Em audiência na Câmara, debatedores alertam para o aumento do tráfico de pessoas no mundo
O tráfico de pessoas está entre as três atividades criminosas mais lucrativas do mundo, perdendo apenas para armas e drogas.
Especialistas que participaram de audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara foram unânimes em concordar que a vulnerabilidade social facilita esse aliciamento, que tanto pode ser para trabalho escravo como para fins sexuais.
Para o diretor da ONG SOS Dignidade, que trabalha com travestis e transexuais, Barry Wolfe, um dos problemas do tráfico de pessoas é que, muitas vezes, a vítima nem se reconhece como tal, porque aceitou trabalhar com sexo em busca de uma vida melhor.
Rosa Maria Santos, coordenadora do Projeto Vez e Voz, que trabalha com oficinas sobre o tráfico de pessoas em escolas no Distrito Federal e em Águas Lindas de Goiás, destacou que somente a prevenção é eficaz para evitar que crianças e adolescentes sejam seduzidos por promessas de uma vida melhor.
Rosa Maria ressaltou que a informação muitas vezes é suficiente para evitar um mal maior:
"Em 2015, nós tivemos, em Águas Lindas, uma visita de uma sul-africana que estava procurando meninos e meninas para levar para a África do Sul, para Johanesburgo, para jogar futebol e ser modelo. E uma das meninas que tinha participado do projeto me procurou e nós fomos denunciar, e, graças a Deus, conseguimos salvá-las."
Já a jornalista e ativista no combate ao tráfico de pessoas Priscila Siqueira alertou que, no Brasil, está havendo um retrocesso nesse enfrentamento com desmonte de estrutura e corte de verbas:
"Esse governo atual está completamente ausente dessa luta. Você tem, em nível de papel, está tudo muito bonito e, na prática, não tem nada bonito. E, na realidade, quanto mais pobre a população for, mais consequência como o tráfico de pessoas você vai ter, porque quando você fala de tráfico de pessoas, você está falando da ponta do iceberg. O tráfico, quanto mais pobreza você tem, mais oferta você vai ter."
A deputada Ana Perugini, do PT de São Paulo, destacou a importância da reunião para o fortalecimento da rede entre os agentes que militam no combate ao tráfico de pessoas, que é considerado pela ONU como o crime mais sério contra os seres humanos:
"O tráfico de pessoas acaba tirando a condição de seres humanos daquele que é traficado, da vítima do tráfico, e por isso tem que ser combatido com todas as nossas forças, com toda nossa resistência, dar continuidade, mesmo nesse momento onde há uma crise econômica financeira e mundial e houve um aumento no tráfico de pessoas no Brasil."
Segundo dados da ONU, em 2016, o tráfico de pessoas movimentou 32 bilhões de dólares em todo o mundo.