Governo volta a descartar racionamento de energia apesar de baixa nos reservatórios

03/04/2014 13h51
02/04/2014 - 17h53

 

Mesmo assim, empresa vinculada ao Ministério da Minas e Energia diz que a situação de seca é pior do que a vivida em 2001, quando ocorreu racionamento de energia.

Antonio Augusto / Câmara dos Deputados
Audiência pública para discutir a crise no sistema elétrico brasileiro e suas consequências para o desenvolvimento do País
A Comissão de Minas e Energia da Câmara debateu a crise no setor elétrico do Brasil.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou, nesta quarta-feira, que o País pode estar vivendo a pior baixa da história nos reservatórios de água. No entanto, embora avalie a situação de seca como pior do que a vivida em 2001, quando o Brasil sofreu com o racionamento de energia, Tolmasquim acredita que o sistema energético está muito mais preparado para enfrentar o problema.

“Entre 2001 e 2013 a capacidade de geração de energia cresceu 43% acima do aumento de consumo no período”, afirmou Tolmasquim, em audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. A EPE é um órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia.

Ele destacou a criação do parque de usinas termoelétricas como ferramenta para prevenção de eventuais necessidades de racionamento. “A capacidade de geração em 2001 era muito mais dependente de hidrelétricas”, acrescentou.

Tomasquim defendeu o uso das termoelétricas. Segundo ele, houve uma democratização no número de investidores, com a realização de 27 leilões em que foram contratadas 700 usinas. “No mundo, 70% da energia do mundo é gerada por termoelétricas. No Brasil, onde 70% da energia é de origem hídrica, isso parece estranho, mas está de acordo com o resto do mundo”, disse.

Descontos
Questionado pelo vice-presidente da comissão, Ronaldo Benedet (PMDB-MG), se o corte nas tarifas de energia promovido pelo Executivo no ano passado não teria piorado a situação do setor em vez de beneficiar os consumidores, Tolmasquim negou que o desconto tenha prejudicado as empresas do setor, gerando uma crise.

“Se as usinas já estão pagas pelo consumidor, é justo que a energia saia mais barata. Esses descontos foram de energia gerada nas hidrelétricas”, explicou. Ele acrescentou que apesar dos descontos, as contas vêm sofrendo com outras variáveis, como variação do dólar e custo da energia das termoelétricas.

Economia de energia
O presidente da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Franklin Moreira Gonçalves, defendeu que sejam realizadas campanhas de conscientização e de estímulo para a economia de energia.

Para ele, o fato de o País estar mais preparado para enfrentar crises energéticas não impede que se discutam formas de economia de energia, sem politização do tema. “Economia não como os 20% obrigatórios de 2001, mas como algo saudável e preventivo”, propôs. A FNU é filiada à CUT.

Novas fontes
Para o deputado Fernando Ferro (PT-PE), ainda que exista muita politização quanto à chamada crise energética, é preciso que o País volte a debater dois temas considerados tabus: a energia nuclear e a construção de novas barragens hidrelétricas.

O parlamentar chamou a atenção também para a falta de uma política de conservação de energia. “Como sempre sobrou energia no Brasil, nunca nos preocupamos com isso, que é muito importante em outros países”.

Ferro criticou ainda as políticas de demissões voluntárias da Eletrobrás e da Chesf. “Tivemos saída de pessoal qualificado e isso não gerou a economia prevista”, disse.

Recursos federais
Outros parlamentares também questionaram a gestão do setor. O deputado Felipe Bornier (PMDB-RJ) reclamou da carência de investimentos em fontes de energia limpa (renovável e não-poluente), como energia eólica e solar.

Já o deputado Fernando Jordão (PMDB-RJ) questionou as razões para o governo destinar R$ 15 bilhões para socorrer empresas do setor em vez de destinar essas verbas para o desenvolvimento de fontes alternativas de energia. A falta de preocupação dos consumidores em poupar energia também foi alvo de críticas.

Em resposta aos dois, Maurício Tolmasquim defendeu que os recursos repassados às empresas são empréstimos e argumentou que o País é exemplo mundial em uso de energias renováveis. “Nosso modelo de leilão para compra de energia eólica é referência internacional”, declarou.

O representante do governo federal disse também que atualmente a geração de energia solar não é competitiva, mas, assim como a geração de energia eólica se tornou comercialmente viável, ele espera que isso ocorra também com a solar.

Cemig
O deputado Weliton Prado (PT-MG) se disse preocupado com a expectativa de a Cemig reajustar as tarifas de energia de Minas Gerais em 30%. “O consumidor mineiro paga muito caro pela energia, a carga sobre esses serviços é pesada e não me parece justo que isso recaia agora sobre a população”, criticou.

Reportagem - Juliano Machado Pires
Edição - Newton Araújo