura do evento, no dia 28, foi nomeada em homenagem ao ator e humorista Paulo Gustavo, que morreu por complicações causadas pela Covid-19. Falaram na ocasião parlamentares e representantes de movimentos sociais nacionais.

"Queremos dar visibilidade e fortalecer o movimento LGBTQIA+ e, principalmente, combater a violência política de gênero que tem atingido muitas vereadoras trans que foram eleitas no último pleito", declarou a deputada Tereza Nelma (PSDB-AL), procuradora da mulher na Câmara.

Após a realização dos debates, foi exibido um vídeo em tributo às pessoas LGBTQIA+ vítimas da COVID-19 e LGBTQIA+fobia no Brasil, seguido por apresentações artísticas e projeção comemorativa do Dia do Orgulho LGBTQIA+ no edifício do Congresso Nacional.

Combate à violência e invisibilização

No segundo dia de seminário, nesta terça-feira (29), parlamentares, representantes da sociedade civil e especialistas em áreas como saúde mental e direito reuniram-se para discutir a falta de acesso a políticas públicas, a violência prisional e no campo e o declínio da saúde mental que atinge as pessoas LGBTQIA+ no país.

"A população de travestis e trans é a mais violentada no Brasil. Somos negadas acesso a políticas públicas, principalmente no sistema prisional, onde somos colocadas em situações de risco sem nenhuma assistência. Além disso, o suicídio tem aumentado muito na nossa comunidade, devido à deterioração da nossa saúde mental diante de tanta violência", lamentou Jacqueline Brasil, mulher trans integrante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

Fêtxawewe Tapuya Guajajara, comunicador e membro de liderança indígena, contou sobre a sua experiência de ser LGBTQIA+ dentro da comunidade indígena e explicou o quanto é difícil enfrentar os preconceitos que ainda existem entre os povos originários.

"Existe uma crença, entre algumas etnias, de que ser LGBTQIA+ é algo que foi trazido pelo homem branco. Por isso, mesmo não sendo fácil estar nesses espaços, eu sou uma liderança jovem e não posso falar só sobre ser LGBTQIA+, preciso também falar sobre ser indígena e sobre a terra, a minha existência é sobre tudo isso", apontou. 

Para Elaine Sallas, lésbica, professora, cantora e produtora cultural, o caminho para combater os preconceitos e a violência é construir, enquanto comunidade, a participação social: “Precisamos ocupar todos os espaços necessários para que possamos transformar os paradigmas sociais”.

Ariel Carvalho, mulher lésbica, negra e amazônica, do coletivo Lesboamazônidas e do Sapato Preto, lembrou a invisibilização dos movimentos lésbicos e o problema do lesbocídio, o assassinato de mulheres lésbicas: "Infelizmente, esse apagamento é histórico dentro do nosso próprio movimento LGBTQIA+ e isso é muito significativo. Por isso, hoje lembro Ana Paula, que foi assassinada na porta de sua casa, com 10 tiros". 

Encerramento

Todas as mesas do evento receberam nomes em homenagem a lideranças do movimento LGBTQIA+ ou de membros da comunidade que foram vítimas de violência. Porém, apesar dos debates de temas importantes, o 18º Seminário LGBTQIA+ do Congresso Nacional também comemorou o mês do orgulho e recebeu diversas atrações culturais ao longo do evento, que terminou com apresentações culturais de Rap Plus Size, seguido por Lucas de Matos. 

A deputada Elcione Barbalho (MDB-PA), que preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, parabenizou os participantes e lembrou que todos, independentemente de raça, gênero ou orientação sexual, têm o direito de existir: “É um dever de todos nós brasileiros lutarmos contra qualquer tipo de preconceito ou discriminação. Somos um país diverso e precisamos celebrar isso!”.

Texto: Lanna Borges