Debatedores pedem mais rigor em protocolos éticos para coibir abuso sexual no esporte

Em audiência pública na Câmara, professor de educação física ressaltou que a avaliação de maturação sexual deve ser feita com o único propósito de ajustar o treinamento de crianças e adolescentes atletas
29/05/2018 14h40

Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Debatedores pedem mais rigor em protocolos éticos para coibir abuso sexual no esporte

Deputado Evandro Roman presidiu a Audiência Pública.

Deputados e especialistas pediram mais rigor em protocolos éticos para prevenir assédios e outros abusos no esporte. O tema foi debatido nesta terça-feira (29) na Câmara dos Deputados, em nova audiência pública da Comissão do Esporte sobre as recentes denúncias de assédio sexual na ginástica artística, feitas pela TV Globo no final de abril.

A principal denúncia envolve Fernando de Carvalho Lopes – ex-técnico do clube Mesc, de São Bernardo do Campo (SP), e da seleção brasileira – que teria cometido abusos contra mais de 40 atletas. O inquérito está em segredo de Justiça. O atual coordenador técnico da seleção, Marcos Goto, também foi acusado de omissão e bullying.

No debate de hoje, o assessor jurídico da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), Paulo Schmitt, destacou as novas ações preventivas da entidade, como uma cartilha contra o assédio e um canal de denúncias e de orientações para os atletas. “Inicialmente, fizemos uma parceria com o Ministério Público do Trabalho. Agora estamos conclamando nossas federações filiadas, a comissão nacional de atletas e os clubes para trazer um ambiente mais seguro para os nossos esportistas”, explicou.

O foco da cartilha está no combate a assédios sexual e moral, LGBTfobia, bullying e trote. A confederação ainda busca padrões para uma futura “certificação de integridade” em procedimentos típicos da ginástica.

Avaliação de maturação sexual
O diretor da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Miguel de Arruda, lembrou, por exemplo, que a avaliação de maturação sexual em crianças e jovens é fundamental para a definição da carga de exercícios dos atletas e deve ser usada apenas com esse propósito. “Trata-se de um conteúdo da medicina que tem, para nós, a aplicabilidade prática de ajuste de treinamento, unicamente. Se houve desdobramentos comportamentais, não cabe à educação física julgar. Aí é caso de polícia”, disse.

Organizador do debate, o deputado Evandro Roman (PSD-PR) afirmou que esse é um dos procedimentos a serem regulados por protocolos rígidos, a fim de evitar abusos.

“Que seja terminantemente proibido que o treinador ou um professor faça uma avaliação dessas sozinho. Os comitês de ética já têm isso, mas é preciso uma força de lei. Senão, escândalos podem estar sempre ocorrendo”, comentou.

A Confederação Brasileira de Ginástica repetiu que o ex-treinador Fernando Lopes foi afastado da seleção ainda antes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Outras medidas preventivas vieram no início deste ano, motivadas pelo escândalo do médico da seleção norte-americana de ginástica, Larry Nassar, acusado de assediar centenas de ginastas e já condenado pela Justiça dos Estados Unidos.

Marcel Ferraz Camilo, advogado de Marcos Goto, fez questão de diferenciar as acusações contra seu cliente, ressaltando que o atual coordenador técnico da seleção brasileira já treinou mais de 12 mil crianças desde os anos 1990 e foi um dos idealizadores da cartilha contra assédios.

Prática esportiva
Para o deputado Fábio Mitidieri (PSD-SE), o importante é garantir investigações e ações concretas que não desestimulem os pais a levar os filhos para as práticas esportivas.

“A gente tem de separar muito bem o que é o esporte e o que é a denúncia, para que não se prejudique a imagem do esporte. A gente vai investigar, punir aqueles que têm culpa no cartório e preservar o desporto, que é uma coisa muito bonita.”

Os parlamentares frisaram que escândalos como o da ginástica também ocorrem em outros esportes e cobraram o mesmo rigor ético para prevenir abusos.

Agência Câmara Notícias