Professor Marcos Formiga discute o papel da educação na economia
Em sua palestra, o professor Marcos Formiga defendeu o ensino técnico em todos os seus níveis (básico, médio e técnico-tecnológico superior), que seria um conhecimento direcionado e que contribui definitivamente para o aumento da competitividade, apontando para a falta de valorização da modalidade no país, em detrimento dos cursos de ensino superior. O professor defendeu também que o país devia estimular a certificação dos profissionais técnicos, e não a concentração da profissionalização nos graus de regulamentação de profissões.
Outras modalidades de ensino defendidas pelo palestrante foram a Educação a Distância (EAD) e a Educação Aberta, áreas largamente subutilizadas pelo país, e que conferem maior flexibilidade de tempo e local à educação. Formiga também ressaltou os problemas enfrentados pela EAD, que sofre por ser tratada, no que tange à legislação e à regulamentação, de acordo com os padrões de educação tradicional, apesar de se caracterizar justamente por sua flexibilidade. Segundo ele, nós “vivemos com a educação a distância ameaçada pela burocracia de uma legislação injustificável”.
O professor fez uma análise histórica da educação no Brasil, e destacou que a educação nunca foi tratada como prioridade por governo algum na história do país, o que fica claro pelos indicadores de volumes de investimento no setor e pela deficiência na qualidade em todos os níveis de educação. E este, continua, seria “o calcanhar de aquiles da economia brasileira”, que, apesar de figurar entre as maiores no cenário internacional e ter aumentado seu poder de compra nos últimos anos, peca no fornecimento de serviços básicos como educação e saúde. Para exemplificar tal discrepância, Formiga apresentou dados do Relatório de Competitividade Global 2012/2013, do Fórum Econômico Mundial (FEM), tais como a divergência entre o tamanho da economia, onde o país ocupa a 6ª posição, e o desenvolvimento social, no qual é o 85º colocado. Formiga destacou ainda, que o problema na educação não se restringe a um só nível, atingindo desde o ensino infantil (crianças de 4 a 6 anos), onde as vagas oferecidas contemplam apenas 30% da população na respectiva faixa etária, até o nível superior, onde apresenta um dos mais baixos índices, com apenas 13% da população com grau superior, não chegando sequer à metade da média dos países do Mercosul.
Outro ponto para o qual o professor chamou a atenção foi a evolução da quantidade de jovens com ensino superior que estão desocupados, cujo número passou de 4,3% em 2003, para 9,2% em 2012. Isso se deve , segundo ele, a um problema de distribuição e de planejamento do ensino superior brasileiro, que forma profissionais em excesso em determinadas áreas, como Administração e Direito, e poucos profissionais em áreas chave para a competitividade e inovação, que seriam as de Ciências Exatas, da Natureza e Tecnológica.
Marcos Formiga criticou também as políticas de Educação dos dois últimos governos, ponderando que, ao estabelecerem diversas prioridades, elas acabam por não priorizar de fato nenhuma meta. Outro ponto criticado por Formiga, foi a falta de articulação entre a política de ciência, tecnologia e inovação e a política industrial. Por fim, o professor defendeu que o país deveria se espelhar no exemplo bem sucedido da Alemanha com seu sistema dual, que concilia o ambiente acadêmico e profissional simultaneamente. Formiga ainda apresentou quatro prioridades da Organização Internacional do Trabalho para que se supere o problema de educação no Brasil, são eles: mais e melhor educação; conciliação entre estudo, trabalho e vida familiar; inserção digna e ativa no mundo do trabalho; e o diálogo social.