Falta d’água em São Paulo é fruto de otimismo injustificado, diz ANA

A falta d'água no estado de São Paulo é fruto de tratar com normalidade uma situação que já era crítica no começo do ano de 2014. A opinião trazida à Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio pela Agência Nacional de Águas (ANA).
13/11/2014 13h10

Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Falta d’água em São Paulo é fruto de otimismo injustificado, diz ANA

Debatedores concordaram que situação que já era crítica foi assumida como normalidade.

A reunião, organizada pelo deputado Guilherme Campos (PSD-SP), deveria contar com vários gestores do sistema hídrico paulista, como a secretaria de Recursos Hídricos de São Paulo, e as empresas que gerem o sistema, mas todos alegaram outros compromissos para não virem à Câmara.

Também faltaram representantes do consórcio que gerencia a bacia que abrange os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Esses são os principais rios que abastecem tanto o Sistema Cantareira de Barragens, que abastece a capital paulista, quanto as maiores cidades do interior, na região de Campinas.

"O governo de São Paulo fez uma opção pelos paulistas que moram na capital, e deixaram à míngua os paulistas do interior", desabafou Campos. Segundo ele, pelo menos 35 municípios do estado de São Paulo já decretaram o racionamento de água. A cidade de Itu, por exemplo, sofre há quatro meses com a falta d’água. "Se não houver um dilúvio vai faltar água. A falta com a verdade do governo para enfrentar a crise joga com otimismo para chuvas futuras", disse.

AP em 13.11.14

Chuvas
Pelos dados da ANA, seriam necessários 100 m3 por segundo no sistema, para continuar com a retirada de 23 m3 por segundo. Essa média de chuvas é superior aos máximos históricos mesmo os melhores anos, pelos dados da agência.

Para o diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu Guillo, foi a persistência em olhar para o futuro de maneira otimista que colocou São Paulo numa situação pior do que deveria. “As decisões deveriam ser tomadas num cenário mais conservador, mas o governo de São Paulo agiu como se estivéssemos num período de normalidade, e não estamos”, disse.

Para demonstrar esse otimismo irreal, Guillo mostrou que na justificativa enviada à ANA pela Sabesp, empresa responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 364 municípios do Estado de São Paulo, para utilização do volume morto do Sistema Cantareira, a empresa fez uma projeção de 15 m3 de água entrando nos reservatórios para o período logo posterior, mas na realidade a entrada foi de menos de 4 m3.

“Além disso, não podemos fazer administração do volume morto como se ele não fosse para uso em emergência, isso é a projeção de futuro que se adapta às medidas que estão sendo tomadas no curto prazo”, disse.

Volume morto é o volume de água que está estocado em barragens, abaixo do que é usado para abastecimento compensando tempo de chuva com tempos de seca, que não deveria ser usado. Pelos dados da ANA, o Sistema Cantareira não tem 11% de reserva como anunciado: ele está com 20% negativo do seu volume. “A consequência é que você perde o controle do seu sistema hídrico, e fica dependente exclusivamente do regime de chuvas”, disse. 

Obras
Indagado se as obras que estão sendo feitas serão suficientes para resolver o problema, Guillo disse que, no curto prazo, apenas chuva e medidas restritivas, como racionamento, são possíveis. “Dizer que uma obra que resolve é tirar o foco, porque as obras começam agora mas precisam de dois ou mais anos para entrar em funcionamento. Uma obra que está programada e pode ficar pronta em 9 meses em São Paulo está ligando um rio que está seco a outro que também está seco, ou seja, você depende de chuvas”, disse.

Reportagem – Marcello Larcher
Edição – Rachel Librelon

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