Recuperação da indústria depende do câmbio, financiamento e produtividade

Estamos jogando fora o esforço feito para industrializar o país nas décadas de 60 e 70, concluiu Mario Bernardini, diretor da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos em audiência promovida pela Cdeic. Pelos números apresentados pela Abimaq, a indústria brasileira foi reduzida a menos de 10% do PIB. “Esse ano devemos fechar em 9,4 % do PIB. Pedir que nesse patamar a indústria seja responsável pela modernização do país é pedir muito”, afirmou.
28/10/2015 17h50

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Recuperação da indústria depende do câmbio, financiamento e produtividade

Recuperação da indústria brasileira esteve em çpauta

A recuperação industrial brasileira depende de fatores favoráveis. A produtividade é apontada como saída para crescer, afirmou Bernardini. “São condições para que a indústria no país volte a crescer e assumir um patamar de 15%. O crescimento da indústria vai demandar serviços de qualidade, que por sua vez ampliará a produtividade, e passa a ter mais peso no PIB”.

A produtividade dos serviços é baixa no país, informou o representante da Abimaq.   “A produtividade do trabalhador brasileiro é um quarto da produtividade do trabalhador americano ou japonês, que não são mais inteligentes do que o brasileiro, apenas têm quatro vezes mais recursos produtivos a sua disposição”, disse Bernardini.

Outra condição necessária para a retomada da indústria é o câmbio favorável por um longo período. Para o diretor da Abimaq, apenas nos três últimos meses o câmbio esteve favorável à indústria. Segundo ele, a indústria brasileira perdeu bilhões de reais com o câmbio nas últimas décadas. 

Juros competitivos e financiamento a um custo favorável são outras duas condições básicas para o crescimento do parque industrial. Essas duas condições deixaram de existir na política econômica atual, afirmou. ”O BNDES emprestava recursos a 8%. Agora tem a Finame que custa 13% ou 14%.”

Para Humberto Barbato, representante da Confederação Nacional da Indústria, o país precisa reforçar programas de incentivo à renovação de seu parque industrial envolvendo estímulos fiscais e financiamento priorizando bens de capital nacionais. ”Teríamos aumento de produtividade da indústria e demanda por bens de capital fabricados no país”.

O Brasil precisa ainda fomentar a competitividade tecnológica, defendeu Barbato. “É preciso investir em instrumentos de apoio, como pesquisa e inovação. Precisam estar alinhados às empresas e estratégias de desenvolvimento”.

Barbato também ressaltou a necessidade do financiamento adequado. “O financiamento competitivo é fundamental para quem quer ter indústria. É consequência da concorrência internacional”.  

O desembolso de recursos para a indústria tem sido crescente nos últimos anos, disse Mauricio Neves, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).  Financiamento aos setores da indústria, aquisição de produtos industriais nacionais e fomento à inovação foram os segmentos citados.  

O superintendente da área industrial do banco destacou que para o empresário a combinação de instrumentos financeiros em parceria com a iniciativa privada pode ser mais eficiente do que o financiamento por uma linha de crédito tradicional.

Ainda sobre o financiamento, Neves defendeu a proposta de que “o crédito apenas não vai resolver, é preciso construir a previsibilidade da política pública”.

Carlos Gadelha, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, disse que “a exportação é parte de uma estratégia de dinamização do setor industrial do país. O Brasil tem espaço imenso de crescimento, de exportar para fora e exportar para dentro. O desenvolvimento regional é fronteira de oportunidade”. 

Para o representante do MDIC, a industrialização atenua a vulnerabilidade externa.

Entre as linhas de atuação do Ministério, ele citou a modernização de máquinas e equipamentos, o aprimoramento do ambiente de negócio, a redução de custos industriais, o fortalecimento do país nas cadeias produtivas internacionais e a questão do investimento. 

O presidente da CDEIC, deputado Júlio Cesar, destacou sua preocupação com a possível redução de investimentos do BNDES neste ano. Pelos cálculos que fez, existe a possibilidade de o investimento do banco recuar em  R$ 60 bilhões diante do valor de R$ 188 bilhões no ano anterior. Para Mauricio Neves, do BNDES, o investimento do BNDES ao final do ano deve alcançar cerca de R$ 160 bilhões.   O presidente da CDEIC destacou ainda o volume de recursos aplicados pelo banco de investimento na região Sudeste (62%), bem distantes dos recursos destinados ao Nordeste (11%) e à região Norte (5%).