Os desafios da Matemática em sala de aula e da formação dos professores foram debatidos em seminário internacional

Participantes defenderam que a matemática seja ensinada de forma mais prática e próxima do dia-a-dia do aluno
09/11/2017 11h15

Acervo/Câmara dos Deputados

Os desafios da Matemática em sala de aula e da formação dos professores foram debatidos em seminário internacional

Participantes do Seminário Internacional - A Importância da Matemática

Investimento na formação do professor, foco no estudante, comprometimento. Essas foram algumas das ideias mais defendidas e debatidas no Seminário Internacional de Educação – A Importância da Matemática, realizado no último dia 7, numa parceria da Comissão de Educação com a Frente Parlamentar Mista da Educação e com o Sistema CNC-SESC-SENAC. 

Logo na abertura do evento, o representante do Ministério da Educação, Felipe Sigollo, garantiu que desde o ano passado, o MEC vem priorizando as disciplinas de Matemática e Português . Ele reconheceu que “o Brasil tem dificuldade em fazer as crianças aprenderem a Matemática”. Sigollo anunciou que haverá um incremento em sala de aula com a presença de um professor auxiliar em todas as salas do Ensino Fundamental no primeiro e no segundo anos, com bolsa do MEC, para ajudar as crianças no aprendizado.
O presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, Alex Canziani (PTB-PR), pediu união nacional para promover uma educação de qualidade no Brasil porque, afirmou o parlamentar, “a educação é o maior instrumento de transformação do país e a Matemática é fundamental”.


O papel do professor
Para a doutora Sue Pope, diretora do Departamento de Desenvolvimento Profissional e Inovação Educacional da Universidade de Manchester (Inglaterra), não basta ter um bom currículo. Ela garante que “o currículo só pode ser implementado se houver quem acredite nele”. Sue Pope assegurou que o Brasil tem um currículo maravilhoso no papel e que o desafio é agora aplicá-lo na prática. E fez um alerta: “os professores tem que estar comprometidos. Isso é essencial, é crucial”. Ela defendeu que todos os professores tenham oportunidade de desenvolvimento profissional, com acesso a cursos de Mestrado e de Doutorado para eles possam entender como as crianças aprendem e, dessa forma, conseguir ensinar melhor.


O desempenho do Brasil nas avaliações de Matemática
O resultado do Brasil no último Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que avalia estudantes de 15 anos de idade em 70 países, mostra um retrato desalentador em todas as disciplinas avaliadas mas principalmente em Matemática. O país ficou em 63º lugar entre os 70 avaliados e em último lugar entre os países da América Latina. A Doutora em Educação pela USP, Kátia Smole, disse que números como esses nos sinalizam a necessidade de uma tomada de decisão. “Precisamos substituir o discurso do fracasso pela ação”, disse a professora. Aos estudantes de Licenciatura em Matemática que estavam na plateia, ela fez uma convocação: não sejam matemáticos, sejam professores de Matemática! Sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Kátia Smole afirmou que ela representa um importante avanço ao dizer claramente que há coisas neste país que todos os alunos devem aprender. Mas lembrou que ela “não é uma varinha de condão que vai resolver tudo. É preciso apoio, inclusive do Congresso, para a implantação da BNCC”.


Matemática no dia-a-dia
“Matemática tem que ser ensinada com a mão na massa, com interação”. A afirmação é de uma das finalistas do Global Teacher Prize 2016, a premiação mundial que escolhe professores que impactam positivamente a vida de alunos e da comunidade onde vivem. Maarit Rossi é finlandesa e mostrou diversos exemplos de como é importante que os alunos percebam que a Matemática não é apenas uma disciplina escolar mas algo que faz parte do cotidiano de todo mundo. Ela disse que, em sua experiência em sala de aula, sempre criou problemas matemáticos com base na realidade dos alunos e nas demandas do cotidiano deles. E não poupou crítica aos livros didáticos de matemática: “são chatos”. Por isso, ela falou sobre a importância do professor e a diferença que ele pode fazer em sala de aula. Maarit garante que a matemática pode ser divertida e fascinante mas, para que isso aconteça, é necessário muito trabalho dos professores e dos alunos. E finalizou dizendo que é preciso sair desse modelo de sala de aula centrada no professor e passar para um modelo em que a sala de aula esteja centrada no aluno, no estudante.


Valorização profissional e financeira do professor
Uma das exposições mais empolgantes durante o seminário foi a do professor Yuan Jin Yun. Ele é chinês radicado no Brasil há 20 anos e, atualmente, leciona na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele foi bastante aplaudido quando afirmou que, sempre que perguntam a ele por que deixou a China para dar aulas no Brasil, responde “quero ajudar o Brasil a crescer”. Segundo Yuan, na China, a formação dos professores de Matemática é muito boa. Ele acredita que é importante investir em todo tipo de atividade destinada a popularizar a matemática e defende que os alunos tenham pelo menos 6 horas de aulas de matemática por semana. Ele também falou sobre a necessidade de formação e valorização do professor. “Na Coréia do Sul, quem tem maior salário é o professor”, contou. Para Yuan, não dá para diminuir orçamento para a Educação e nem para a Ciência. 

Outro participante que também fez uma importante defesa do papel do professor de Matemática foi Charles Pimentel, da Escola SESC de Ensino Médio do Rio de Janeiro. Ele afirmou o professor é importantíssimo mas que a formação desse profissional na área da Matemática hoje no Brasil é precária. “É preciso preparar o professor para estar em sala de aula” disse ao garantir que a ferramenta do professor é a formação. Pimentel não tem dúvida de que o futuro do ensino da Educação tem que começar imediatamente.

Reportagem: Claudia Brasil


Veja aqui como foi o seminário.


Convidados:
SUE POPE - Doutora e Diretora Associada do Departamento de Desenvolvimento Profissional e Inovação Educacional da Universidade de Manchester – Inglaterra - Apresentação

JOÃO BOSCO PITOMBEIRA F. CARVALHO - Doutor e Professor credenciado do programa PROFMAT da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

KÁTIA STOCCO SMOLE - Doutora em Educação pela USP na área de Ciências e Matemática e Diretora do Grupo Mathema - Apresentação

ULICIO PINTO JUNIOR - Mestre em Matemática pela UFRJ e Coordenador de Matemática da Escola SESC de Ensino Médio - Rio de Janeiro - Apresentação

MAARIT ROSSI - Finalista do "Global Teacher Prize" 2016, Professora e Fundadora do Paths to Math - Finlândia - Apresentação

YUAN JIN YUN - Doutor em Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e Professor Titular da Universidade Federal do Paraná – UFPR - Apresentação

CHARLES SOARES PIMENTEL - Mestre em Informática pela UNIRIO e Professor de Matemática da Escola SESC de Ensino Médio - Rio de Janeiro - Apresentação

ARTUR AVILA - Ganhador da Medalha Fields, Doutor e Pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada - IMPA e do Centro Nacional de Pesquisa Científica - CNRS- França